Justiça apura previsão paranormal do crime de Perdizes
Qua, 21 Fev, 08h48
A julgar pela carta do vidente Jucelino Nóbrega da Luz, enviada ao Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, o assassinato do casal Sebastião Esteves Tavares, 71 anos, e Hilda Tavares, 68, moradores da Rua Caiowaá, em Perdizes, na zona oeste de São Paulo, já era sabido no 'Além', pelo menos 17 dias antes de ser executado. Contrariando a apuração da Polícia Civil, o remetente diz que o crime teria sido praticado a mando de uma pessoa da família por interesse financeiro.
No documento protocolado no Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, no dia 23 de novembro, o vidente pediu ao presidente, o desembargador Celso Limongi, que determinasse 'melhor apuração' do crime, pois pressentiu que houve facilitação da entrada do assassino na casa das vítimas. Agora, a Justiça quer que Jucelino comprove que previu o crime duas semanas antes. Se ele estiver mentindo, o Ministério Público adiantou que vai processá-lo por denunciação caluniosa.
Jucelino anexou ao pedido de investigação uma carta que diz ter escrito a Sebastião Tavares no dia 1º de novembro de 2006, descrevendo seu sonho premonitório. O mais incrível da história é que a visão que Jucelino foi detalhada: revelou o endereço e nomes das vítimas, o nome do assassino e até do mandante.
"Eis que pude observar na Rua Cayowaá, nº 1690, Perdizes-SP, o casal Sebastião Esteves Tavares e sua esposa Hilda Gonçalves serem mortos (sic) a facadas (...)" Na continuação do relato há um equívoco, não se sabe se de redação ou da premonição do vidente: "(...) pelos assassinos Luiz Eduardo Cirino e Hilda Gonçalves (vizinhos da vítima)." Na realidade, Hilda é a vítima e não a autora do crime.
"... E há uma grande suspeita por visões que tive que o mandante desse crime é seu filho, Rogério Tavares, porque tem ódio e intenção de retenção dos bens de seus pais", continua a carta.
Na realidade, nas primeiras horas após o crime, a polícia suspeitava que o filho do casal, Rogério Gonçalves Tavares, 42 anos, pudesse ser o assassino dos pais. A hipótese foi cogitada porque nada havia sido levado da casa, ninguém observou ninguém fugindo e porque Rogério não abriu a porta para os policiais entrarem. Essa hipótese foi totalmente descartada, após Cirino se entregar e assumir sozinho a autoria do crime.
Na dúvida, Limongi encaminhou a missiva para análise do procurador-geral da Justiça, Rodrigo Pinho, que acabou determinando que o papel fosse anexado aos autos para ser investigado.
Segundo a promotora Robinete Le Fosse, a juíza Isaura Cristina Barreira determinou ao Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa que investigasse a autenticidade da carta e as provas de que ela foi remetida ao casal duas semanas antes do crime. "Nós vamos investigar porque a denúncia é gravíssima. Acusa um inocente de um crime. Se não houver provas de que ele enviou essa carta antes ou se os documentos que ele diz ter forem falsos, será processado por denunciação caluniosa", disse Robinete.
A carta do vidente levou a promotora criminal a perguntar a Cirino, em seu interrogatório à Justiça no último dia 31 de janeiro no Fórum Criminal da Barra Funda, se ele conhecia Jucelino Nóbrega da Luz e se matou o casal a mando de alguém. À primeira questão, de pronto, o réu respondeu que não conhecia o vidente, mas se recusou a responder se o duplo homicídio foi encomendado.
O advogado Yvan Gomes Miguel, defensor de Luiz Eduardo Cirino, recebeu com espanto a notícia da juntada da carta do vidente Jucelino Nóbrega da Luz nos autos. "Tomei um susto quando peguei o processo e encontrei a correspondência, ainda mais por causa da data do selo (dia 1º de novembro) que eu acreditava ser de uma carta registrada."
Embora não acredite em vidência, Miguel não descarta a participação de uma segunda pessoa no crime. À polícia, Cirino apresentou versões diferentes sobre a eventual participação de terceiros. "Vamos aguardar a audiência de instrução para saber quais caminhos devemos trilhar", disse o advogado.
http://br.noticias.yahoo.com/s/21022007/25/manchetes-justi-apura-previsao-paranormal-crime-perdizes.html