A deriva continental é um processo bem conhecido fundamentado desde os anos 60, igualmente evidências robustas apontam para a deriva regular dos polos magnéticos do planeta, porém um tipo de deriva continetal radical proposto no sec XIX é bem pouco citado mesmo pq sua existência permanecia sem evidências isto até 1997, a True Polar Wander, ou Movimento Polar Verdadeiro.
A deriva continental implica na movimentação das placas continentais devido a convecção do magma sob a crosta, isto ocasiona um movimento de poucos centímetros por ano destas placas, já a True Polar Wander é muito mais radical, envolvendo movimentos de vários metros por ano ( 10 a 100 vezes mais rápido do que a deriva continetal comum ) podendo tal proceso durar vários milênios ou milhares de anos.
Tal movimentação tb possui uma causa muito distinta da deriva continetal comum, pois está baseada em princípos físicos, na necessidade da Terra em manter seu momento angular. Assim um desbalanço da distribuição da massa da Terra ( como o surgimento de um grande vulcão ou a deriva de grandes massa continentais ) na região dos polos ( ou próximo ao eixo de rotação do planeta ) ocasiona que todo o eixo de rotação do planeta “viaje” em direção ao equador redistribuindo e equalizando a distribuição de massa crostal de modo a manter o momento angular ou máximo momento de inércia.
Abaixo uma representação gráfica da TPW, a distribuição continental é remodelada completamente em um período de 5 a 20 milhões de anos:



Um exemplo que ilustra bem este processo é quando se fixa pesos nas extremidades de uma bola de futebol, se estes pesos estão na linha do equador da bola e esta é posta a girar então nada ocorre, porém se estes pesos estão fixos próximos ao eixo de rotação ( polos ) da bola e esta é posta a girar, o ponto do eixo de rotação da bola ( e os pesos ) tendem a migrar para o equador até que o máximo momento de inércia esteja realinhado ao eixo de rotação.
É importante notar que a True Polar Wander é uma movimentação do eixo relativa aos continentes e não ao plano orbital da Terra, o ângulo de inclinação da Terra permanece inalterado em relação a eclíptica ( o que leva alguns pesquisadores a argumentar que True Polar Wander não é um nome apropriado já que na verdade o eixo de rotação permanece inalterado )
A TPW permaneceu como uma possibilidade hipotética até 1997 quando uam equipe de geólogos do California Institute of Technology ( CALTECH) mediu a direção em que apontavam o eixo norte-sul de certos depósitos minerais antigos ( conforme resíduos de mineral magnético depositam-se no fundo do oceano estes alinham-se ao campo geomagnético da época de sua deposição, assim quando estes depósitos solidificam-se em rochas, estes guardam seu alinhamento de modo que é possível se determinar onde estava o polo magnético norte e sul no tempo de formação da rocha ) e o que encontraram foi que o alinhamento magnético destes minérios divergiam grandemente em um curto espaço de tempo geológico a cerca de 550 milhões de anos atrás, ou seja, ou campo magnético havia migrado grandemente em um curto espaço de tempo ( o que não é corroborado por outros depósitos ) ou toda a massa continetal havia migrado e mudado sua posição sobre a superfície do planeta. O “start” de tal mudança teria sido o final da formação ( da grande agregação de massa em um único ponto da crosta ) do supercontinente de Gondwana. Esta foi a primeira evidência em prol da TPW.
Recentemente ( 2006 ) uma equipe da Universidade de Princeton realizou novas medições com depósitos encontrados na Noruega e demonstraram que estes depósitos guardam o registro de uma grande e rápida modificação das massas continentais por volta de 800 milhões de anos, agora a equipe tenta realizar medições em depósitos minerais da mesma idade em outras partes do globo. Esta seria a segunda grande evidência a favor da TPW.
Abaixo o exemplo fornecido pela equipe do Maloof Laboratory. O "hot spot" vermelho ( um grande vulcão, por exemplo) surge na região próxima ao polo, então a TPW o recoloca próximo ao equador em um tempode 20 milhões de anos, toda distribuição continental é refeita:

A TPW serviria para se explicar grandes dúvidas entre geólogos e climatologistas, por exemplo, depósitos de resíduos orgânicos no leito de antigos mares indicavam que houve uma era Era Glacial por volta de 800 milhões de anos, porém outras evidências associadas a eras glacias não estão presentes para o mesmo período relatado. Com a ocorrência de uma TPW neste período tais depósitos poderiam ser explicados quando rios que antes levavam seus depósitos orgânicos aos trópicos pasaram a jogá-los na região do ártico, mudando toda química local dos mares.
Da mesma forma, algumas propostas associam a TPW a Explosão do Cambriano.
A "explosão" Cambriana é um episódio sem igual na história da Terra (iniciando-se a cerca de 530 milhões de anos e durando por volta de 15 milhões de anos ) , quando essencialmente todos o filos animais atuais surgiram “repentinamente” no registro fóssil. Existe uma variedade de explicações genéticas e ecológicas para este complexo evento, porém não são capazes de explicar totalmente o grande aumento observado na disparidade e diversidade de espécies, o começo da radiação e sua duração.
A Explosão do Cambriano iniciou-se 20 milhões de anos após o início da TPW, como detectado pela equipe da Caltech, mas seu início se deu ainda dentro da grande reconfiguração de massas, já que a TPW do Cambriano durou por volta de 15 milhões de anos. Durante 15 milhões de anos a vida batalhou para adaptar-se as rápidas mudanças climáticas e geológicas que ocorriam no planeta onde regiões polares de uma hora para outra tornavam-se regiões tropicais, correntes marítmas mudavam bruscamente sua direção, aquecimento e características químicas e onde mesmo o clima se modificava entre períodos de aquecimento e resfriamento.
A explosão evolutiva teria sido favorecida por dois fatores: a extrema e recorrente fragmentação dos ecossistemas marinhos existentes e pela periodicidade do resfriamento e aquecimento global.
No primeiro caso toda vez que um ecossistema começava a se estabilizar, uma nova mudança na conformação das correntes marítimas o fragmentava criando centenas de “patchs” (manchas segundo o modelo de
biogeografia de ilhas), onde a evolução ocorria devido ao isolamento com as outras ilhas (redução do fluxo gênico) , até que novas fragmentações levassem a formação de novos ecossistemas, com novas adaptações sendo selecionadas. Isto teria favorecido um grande aumento da biodiversidade, um imenso experimento evolutivo que teria sido acelerado ainda pelo surgimento da reprodução sexuada logo nas primeiras fases.
O segundo ponto estaria fundamentado na grande variedade isotópica do carbono durante o período pré e pós explosão do cambriano, algo que por sí só não possui uma explicação satisfatória pelos modelos alternativos.
O que se sabe é que diferentes variações de “qualidades” de carbono orgânico são detectadas durante o período Cambriano e estes tipos (
isótopos ) de carbono variam grandemente de extrato a extrato rochoso ( mais do que uma dúzia de vezes ), o que indica que houve uma grande e rápida variação em sua origem e forma de deposição. Isto poderia indicar várias expansões e retrações da biosfera durante a Explosão Cambriana, favorencendo assim, a hipótese de que os ecossistemas existentes, sendo continua e rapidamente rompidos alteravam a taxa ( e a qualidade, o tipo isotópico ) de produção e deposição de carbono em determinadas regiões.
Mas uma outra proposta provinda de pesquisadores da mesma equeipe da Calthec é ainda mais interessante. Eles propõem que a anomalia de Carbono se deveu a várias etapas ( que tb por fim, favorecem a explosão do Cambriano ) .
Na primeira etapa, as regiões da borda do supercontinente tropical de Rodinia que havia se fragmentado ( estas regiões eram ricas em carbono orgânico, isotopicamente mais “leve” do que o carbono inorgânico ) foram arrastadas rapidamente pela TPW até regiões próximas ao polo sendo que lá as condições favoreceram que o metano biogênico fosse “preso” em camadas de gás hidratado (
armadilha do metano ) . Ainda , durante o período Vediano, houve um continuo aumento de deposição de carbono aumentando as reservas de metano altamente pressurizado nas camadas mais profundas do assoalho oceânico.
Então ocorreu uma nova e rápida traferência de massa devido a TPW e estas regiões ricas em metano pressurizado foram tranferidas às regiões dos trópicos. Neste momento, ao aquecerem-se gradualmente conforme a região adentrava em latitudes tropicais, os depósitos de metano sofreram momentos de rápida liberação do gás, seguidas de momentos de retração desta ejeção até que o próximo depósito alcançasse a temperatura certa para sua liberação.
Isto induziu pulsos de aquecimento global exatamente quando uma nova jazida de metano era liberada na atmosfera.
Se sabe que a temperatura está relacionada a diversidade biológica, já que a cinética das alterações metabólicas são favorecidas por temperaturas mais altas, assim o tempo de uma geração a outra das espécies biológicas diminuia considervalmente durante estes períodos de aquecimento global facilitando o aumento de ocorrências de mutações que eventualmente se fixavam, ocasionando evolução e mantendo assim, a taxa de formação da ( rica ) diversidade de espécies no período.
Assim a associação de múltiplos fatores biológicos, geoquímicos, climáticos e tectônicos iniciados pela TPW teriam favorecido a maior explosão da diversidade biológica da histórica geológica da Terra.
Fontes:-
http://pr.caltech.edu/media/lead/072497JLK.html-
http://www.princeton.edu/main/news/archive/S15/64/72A37/index.xml?section=newsreleases-
http://cat.inist.fr/?aModele=afficheN&cpsidt=14579302-
http://geoweb.princeton.edu/people/maloof/tpw.html-
http://gondwanaresearch.com/hp/paleosol.htm-
http://arjournals.annualreviews.org/doi/abs/10.1146/annurev.earth.33.031504.103001-
http://www.ssf.npolar.no/pages/newsArchive.htm[ ]´s