Autor Tópico: Cibercultura  (Lida 1897 vezes)

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Offline Adriano

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Cibercultura
« Online: 18 de Fevereiro de 2007, 18:33:22 »
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Cibercultura - Pierre Lévy

De acordo com Levy, antes da popularização da internet o espaço público de comunicação era controlado através de intermediários institucionais que preenchiam uma função de filtragem entre os autores e consumidores de informação. Hoje, com a internet quase todo mundo pode publicar um texto sem passar por uma editora nem pela redação de um jornal. No entanto, essa liberdade de publicações que a internet oferece, acarreta no problema da veracidade, da garantia quanto a qualidade da informação. A cada minuto, novas pessoas assinam a Internet, novos computadores se interconectam, novas informações são injetadas na rede. Quanto mais o ciberespaço se estende, mais universal se torna. Novas maneiras de pensar e de conviver estão sendo elaboradas no mundo das telecomunicações e da informática.

Segundo o filósofo, “as redes de computadores carregam uma grande quantidade de tecnologias intelectuais que aumentam e modificam a maioria das nossas capacidades cognitivas”, ou seja, o computador é um instrumento de troca, de produção e de estocagem de informações, tornando-se desta forma, um instrumento de coloboração. A televisão, ao contrário, para Lévy, é um meio de comunicação passivo, pois não proporciona ao receptor nem troca de informação, nem interatividade, pois ao assistir uma programação na TV, o receptor apenas absorve as informações, mas não consegue interagir com o emissor.

Lévy afirma ainda que “a comunicação interativa e coletiva é a principal atração do ciberespaço”. Isso ocorre porque a Internet é um instrumento de desenvolvimento social. Ela possibilita a partilha da memória, da percepção, da imaginação. Isso resulta na aprendizagem coletiva e na troca de conhecimentos entre os grupos.
Fonte: Wikipédia

Qual a sua opinião? Já conhecia essa perspectiva? O que muda com o estudo da cibercultura e do ciberespaço?
« Última modificação: 18 de Fevereiro de 2007, 18:44:14 por Adriano »
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Offline Adriano

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Re: Cibercultura
« Resposta #1 Online: 25 de Fevereiro de 2007, 16:27:26 »
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Inteligência coletiva é um conceito surgido a partir dos debates promovidos por Pierre Lévy sobre as tecnologias da inteligência, caracterizado por um novo tipo pensamento sustentado por conexões sociais que são viáveis através da utilização das redes abertas de computação da Internet. A própria Wikipédia é uma exemplar da manifestação desse tipo de inteligência, na medida em que permite a edição coletiva de verbetes e sua hipervinculação (links hipertextuais).

São também caraterísticas da inteligência coletiva o uso da interatividade, das comunidades virtuais, dos fóruns, dos weblogs e wikis para construir e disseminar os saberes globais, baseados no acesso à informação democratizada e sua constante atualização. Assim as produções intelectuais não seriam apenas exclusivas de uma pessoa, país ou classe social isolada, mas dos crescentes coletivos que têm acesso à Internet.

Segundo essa perspectiva, o professor do futuro desempenha o papel de estimular os alunos, facilitando a troca de informações e a construção do conhecimento a partir do debate e da crítica, aprendendo e ensinando simultaneamente. Com as ferramentas da Internet, fica cada vez mais fácil lançar mão desses recursos para ampliar (no tempo e no espaço) a inteligência coletiva.

Como resultado de uma mobilização e integração dos conhecimentos globalmente dispersos, a inteligência coletiva tende a desconcentrar os poderes e valorizar a participação de cada indivíduo, resultando daí o reconhecimento e o enriquecimento cultural de todos.

Mais informações sobre Inteligência Coletiva ver Lévy, Pierre: "A inteligência coletiva". São Paulo: ed. Loyola, 1998.

A interconexão generalizada entre as pessoas tem chamado a atenção de muitos teóricos.

Temas como “inteligência emergente” (Steven Johnson), “coletivos inteligentes” (Howard Rheingold), “cérebro global” (Francis Heylighen), “sociedade da mente” (Marvin Minsky), “inteligência conectiva” (Derrick de Kerckhove), “redes inteligentes” (Albert Barabasi), “inteligência coletiva” (Pierre Lévy), “capital social” (James Coleman e Robert Putnam) são cada vez mais recorrentes nas análises e debates sobre que apontam para uma mesma situação: estamos em rede, interconectados com um número cada vez maior de pontos e com uma freqüência que só faz crescer.

A partir disso, torna-se claro que podemos hoje compreender muito melhor a atividade de uma coletividade, a forma como comportamentos e idéias se propagam, o modo como notícias afluem de um ponto a outro do planeta etc.”(Rogério da Costa, 2004). Dessa forma, decisões individuais e coletivas parecem estar chamando cada vez mais a atenção dos estudiosos de redes sociais, dos sociólogos, dos especialistas em gestão do conhecimento e da informação, enfim, de todos aqueles que pressentem que há algo de novo a ser investigado, que a interação coletiva pode ser compreendida dentro de uma certa lógica, dentro de certos padrões, que emergem juntamente com os dinamismos inerentes aos processos de coletivização cada vez mais abrangentes tanto em modalidades quanto em ritmos. Estudar o entrelaçamento de conexões, explorando os limites conceituais e os diversos significados da ação coletiva (afluente), em sua história e nas perspectivas atuais das quais se reveste, envolve um processo de estabelecimento dos sentidos das proposições nas idéias de compartilhar/colaborar na produção de idéias, através da interdisciplinaridade. Evidencia-se o propósito de eliciar a emergência de sínteses criativas que viabilizem o tratamento de dados para análise e proposição de cartografias para as redes emergentes nos horizontes cada vez mais heterogêneos do humano.

"O campo da ação coletiva em rede mostra-se pertinente à esta discussão, pois ela é a expressão genuína de uma inteligência afluente, que também chamamos de ação coletiva inteligente. Howard Rheingold narra, em seu livro Smart Mobs, como o recente movimento social nas Filipinas, que depôs o então presidente Estrada, resultou da inteligência afluente da população. No dia do julgamento do processo de impeachment do presidente, mensagens enviadas através de celulares conseguiram mobilizar em questão de minutos mais de um milhão de cidadãos diante do Congresso. É válido dizer que esse movimento de confluência de pessoas numa direção física foi também acompanhado por um fluxo de inteligência afluente, que se traduziu na percepção pública da força de uma idéia, capaz de mobilizar a tantos de forma consciente. A inteligência afluente é aquela que permite ao coletivo lidar com o imprevisto, que lhe dá flexibilidade na ação. As redes digitais, por sua vez, são hoje um fator chave para a compreensão da lógica da ação coletiva e de sua evolução. Testemunhos como os de Howard Rheingold, por exemplo, vêm comprovando que a sinergia entre as pessoas via web, dependendo do projeto em que estejam envolvidas, pode ser multiplicada com enorme sucesso. As diversas formas de comunidades virtuais, a estratégia P2P, as comunidades móveis, a explosão dos blogs e wikis, a recente febre do orkut são prova de que o ciberespaço constitui um fator crucial no incremento do capital social e cultural disponível”. (Rogério da Costa em Razão e Palavra, novembro 2004).
Fonte: Wikipédia


O conceito de inteligência coletiva mobiliza muitos teóricos acerca do ciberespaço e sua interação entre o conhecimento produzido. O Clube Cético vivência este conceito por possibilitar discussões avançadas dentro do ceticísmo, ateísmo, ciência e interação entre os membros. Gostaria da opinião dos demais foristas.   :ok:
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Re: Cibercultura
« Resposta #2 Online: 18 de Março de 2007, 17:57:41 »
 :hihi: Vim dar pitáco!  :hihi:

Vejamos, mas será que esses textos não ignoram também os malefícios que essa injeção desenfreada de informações pode causar? Em especial para aqueles que não possuem um bom senso muito apurado?

Esse texto me fez lembrar de um episódio que ocorreu a alguns dias, quando um dos meus alunos me disse que havia aprendido na internet que as pastilhas de Halls dão Aids.

E para ele a informação estava correta, pois ele tinha visto na internet. Tive muito trabalho para explicar que essa informação não estava necessariamente correta só por estar na internet, pois qualquer um poderia ter escrito isso. E lhe garanti que Halls não causa de forma alguma Aids.

Mas episódios como esse, por um lado cômicos, não nos fazem pensar sobre a banalização que está ocorrendo com as informações na internet?

A quantidade de trolls e fakes que existem hoje na net é incrivel, qualquer um com um pingo de conhecimento pode escrever o que bem quiser para o planeta inteiro ler.

Se por um lado há troca de informações em quantidade, não há em qualidade. E é isso que devemos analisar (ao menos em minha opinião) quando pensamos na socialização coletiva de conhecimento que instrumentos como a internet podem nos proporcionar.

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Re: Cibercultura
« Resposta #3 Online: 18 de Março de 2007, 19:25:14 »
Melhor tentar corrigir os problema causados por informação sem controle prévio algum do que escolher quais conteúdos devem ser liberados para as pessoas - uma coisa que a gente nunca sabe quando pode ir longe demais. Além disso, não consigo ver como alguém poderia ter legitimidade para dizer "você não sabe o que é bom para você, deixe que eu seleciono o que você deve saber". Cada um deve saber filtrar a informação como preferir, é o melhor caminho. Claro que se deve ter uma atenção especial com crianças, mas aí vai dos pais e professores saber esclarecer aquilo que elas escutam, mesmo limitar o que chega até elas.

Posso estar errado, mas acho que a internet causou e continuará causando uma revolução imensa no mundo. É importante saber valorizar o quanto a tecnologia pode mudar a história, mesmo que muitas vezes seja difícil quantificar essas coisas. Acredito que a internet teve e terá um impacto muito grande na sociedade.

Offline Adriano

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Re: Cibercultura
« Resposta #4 Online: 01 de Abril de 2007, 17:47:55 »
Um slide sobre comunidades virtuais, fica melhor para apreender sobre os termos da filosofia da informação.

http://www.slideshare.net/ciberesfera/comunidades-virtuais-activismo-e-militancia-num-novo-espaco-publico
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Offline Adriano

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Re: Cibercultura
« Resposta #5 Online: 06 de Abril de 2007, 01:00:44 »
:hihi: Vim dar pitáco!  :hihi:

Vejamos, mas será que esses textos não ignoram também os malefícios que essa injeção desenfreada de informações pode causar? Em especial para aqueles que não possuem um bom senso muito apurado?

Esse texto me fez lembrar de um episódio que ocorreu a alguns dias, quando um dos meus alunos me disse que havia aprendido na internet que as pastilhas de Halls dão Aids.

E para ele a informação estava correta, pois ele tinha visto na internet. Tive muito trabalho para explicar que essa informação não estava necessariamente correta só por estar na internet, pois qualquer um poderia ter escrito isso. E lhe garanti que Halls não causa de forma alguma Aids.

Mas episódios como esse, por um lado cômicos, não nos fazem pensar sobre a banalização que está ocorrendo com as informações na internet?

A quantidade de trolls e fakes que existem hoje na net é incrivel, qualquer um com um pingo de conhecimento pode escrever o que bem quiser para o planeta inteiro ler.

Se por um lado há troca de informações em quantidade, não há em qualidade. E é isso que devemos analisar (ao menos em minha opinião) quando pensamos na socialização coletiva de conhecimento que instrumentos como a internet podem nos proporcionar.
A questão considerada não é apenas a internet como uma fonte de informação segura (embora seja discutível), mas sim a rede como meio de propiciar um novo ambiente de relações sociais e interpessoais, criando um novo espaço público e se utilizando das comunidades virtuais como é o caso do Fórum Clube Cético, em que vivenciamos essa realidade com a contrução de laço entre os participantes e produção de conhecimento, o chamado conhecimento coletivo pelos filósofos da informação, onde Pierre Lévy de destaca.
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Offline Adriano

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Re: Cibercultura
« Resposta #6 Online: 06 de Abril de 2007, 01:04:04 »
Posso estar errado, mas acho que a internet causou e continuará causando uma revolução imensa no mundo. É importante saber valorizar o quanto a tecnologia pode mudar a história, mesmo que muitas vezes seja difícil quantificar essas coisas. Acredito que a internet teve e terá um impacto muito grande na sociedade.

E esse impacto está cada vez mais rápido, embora possa ver visto de maneiras diferentes e ainda exista a exclusão digital. Mas a interatividade proporcionada é algo nunca visto na história da comunicação humana.
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Offline Adriano

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Re: Cibercultura
« Resposta #7 Online: 18 de Junho de 2007, 07:54:32 »
O importante impacto das empresas virtuais na economia também é uma forma de avaliar a força dessas novas formas de relações sociais na cultura como um todo.
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Offline ThePlaceboBoy

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Re: Cibercultura
« Resposta #8 Online: 14 de Julho de 2007, 19:16:43 »
:hihi: Vim dar pitáco!  :hihi:

Vejamos, mas será que esses textos não ignoram também os malefícios que essa injeção desenfreada de informações pode causar? Em especial para aqueles que não possuem um bom senso muito apurado?

Esse texto me fez lembrar de um episódio que ocorreu a alguns dias, quando um dos meus alunos me disse que havia aprendido na internet que as pastilhas de Halls dão Aids.

E para ele a informação estava correta, pois ele tinha visto na internet. Tive muito trabalho para explicar que essa informação não estava necessariamente correta só por estar na internet, pois qualquer um poderia ter escrito isso. E lhe garanti que Halls não causa de forma alguma Aids.

Mas episódios como esse, por um lado cômicos, não nos fazem pensar sobre a banalização que está ocorrendo com as informações na internet?

A quantidade de trolls e fakes que existem hoje na net é incrivel, qualquer um com um pingo de conhecimento pode escrever o que bem quiser para o planeta inteiro ler.

Se por um lado há troca de informações em quantidade, não há em qualidade. E é isso que devemos analisar (ao menos em minha opinião) quando pensamos na socialização coletiva de conhecimento que instrumentos como a internet podem nos proporcionar.

     Discordo do exemplo apresentado. Neste caso, parece-me que o problema está mais a ônus do garoto do que da cibercultura em si. Provavelmente, esse garoto apresentaria problemas semelhantes se exposto a outros contextos – eventualmente, até mesmo se exposto a contextos livres das críticas que aqui atribuem à cibercultura. Imagine-se, como exemplo da “cultura tradicional”, o que um livro mal-intencionado seria capaz de causar ao sujeito. Em contrapartida, note-se que outros garotos da mesma idade apresentam senso crítico capaz de filtrar uma parte considerável desse tipo de desinformação.

     A ideia não é inocentar a cibercultura. Apenas não concordei com o exemplo, que me pareceu forçosamente causal.
Your GOD device is unspecified or not detected. Cannot sync. Faith panic.

Offline Adriano

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Re: Cibercultura
« Resposta #9 Online: 17 de Maio de 2010, 07:37:42 »
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1962 - O governo dos E.U.A. iniciou o desenvolvimento de uma rede de comunicação para fins militares. O Pentágono procurava instalar um sistema de comunicação indestrutível, que pudesse resistir a um ataque atômico, e que permitisse aos responsáveis políticos e militares sobreviventes retomar o contato entre eles, para lançar o contra-ataque.

J. C. R. Licklider, um físico, matemático e psicólogo norte-americano contratado pela ARPA, teve acesso a um grande computador, um Q-32 (que era da Força Aérea, mas tinha sido oferecido à ARPA em 1961). Uma das tarefas de Licklider era encontrar outros usos para os computadores que não apenas o cálculo numérico. Então, ele procurou instituições americanas que estivessem na vanguarda da pesquisa computacional.

Licklider escreveu os primeiros registros de interações sociais que poderiam ser feitas por meio de redes em vários memorandos. Ele previu que vários computadores poderiam ser interconectados globalmente, e todos poderiam acessar dados e programas de qualquer local rapidamente. Ele estabeleceu a importância do conceito de redes computadorizadas, tendo convencido inclusive os seus sucessores, Ivan Sutherland, Robert Taylor e Lawrence G. Roberts, sobre isso.

Após algum tempo havia cerca de doze universidades e companhias trabalhando com a ARPA, incluindo Stanford, UCLA e Berkeley. Como piada, Licklider, chamou o seu grupo de "Intergalactic Computer Network". Este grupo seria o núcleo da ARPANET mais tarde.

http://www.ufpa.br/dicas/net1/int-h196.htm
Licklider, um dos mentores do uso dos computadores para a interatividade social. Interessante :)
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Re: Cibercultura
« Resposta #10 Online: 19 de Agosto de 2011, 03:36:51 »
Especialista em cibercultura, o francês Pierre Lévy critica intenção inglesa de controlar redes sociais e fala sobre o futuro dos livros

RIO - Há 20 anos, quando a maioria da população do mundo não tinha a menor ideia do que era a internet, o filósofo francês Pierre Lévy já estava de olho no futuro, com seus estudos sobre cibercultura e inteligência coletiva. Hoje, Lévy é uma referência, um estudioso cujas pesquisas ajudaram no desenvolvimento de ferramentas fundamentais para muitos de seus críticos do passado - entre eles, um bom número de jornalistas -, como a Wikipedia e as redes sociais.
Atualmente morando no Canadá, onde leciona na Universidade de Ottawa, esse profeta digital está a caminho do Brasil, para participar, no dia 25, às 19h30m, de um debate ao lado de Gilberto Gil, sobre o tema "o poder das palavras na cibercultura", no Oi Futuro Flamengo. A mesa faz parte da programação do projeto Oi Cabeça e tentará responder à difícil questão sobre o espaço que a escrita ocupa na esfera digital.
Em entrevista por telefone ao GLOBO, Lévy falou do uso das redes sociais, do futuro das mídias tradicionais, de como o preconceito contra a internet foi sendo modificado ao longo do tempo e do trabalho para desenvolver a Information Economy Meta Language (IEML), uma nova linguagem para a web à qual ele vem se dedicando nos últimos anos.

<a href="http://oglobo.globo.com/fotos/2011/08/15/15_MHG_cleber.jpg" target="_blank" class="new_win">http://oglobo.globo.com/fotos/2011/08/15/15_MHG_cleber.jpg</a>

Enquanto conversamos, o primeiro-ministro David Cameron sugere que a Inglaterra crie alguma forma de controle das redes sociais, a fim de evitar as manifestações vistas na semana passada. O que o senhor acha da ideia?
PIERRE LÉVY: É uma sugestão bastante absurda. É a grande maioria da população inglesa que usa as redes sociais, e não apenas uma pequena quantidade de criminosos. Além disso, os criminosos usam as estradas, os telefones, qualquer forma de se encontrar ou de se comunicar. Não há nada específico que justifique responsabilizar as redes sociais. Sou contra qualquer tipo de censura na internet, tanto política quanto de opinião. E vale lembrar que a polícia também pode se utilizar das redes sociais para encontrar os criminosos. A mídia social pode ser uma ferramenta de combate ao crime como qualquer outra.

A intenção de Cameron lembra críticas feitas contra a cultura digital há quase 20 anos. Naquela época, em suas palestras, o senhor dizia que o preconceito das pessoas contra a cibercultura se assemelhava ao preconceito contra o rock'n'roll nos anos 1950 e 1960. Alguma coisa mudou?
PIERRE LÉVY: Sim, houve mudanças. Naquele tempo, as pessoas diziam que a internet era uma mídia fria, sem emoções, sem comunicação real. Mas hoje, com a mídia social, as pessoas compartilham músicas, imagens e vídeos. Há muitas emoções circulando nesses espaços de comunicação. O que acontecia antes era que as pessoas não sabiam do que estavam falando. O preconceito, na maioria das vezes, é gerado pela ignorância. Até mesmo com vocês, jornalistas, isso mudou. Eu lembro bem que naquela época os jornalistas tinham todo o tipo de preconceito com a comunicação digital, e hoje todos estão usando essas ferramentas.

Mas alguns grupos de entretenimento e mídia ainda tentam controlar e restringir as possibilidades da internet, sob o temor de perder rentabilidade que tinham com a venda de CDs, DVDs ou publicações impressas. O que o senhor acha que vai resultar desse embate?
PIERRE LÉVY: O problema principal é que, antes da internet, todas essas empresas vendiam informação através de suportes materiais. Só que, já um pouco hoje e certamente no futuro, não haverá suportes físicos para levar a informação. É preciso se adaptar de uma situação em que se distribuíam e vendiam objetos físicos até outra, em que se distribui e se vende informação na rede. É uma transição enorme, e é provável que muitas dessas companhias não sobrevivam à necessidade de sair de uma era em direção à outra. Há milênios, muitos dinossauros morreram numa transição parecida.

O senhor está dizendo, então, que os grupos de mídia são dinossauros?
Os grupos de mídia que não se adaptarem ao novo momento, em que as comunicações são completamente descentralizadas e mais distribuídas, serão dinossauros e vão morrer.

Mas o que vai substituir a maneira como consumimos notícias hoje?
Eu acho que as notícias serão consumidas através das redes sociais, como Twitter, Facebook ou Google+. A mídia social permite que você escolha suas fontes e ordene suas prioridades entre as fontes. Você pode personalizar a forma como vai receber as notícias. Será assim no futuro: o usuário terá a habilidade de priorizar as fontes e os temas e escolher deliberadamente o que ele quer saber. Será uma atividade que a próxima geração já vai aprender a fazer nas escolas.
Alguns críticos, porém, costumam dizer que as ferramentas de internet que temos hoje não permitem um acesso democrático à informação. O Google, por exemplo, cria um ranking de resultados que de certa forma guia sua busca...
Espera um pouco. Você não pode acusar o Google de não ser democrático. O Google não é um governo, é uma empresa. Ele lhe oferece um serviço, e ele vende anúncios que serão vistos pelo usuário para se manter. Essa discussão não passa por democracia. O que eu posso dizer é que o ranking formado pelos algoritmos do Google é bastante primitivo. São mínimas as possibilidades de personalização de seu ranking. No futuro, especialmente graças a meu IEML (risos), todos poderão ser capazes de organizar sua própria ferramenta de busca de acordo com suas prioridades. Hoje, o Google praticamente oferece um mesmo serviço para qualquer tipo de pessoa.

Em que ponto estão as pesquisas do IEML?
Eu publiquei neste ano o primeiro volume, "La sphère sémantique", e agora estou trabalhando no segundo volume. O volume 1 é sobre a origem filosófica e semântica da linguagem. Já o volume 2 vai trazer um dicionário e explicar como utilizá-lo. Deve ser lançado no ano que vem. É um projeto longo, não dá para esperar ferramentas práticas nos próximos meses, mas espero que nos próximos cinco anos possamos ver algumas aplicações.

Que aplicações o senhor espera?
O argumento principal é o da interpretação coletiva da web. É difícil dizer exatamente que tipo de aplicação. A ideia é dar às comunidades uma representação científica de seu próprio processo de comunicação. Ele poderá se assemelhar a um grande circuito de conceitos, onde você observa a circulação de emoções e atenções. Isso poderá ser utilizado para marketing, educação, comunicação e pesquisa, por exemplo. Será uma nova forma de representar a relação entre conceito e ideias na internet. O sistema de escrita que usamos hoje na web é desenhado para mídia estática. Nós ainda temos que desenvolver sistemas simbólicos de escrita que sejam capazes de explorar todas as capacidades de um computador.

O senhor usa bastante as redes sociais?
Sim, estou no Twitter, no Facebook, no Google+ e em muitas outras. Mas não recomendo isso para ninguém, é preciso muito tempo para acompanhar tudo. Eu estou em tantas redes porque é meu trabalho, preciso saber do que estou tratando. Entre todas, o Twitter é a de que mais gosto, porque ele é prático e rápido para receber e procurar informações.

Quanto tempo por dia o senhor passa conectado?
Eu fico praticamente o tempo todo conectado. Consulto enciclopédias e dicionários na internet. Ouço rádios on-line. Acho que só não estou conectado quando estou dormindo. Mas, em relação a trocar e-mails e mensagens através de redes sociais, passo de uma a duas horas por dia nessas atividades. E não assisto a TVs nem leio jornais em papel. Só leio notícias na internet.

E livros em papel?
Eu tenho um tablet, mas estou velho e ainda prefiro ler livros no papel. Certamente, no futuro, a grande maioria dos livros será lida nos tablets ou em periféricos como o Kindle, muito pela possibilidade de interatividade. Os livros passarão a ser escritos dessa forma, com esse objetivo.

No Rio, o senhor vai participar de uma mesa de debate com Gilberto Gil. O senhor conhece a obra dele?
Eu já me encontrei com o Gil pessoalmente. Ele é um grande músico, um grande artista. Mas, além disso, também é uma pessoa que tem um pensamento bastante instigante sobre as consequências da revolução da mídia e da cultura. Será bom debater com ele.


http://oglobo.globo.com/cultura/mat/2011/08/15/especialista-em-cibercultura-frances-pierre-levy-critica-intencao-inglesa-de-controlar-redes-sociais-fala-sobre-futuro-dos-livros-925136026.asp
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Offline Geotecton

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Re: Cibercultura
« Resposta #11 Online: 19 de Agosto de 2011, 10:51:12 »
Citar
[...]
Alguns críticos, porém, costumam dizer que as ferramentas de internet que temos hoje não permitem um acesso democrático à informação. O Google, por exemplo, cria um ranking de resultados que de certa forma guia sua busca...
Espera um pouco. Você não pode acusar o Google de não ser democrático. O Google não é um governo, é uma empresa. Ele lhe oferece um serviço, e ele vende anúncios que serão vistos pelo usuário para se manter. Essa discussão não passa por democracia. O que eu posso dizer é que o ranking formado pelos algoritmos do Google é bastante primitivo. São mínimas as possibilidades de personalização de seu ranking. No futuro, especialmente graças a meu IEML (risos), todos poderão ser capazes de organizar sua própria ferramenta de busca de acordo com suas prioridades. Hoje, o Google praticamente oferece um mesmo serviço para qualquer tipo de pessoa.
[...]

Um filósofo, ainda por cima francês, fazendo uma defesa, ainda que parcial do Google? :o

É. O final dos tempos está próximo. :biglol:
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