Confesso que lendo o Olavão fiquei neurótico quanto a possibilidade do socialismo se instalar nas virgens terras do Pau-Brasil (isso dantes, agora já muito estupradas). Ora, o socialismo é uma pestilência que está se instalando no Brasil e em toda america latina, diz o filosofês, com a sinistra e sutil arte de Gramsci, o mortal conspirador esquerdista. Mas como é possível que o socialismo se instale em nossa terra e morra moribundo em terras desenvolvidas? Na Europa o socialismo, depois da queda do muro de Berlim, virou ficção. Nos EUA é uma esquerda diminuta, apesar de chata e barulhenta.
De fato, o socialismo ainda vive como credo entre nós. Domina os meios acadêmicos e tal, é tema de novelas, livros, letras de músicas, filmes. Mas é porque, nós latinos, herdamos o grande amor ao Estado dos ibéros. O nosso sistema jurídico é um legado vicejante de leis e regulamentos tão emaranhado que praticamente se tornaram impossíveis de aplicar. O resultado é que o sistema é de tal forma travado que a média dos julgamentos ultrapassa dez anos. Os portugueses, quando éramos colônia, tudo regulamentavam; havia leis para todo tipo de coisa, burocracia laudatória e infindável para controlar a pilhagem de nossas terras e quanto mais eles regulamentavam mais o contrabando florescia... Mais ou menos como hoje fazemos com as leis trabalhistas que quanto mais regulamentam mais relegam à informalidade os assalariados. Sinal que não aprendemos com os erros de nossos colonizadores, apenas aperfeiçoamos os métodos.
Basta ler os romances da época (eu sei que isso não é fácil) para se notar que os meninos estudavam para se tornarem médicos (o mais próximo do empreendedorismo que já chegamos) ou advogados, o que permitiria ao bacharelado um confortável emprego público. Os que não podiam estudar sonhavam com um emprego de amanuense e para tanto não mediam esforços em adular. Adulação é o nosso maior mérito!
Não havia atividade econômica livre das garras do Estado. A coroa portuguesa tomava a maioria das iniciativas econômicas e quando alguma por ventura desse resultados encampava-a. Estamos ficando socialistas? Ah, quem leu sobre a coroa portuguesa e a sua colônia sabe que nunca tivemos economia de mercado. O Barão de Mauá se tornou próspero demais e foi sutilmente convidado a se aposentar.
Os socialistas de verdade devem morrer de inveja de D. João, o sexto. Fundou a grande maioria das instituições públicas que arregimentam a burocracia brasileira, bem como o famigerado Banco do Brasil. Em matéria de estatizações começamos cedo. Sem a influência de Marx.
O Olavão fica cada dia mais preocupado com a sanha socialista. Mas não há nada que resista à desorganização visceral do brasileiro. O formalismo e a buracracia estão aí para impedir tudo de funcionar. E para viver com paz e felicidade inventamos o escracho e o deboche. Sem essas catarse individuais a vida seria dura por demais. E ainda temos o carnaval e o futebol, essas cartase coletivas. O jeitinho brasileiro toma de viés as coisas sérias.