Autor Tópico: Como frabricar explicações para o desconhecido  (Lida 1019 vezes)

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CuritibaCetica

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Como frabricar explicações para o desconhecido
« Online: 08 de Fevereiro de 2007, 20:18:27 »
No texto Um Caminho Abandonado, em anexo, o autor apresenta a Propagação Involuntária de Conhecimento (PIC) como alternativa a explicações sobrenaturais. Com base nessa premissa, são feitas várias conjecturas sobre fenômenos tomados como não explicáveis e que podem ser compreendidos a partir da PIC.

O objetivo é mostrar que existem várias possibilidades de se criar explicações místicas e não místicas àquilo que não podemos compreender. E todas elas têm validade apenas para aqueles que querem acreditar em tais fundamentações filosóficas.

Offline Lint

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Re: Como frabricar explicações para o desconhecido
« Resposta #1 Online: 09 de Fevereiro de 2007, 03:26:22 »
Pô CuritibaCética, podia mandar em um formato legível, oquê você acha? :hihi:




Offline Luis Dantas

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Re: Como frabricar explicações para o desconhecido
« Resposta #2 Online: 09 de Fevereiro de 2007, 03:35:08 »
O arquivo é legível.  Mas já que você pediu vou transcrever:

Citar
O texto a seguir é parte do livro
O Titã na Contramão
de Geraldo Boz Junior

3.7     UM CAMINHO ABANDONADO
Apesar de muito argumentar sobre a incoerência, a inconsistência e a inutilidade das crenças e das explicações místicas para certos “mistérios” não resolvidos pela ciência, o contra-argumento de que “só a existência de deus ou da reencarnação explicam alguns fenômenos” é uma pedra no caminho de quem tenta defender a lógica e a racionalidade. Depara-se normalmente com a pergunta: “Ora, mas se a lógica, a ciência e a razão não explicam tal fenômeno, por que não aceitar uma explicação mística que, afinal, é aceita pela maioria das pessoas?” Isto já está respondido em capítulos anteriores deste texto: o fato de não se ter uma explicação científica cabal para alguma coisa não valida de forma automática qualquer outra explicação. Explicações místicas são válidas apenas para aqueles que se predispõem a acreditar nelas e podem-se criar muitas outras explicações, místicas ou não-místicas, tão improváveis quanto a que se defende como “a única” que explica algum fato.
A hipótese da “Propagação Involuntária de Conhecimento” exposta a seguir foi criada pelo autor para mostrar o quanto é fácil criar explicações improváveis que resolvem qualquer mistério. Seu desenvolvimento, a seguir, é um passeio por vários aspectos do “universo inexplicado” da ciência. As explicações que se dão contradizem a religião, mas também não têm fundamento científico e essa teoria, embora também negue a existência de deus e desmistifique o universo, o faz de maneira tão dogmática que poderia ser a base de uma nova quase-religião com uma lógica perfeitamente consistente, porém totalmente irrefutável e improvável assim como as crenças místicas.
Mesmo admitindo-se que o pensamento de um ser resulta unicamente de processos eletro-bioquímicos que ocorrem no cérebro, deve-se admitir também que o pensamento não fica confinado ao ser, mas se transmite de várias formas. As formas voluntárias de comunicação são geralmente objetivas e sensoriais. O melhor e mais típico exemplo desse tipo de comunicação é a fala. Existem, entretanto, formas involuntárias de transmissão de informações. São formas normalmente subjetivas e eventualmente não sensoriais. A linguagem do corpo, por exemplo, é uma forma de transmissão involuntária e subjetiva de informações em que normalmente nem o transmissor nem o receptor da informação se dão conta de que uma comunicação está ocorrendo (além de subjetiva, essa comunicação pode ser subconsciente). Pode-se perceber que uma pessoa está impaciente, por exemplo, sem que essa pessoa tenha feito qualquer esforço para demonstrar esse fato. Pode-se sentir simpatia (ou antipatia) automática por alguém, sem que se tenha um motivo razoável para isto. Hoje se sabe que o ser humano tem um sensor de feromônios no nariz que é responsável por essa sensação, que até pouco tempo era considerada pura intuição. Trata-se, portanto, de uma comunicação não-sensorial, ou extra-sensorial, além de subjetiva e subconsciente.
A hipótese é a seguinte:
“O pensamento se transmite de forma telepática sem que o transmissor tenha qualquer controle consciente sobre o conteúdo, ou o momento, ou a intensidade, ou a direção, ou qualquer outra característica da transmissão. Da mesma forma, o receptor não tem controle sobre quando receber ou não essas informações nem quando (ou se) terá acesso consciente a elas.”
A isto se daria o nome de “Transmissão Involuntária de Pensamentos”. Esta hipótese tem muitas variantes e cada uma delas tem implicações no mínimo interessantes.
3.7.1   Explorando o caminho
Para ilustrar uma possibilidade, pode-se imaginar uma pessoa que caminhe por determinada rua e passa próxima de várias outras pessoas. A transmissão involuntária de pensamento poderia (ou não) estar ocorrendo entre essa pessoa e qualquer uma das que cruzassem com ela. Imagine-se então que essa pessoa estivesse transmitindo constantemente uma melodia (como eventualmente acontece de determinada música parecer repetir-se na mente durante períodos de tempo). Algumas pessoas que houvessem passado por perto receberiam esse pensamento e possivelmente começariam a cantarolar a mesma música, caso a conhecessem. Um músico que passasse por perto e não conhecesse a melodia provavelmente passaria a compor uma música semelhante.
Menos evidente e mais importante é outra implicação: algumas pessoas poderiam receber o pensamento, mas não trazê-lo ao nível consciente imediatamente. Se essa pessoa fosse o compositor, talvez a influência da recepção desse pensamento só fosse acontecer dali a algumas horas, quando o músico tentasse compor alguma coisa. Talvez isto não demorasse apenas algumas horas, mas alguns dias, alguns anos.
Ainda menos evidente e mais importante é o fato de que aquele pensamento (a melodia, no caso) manter-se-ia subconscientemente na memória do músico durante um tempo desconhecido (desde alguns segundos até sua vida inteira, não se pode saber). Estando disponível na memória, mesmo que o dono da memória não tenha consciência disto, esse pensamento pode vir a ser retransmitido pela pessoa que o havia recebido, já que não se tem qualquer controle sobre o que é transmitido. Dessa forma, o músico que recebeu o pensamento talvez nunca venha a ter consciência dele, mas pode passar o restante de sua vida a transmiti-lo, de vez em quando, a outras pessoas. Essa seqüência de transmissões involuntárias permitiria que um pensamento original fosse transmitido e retransmitido indefinidamente para uma quantidade exponencialmente crescente de pessoas. Se o pensamento não fosse esquecido, depois de um certo tempo haveria uma possibilidade muito grande de ele estar presente em todas as mentes do planeta. A isto se daria o nome de “Propagação Involuntária de Conhecimento”.
Este tipo de propagação não é invenção deste autor. Propagações não-telepáticas desse tipo ocorrem até com informações de computadores, através de programas conhecidos como “vírus”. O nome se deve à analogia vírus biológicos, que também se propagam através de pessoas que podem não estar conscientes de sua condição de portadores ou propagadores.
É bom que se ressalte que a propagação continua ao longo do tempo e que, além de poder se propagar “geograficamente”, um pensamento gerado agora pode estar se propagando daqui a um minuto, ou daqui a um dia, ou daqui a séculos (com ou sem o consentimento consciente dos “portadores” de tal pensamento).
Um dado importante sobre essa transmissão de pensamentos é que ela não se daria através de meios convencionais como ondas eletromagnéticas, ou qualquer outro conhecido atualmente. Não haveria como fazer um estudo experimental sobre essas transmissões. O que resta, então, são mais teorias e hipóteses que se fundamentam na hipótese inicial (assim como toda a cadeia de hipóteses sobre a alma, explorada no item 3.5. Algumas perguntas podem ser feitas sobre a forma dessas transmissões: A comunicação se daria sempre com a mesma facilidade ou haveria algum fator que pudesse facilitá-la ou dificultá-la? A distância física entre transmissor e receptor teria alguma influência? Caso afirmativo, pessoas mais próximas do transmissor seriam as mais afetadas, as que receberiam melhor a informação transmitida. Mas e se a distância física não for importante - afinal, se o meio de transmissão não é conhecido, não se pode determinar o quanto uma mensagem telepática é atenuada ao longo de distâncias, se é que se atenua. Caso se atenue, ainda assim pode ser que a mensagem se atenue para a metade da intensidade a cada metro, ou a cada quilômetro, ou a cada ano-luz, não se sabe. Se a intensidade cair pela metade a cada metro, então só pessoas muito próximas poderiam receber pensamentos transmitidos. Se a intensidade cair pela metade só a cada ano-luz, então todas as pessoas do planeta estariam expostas às transmissões de cada indivíduo.
A afinidade psíquica entre transmissor e receptor tem alguma influência? Caso afirmativo, haveria mais facilidade de comunicação entre pessoas com a mesma formação, ou a mesma religião, ou ainda a mesma doença. Uma pessoa poderia se predispor (consciente ou subconscientemente) a transmitir informações enquanto outra se predisporia a recebê-las? Isto permitiria a comunicação consciente como alguns espetáculos de mágica parecem indicar.
Seria em função de haver afinidade genética entre transmissor e receptor? Afinidade genética significaria maior probabilidade de que os cérebros do transmissor e receptor trabalhem em “freqüências” mais facilmente compatíveis, numa comparação com comunicações radiofônicas. Isto, então, facilitaria a comunicação entre irmãos gêmeos, parentes próximos, etc.
Haveria fatores externos que poderiam facilitar ou dificultar a comunicação? Manchas solares, as fases da lua, o signo ascendente, a proximidade de pessoas que estejam transmitindo interferências como sentimentos negativos, a temperatura da água no triângulo das Bermudas, poluição, falta de vitamina B12, etc., etc., etc. Como não se pode levar a cabo um experimento, qualquer dessas alternativas é igualmente provável (aliás, improvável).
Como a natureza da transmissão do pensamento é totalmente desconhecida, pode-se, num arroubo de imaginação, especular sobre sua propagação no tempo. Normalmente o pensamento se propagaria de forma semelhante às ondas de rádio, mas, devido à sua natureza diferente, dadas algumas condições (não se sabe quais), o pensamento poderia voltar no tempo. Poder-se-iam receber hoje pensamentos que só serão gerados daqui a vários anos. Um pensamento gerado hoje poderia ser recebido no século passado. Pura especulação, mas vai servir aos propósitos de abrangência desta hipótese.
Outras perguntas interessantes: só seres humanos geram e recebem pensamentos? Haveria comunicação entre espécies diferentes? Um cachorro não poderia receber pensamentos humanos e mantê-los (mesmo que obviamente incompreendidos) em sua mente subconsciente? Não poderia, então, retransmití-los posteriormente?
Será que apenas memórias de fatos reais são transmitidas ou será que fantasias e situações puramente imaginárias são igualmente comunicáveis? Neste caso, será que o receptor poderia discernir entre memórias de fatos reais e puras fantasias?
O que poderia ser transmitido? Seriam apenas impressões sensoriais como uma melodia, perfumes, imagens ou se transmitiriam igualmente emoções como medo ou amor? E conceitos, como modelos atômicos, campos gravitacionais ou liberdade individual? E habilidades, como nadar ou tocar piano? Não seria igualmente transmissível toda a personalidade de alguém (suas memórias, suas emoções, sua identidade, tudo)? No caso, o transmissor não perderia sua personalidade, assim como quem transmite uma melodia não esquece essa melodia. Alguém que transmitisse toda sua personalidade estaria transmitindo apenas uma espécie de cópia, de reprodução de suas características, sem perdê-las, é claro.
Que espécies de distorções uma mensagem telepática poderia sofrer? Parece natural que o transmissor já poderia transmitir informações deturpadas segundo seu próprio entendimento ou grau de lembrança da mesma. Lembranças parciais ou compreensão precária do que se transmite poderiam levar a deturpações sucessivas, semelhantes a uma brincadeira de “telefone sem fio”. As imagens vistas e transmitidas por um daltônico, por exemplo, seriam transmitidas com deturpações desde sua fonte. Além disto, poderia haver fatores externos que afetem comunicações telepáticas de forma análoga ao surgimento de “fantasmas” ou “chuviscos” numa imagem de televisão. A proximidade de outros emissores, pirâmides, ou qualquer outra coisa poderia ser uma fonte de “interferência” na comunicação. O receptor, por sua vez, talvez também manipule a informação (mesmo subconscientemente) de acordo com sua compreensão do universo. Alguém que recebesse um pensamento com mensagens em língua desconhecida, talvez transforme a mensagem num amontoado de sons sem sentido em qualquer língua, antes de retransmiti-lo.
Haveria alguma seletividade (mesmo subconsciente) do conteúdo das transmissões? Se alguém está como fome, será que passa a transmitir pensamentos sobre comida automaticamente? Se alguém está pensando em outra pessoa, será que automaticamente dirige suas transmissões telepáticas para essa pessoa?
3.7.2   Déjà-Vu
Caso se admitam respostas positivas para essas questões (mesmo que apenas para algumas delas), podem-se “resolver” muitos mistérios, admitindo-se que os mistérios realmente existam, é claro:
·   A telepatia estaria não só admitida, mas seria a base de toda essa “ciência”. Sob este enfoque, não seria difícil explicar que certas pessoas tivessem (por motivos desconhecidos) capacidades anormalmente grandes de captar pensamentos de outras pessoas. A cartomante descrita no item Erro! A origem da referência não foi encontrada. poderia ser capaz de captar pensamentos transmitidos involuntariamente por seus interlocutores. A própria cartomante, entretanto, poderia não ter noção alguma de como o processo ocorre. Ao integrar as informações recebidas com o restante de seus conhecimentos e crenças, a cartomante poderia chegar à conclusão de que está vendo seu futuro mostrado pela alma de um guia espiritual qualquer, quando na verdade está vendo a imagem de uma fantasia ou de uma preocupação do “cliente”.
·   Segundo o espiritismo, quando acontece de alguém ver uma paisagem pela primeira vez e ter a forte impressão de que já a conhecia, isto seria porque a pessoa teria conhecido essa paisagem em outra encarnação. A propagação involuntária de conhecimento, explicaria esse mistério de forma diferente: a paisagem estaria no subconsciente da pessoa, que a teria recebido anteriormente (mesmo que muitos anos antes) e essa memória só teria aflorado à memória consciente quando a pessoa realmente viu a paisagem. Essa pessoa pode ter recebido a imagem de uma outra pessoa que realmente tenha visto a paisagem. Note-se, entretanto, que a pessoa pode apenas ter recebido uma imagem que lhe foi transmitida por uma pessoa que a havia recebido de uma terceira pessoa, que por sua vez a recebera de uma quarta, que por sua vez... Enfim, a imagem que estava na memória da primeira pessoa pode ter viajado através de muitos portadores e ao longo de muito tempo até ser identificada. Segundo esse enfoque, nem almas, nem reencarnação seriam necessárias para explicar o fenômeno.
·   Através da hipnose, muitos afirmam conseguir ativar um processo de “regressão”, pelo qual o paciente volta às lembranças de sua juventude, de sua infância, da época em que se encontrava ainda no útero materno e... de suas encarnações anteriores. Com relação a essa última etapa da regressão, e provavelmente também em relação à fase intra-uterina, a propagação involuntária de conhecimento teria outras explicações: As imagens e até as individualidades que o paciente tem na mente (e que o hipnotizador e hipnotizado podem interpretar como relacionadas a encarnações anteriores) não seriam nada além de informações recebidas involuntariamente. Essas informações podem, eventualmente, remontar a épocas há muito passadas. Note-se que as imagens e personalidades teriam sido transmitidas por pessoas vivas. As imagens e personalidades também teriam se propagado através de pessoas vivas. O fato de alguma imagem ou personalidade estar sendo trazida a uma mente consciente, por hipnose, apenas depois de alguns séculos de sua geração seria absolutamente normal. Não haveria almas nem reencarnações nesta explicação.
·   A mediunidade seria outro equívoco de interpretação de um fato real. O médium espírita não estaria encarnando almas desencarnadas, mas apenas dando voz a cópias de personalidades que eventualmente se instalaram em sua mente. O médium seria alguém com uma capacidade anormalmente grande de captar comunicações telepáticas que contivessem personalidades. Outra possibilidade é a do médium ser capaz de criar personalidades assim como um autor cria personagens num romance. Pode ocorrer, por exemplo de um médium “incorporado” conversar com uma pessoa e conseguir deixá-la convencida de que falava com algum parente morto. Ora, mesmo que o médium nunca tenha conhecido tal morto, a personalidade deste pode lhe estar sendo transmitida durante o “trabalho” exatamente pela pessoa que o conheceu e que está conversando com o médium. O fato de alguns médiuns mostrarem habilidades anormais quando “incorporando” artistas, por exemplo, seria apenas uma “prova” de que habilidades e conceitos podem ser transmitidos pelo processo de propagação involuntária de conhecimento. O termo “incorporar”, no caso, não estaria incorreto, pois o médium realmente está vivendo outra personalidade... A diferença é que, nesta interpretação não existem almas nem reencarnações.
·   Uma variante da mediunidade seria a loucura. Se uma pessoa é capaz de captar pensamentos contendo personalidades e se essa pessoa tem um preparo ideológico (religioso) que condiz com a presença dessas individualidades, ela se torna médium, cartomante, pai-de-santo ou coisa que o valha. Por outro lado, nada impediria que uma pessoa captasse tais pensamentos e trouxesse-os à tona de sua consciência sem que isto tivesse relação com qualquer de suas crenças ou conhecimentos. Dependendo da pessoa, essa experiência poderia ser reconhecida como uma inspiração para um novo personagem, como uma fantasia, como um acesso de loucura, como caso de dupla personalidade, como possessão demoníaca ou comunicação de extraterrestres. Tudo não passaria de telepatia e de memorização subconsciente. As variações de pessoa para pessoa é que determinariam se o processo cria um grande médium ou um “napoleão” de hospício.
·   As chamadas “viagens astrais” seriam outro caso em que a propagação involuntária de conhecimento traria novas luzes à realidade. Entende-se por viagem astral o desprendimento da consciência em relação ao físico, ou seja, uma pessoa pode estar sentada em seu quarto enquanto sua consciência viajaria livremente para outros locais. Há muita gente que afirma poder fazer tal coisa (e há multidões intermináveis que compram seus livros na esperança de repetir suas façanhas). Os que afirmam isto, normalmente associam sua capacidade a coisas como “desenvolvimento espiritual”, “guias”, “anjos”, fidelidade absoluta aos preceitos de alguma religião e coisas do gênero. A propagação involuntária de conhecimento diria que se trata apenas de “viagens” através de memórias adquiridas involuntariamente e que se encontram a nível subconsciente. Outra explicação, já que se admite a telepatia, seria a “viagem” até a mente de outras pessoas e a captação de suas sensações em tempo real, ou seja, não o acesso às memórias de alguém, mas às suas sensações do momento. Apesar de tudo, todas essas explicações seriam condizentes com a crença de que a individualidade está no cérebro. Não haveria individualidades desencarnadas assim como não há voz sem que haja uma boca para emiti-la.
·   Os crentes gostam muito de exaltar o poder das orações. A propagação involuntária de conhecimento teria algumas considerações a fazer: a prece seria uma forma de canalizar a transmissão de pensamentos. Dependendo do caso, o pensamento poderia influir nas decisões de outras pessoas, fazendo com que se realize algo próximo do desejo de quem rezou. Preces de agradecimento teriam mais efeito sobre o próprio orador, dando-lhe um certo bem-estar por ter agradecido, o que lhe tiraria culpas e pesos da consciência. Obviamente, esta versão não inclui um deus ouvindo preces e realizando intervenções no universo segundo pedidos de suas criaturas. Dessa forma, tudo depende das pessoas. Por mais que uma torcida reze, isto não garante a vitória de seu time, por exemplo. Por mais que se reze não se eliminam doenças incuráveis. Aliás, as curas “místicas” têm relação íntima com o poder das orações. Admitindo-se que elas realmente existam, tudo que a teoria da propagação involuntária do conhecimento teria a fazer é estender um pouco mais seu alcance. Basta agregar à teoria a hipótese de que o pensamento não apenas se propaga, mas que pode “atuar” no mundo físico. Haveria, então pessoas que por treinamento, hereditariedade ou condições externas conseguiriam transmitir pensamentos que por si só fariam coisas no mundo físico. Isto, além de explicar as curas místicas, explicaria uma outra série de mistérios como a telecinésia (movimentar objetos com a força do pensamento), o surgimento de fogo na cama de pessoas (coisa já divulgada em telejornal em rede nacional), aparições de fantasmas e até de discos-voadores. Todas estas explicações baseiam-se apenas na crença da existência de uma capacidade natural das pessoas de transmitir pensamentos e de que esses pensamentos eventualmente possam agir fisicamente. O mundo continuaria sendo dos vivos (sem duplo sentido). Não haveria entidades sobrenaturais, nem outras dimensões, nem vida que não fosse biologicamente viva, nem deus.
·   Para finalizar, faça-se uma última reinterpretação: deus. Segundo a propagação involuntária de conhecimento não existe deus, nem existem almas, nem existe vida após a morte. O que as pessoas chamam de deus seria apenas uma versão telepática do “inconsciente coletivo” de Jung. Por ser telepático, esse coletivo teria realmente algumas qualidades de deus, como a onipresença e a onisciência. Por ser de origem puramente humana, esse coletivo teria características humanas como a bondade e a justiça. Isto explicaria algumas incoerências de deus (apontadas no item Erro! A origem da referência não foi encontrada.). é claro, que esse deus (o telepático inconsciente coletivo), embora pudesse existir, não seria nem um pouco parecido com o deus das religiões. Não seria sequer digno de ser cultuado, pois seria apenas o resultado da somatória das consciências humanas (e, quem sabe, das não-humanas também). Esta explicação, entretanto ainda não responderia uma questão importante para os crentes: a criação do universo e da vida. Bem, basta extrapolar a teoria, como sempre. Ora, se estamos evoluindo ao longo de milhões de anos, esse inconsciente coletivo estaria evoluindo também. Num futuro distante, daqui a bilhões de anos talvez, o cérebro humano terá atingido tal ponto de evolução que a transmissão telepática de informações provavelmente deixará de ser involuntária para se tornar o meio usual (e voluntário) de comunicação. Nesta altura, o inconsciente coletivo estaria desenvolvido a um ponto tal que é impossível imaginar todas suas potencialidades. Ora, já se teria admitido que pensamentos podem voltar no tempo e que também podem atuar no mundo físico. A junção telepática de todas as mentes do universo seria uma entidade tão poderosa que não lhe seria muito difícil fazer as duas coisas simultaneamente, ou seja, voltar no tempo até a época em que o universo não existia e então criar o universo (!!!). Note-se que esse eterno recriar de universos não se daria seqüencialmente ao longo do tempo, mas, devido à volta no tempo, ocorreria “paralelamente”. Seriam o que se chamam de universos paralelos. O problema é que o processo de modificar o começo da história faria com que o universo atual deixasse de existir, incluindo o (in)consciente coletivo que reiniciou o processo. Toda a história seria recontada, do começo. Não seria, contudo, a repetição da mesma história, mas um recomeço independente, sujeito a todas as incertezas e possibilidades de uma evolução não guiada. Seriam necessários novos bilhões de anos para a formação de planetas, para a criação da vida, para o surgimento da inteligência, da telepatia e de um novo deus (ou inconsciente coletivo telepático). Esta teoria compatibilizaria as tradições ocidentais e orientais a respeito de cosmogênese. O universo realmente teria um começo e um final, como é comum se acreditar no ocidente. Antes do começo não haveria nada. Depois do final também não haveria coisa alguma, pois, devido à volta no tempo, o reinício se daria no passado e não no futuro. Esses infinitos reinícios estariam de acordo com as tradições orientais sobre a história do universo. O inconsciente coletivo seria a o resultado da soma das inteligências do universo. Esse deus seria o deus panteísta, um deus-conseqüência. No que diz respeito à próxima recriação do universo, entretanto, esse inconsciente coletivo seria o criador, seria o deus-causa, a causa primária. Enfim, uma explicação que conseguiria agradar crentes e ateus, orientais e ocidentais, gregos e troianos.
Entretanto, toda esta construção tem características de irrefutabilidade semelhantes às de qualquer misticismo. Por que não foi usada em lugar da construção toda povoada de deuses e almas? Uma resposta possível é que a propagação involuntária de conhecimento não tem seres superiores e não dá a oportunidade de se criarem castas de sacerdotes que serviriam para intermediar a comunicação entre deuses e simples mortais. Outra resposta é que esta teoria não oferece o consolo de uma vida pós-morte nem um objetivo místico para a vida. Ainda outra explicação, é que esta teoria não facilita a imposição de padrões de comportamento baseados em mandamentos divinos. Enfim, pode ser ainda, que se trate de uma teoria realmente inédita, mas essa opção tem probabilidade muito pequena de ser verdadeira.
Muita fantasia? Depois de desenvolver esta fantasia independentemente, este autor descobriu algumas coisas interessantes. Há uma tendência na física moderna para se considerar a informação como um elemento fundamental da natureza (assim como a matéria, quantidade de movimento, energia, etc.). A teoria da informação foi iniciada por Claude Shannon, um engenheiro eletricista norte-americano, preocupado com os problemas das transmissões de mensagens telegráficas. Essa teoria vem se desenvolvendo e, segundo Mário Schenberg, físico brasileiro, parece que será de grande importância para o futuro da física. Há uma outra coisa: a teoria da propagação involuntária do conhecimento mostra um mundo essencialmente probabilístico, com acontecimentos se sucedendo de forma aleatória, casual. Isto porque não admite um deus regendo destinos, determinando o futuro. Albert Einstein, além de grande físico, foi também um homem que ajudou a divulgar seus ideais políticos e filosóficos. Aparentemente, ele acreditava em um deus que determinasse cada passo de cada partícula do universo. Todo seu estudo e sua pesquisa se voltaram para descobrir regras determinísticas para a física, pois, segundo ele, “deus não joga dados”. De Einstein até hoje a física tem se desenvolvido enormemente, desvendando aos poucos os mistérios sobre a história e a constituição do universo. Pois bem, todo o desenvolvimento da física, no século XX, tem se dado com base na mecânica quântica, que é uma teoria essencialmente probabilística, ou seja não-determinística. Stephen Hawking, o físico mais famoso de nossos dias, provavelmente também acredita em deus, mas já sentenciou que “deus não apenas joga dados, mas o faz até mesmo onde menos se espera”. Deve-se notar que o desenvolvimento da ciência e da tecnologia não está evidenciando nenhuma inteligência que comande cada picuinha do universo. Ao contrário, o universo se mostra cada vez mais claramente como definido por um conjunto pequeno de regras absolutamente gerais, impessoais e amorais. é interessante citar, neste ponto, que “Einstein parecia se opor ao probabilismo essencial da teoria quântica porque estava convicto de que ela conduziria a fenômenos do tipo telepático”, segundo Mário Schenberg, em seu livro “Pensando a Física”. Seria então a Propagação Involuntária de Conhecimento apenas fantasia?
Pura fantasia ou não, certamente haverá aqueles que gostarão dessas idéias. é bom deixar claro que esta teoria é tão recomendável quanto qualquer outro misticismo. Pode-se até acreditar nela, mas construir uma filosofia de vida baseada neste conjunto de hipóteses irrefutáveis é tão ruim quanto basear a vida numa filosofia que inclua gnomos e fadas, ou então deuses e demônios.
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Em 18 de janeiro de 2010, ainda não vejo motivo para postar aqui. Estou nos fóruns Ateus do Brasil, Realidade, RV.  Se a Moderação reconquistar meu respeito, eu volto.  Questão de coerência.

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Re: Como frabricar explicações para o desconhecido
« Resposta #3 Online: 09 de Fevereiro de 2007, 08:37:57 »
Eu me referia a um padrão legível, tipo PDF ou plaintext, não tenho Office nessa máquina e só lembrei agora que o wordpad abre (um ou outro) documento do Word :vergonha:

De qquer forma, valeu! :hihi:




Offline Lint

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Re: Como frabricar explicações para o desconhecido
« Resposta #4 Online: 09 de Fevereiro de 2007, 09:02:56 »
Bacana, me lembra um pouco o Design Inteligente, que supostamente deveria ser ensinado nas escolas por ser "completamente plausível"... A história da telepatia como diz o texto também é totalmente plausível, dado que não se pode manipular ou nem mesmo detectar a existência desses pensamentos, agora só falta o Marotinho querendo ensinar isso pros coitados dos cariocas!




 

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