Autor Tópico: Aiatolás criticam o Presidente Ahmadinejad  (Lida 541 vezes)

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Aiatolás criticam o Presidente Ahmadinejad
« Online: 06 de Março de 2007, 14:11:07 »
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06/03/2007
LE MONDE

A crítica que os aiatolás fazem ao presidente Ahmadinejad

Marie-Claude Decamps
enviada especial a Qom (Irã)

Aproxima-se a hora da oração em Qom, a cidade santa dos xiitas iranianos (a 160 km ao sul de Teerã), e o grande aiatolá Youssef Saanei está com pressa. Fazendo um gesto de impaciência com a sua bengala, ele acelera o ritual do chá, ajeita as dobras do seu hábito e, abreviando as cortesias usuais, ele começa: "A República islâmica fez mais progressos do tempo do imame Khomeini [1979-1989] - Que a sua alma descanse em paz - do que recentemente! Nós nunca deveríamos ter conduzido ao poder a equipe atual. Ela é um sinal de que nós nos afastamos dos objetivos reais da revolução e do imame [chefe espiritual]. As pessoas cultivadas sofrem com esta situação e estão sem esperança".

Então, rompendo com o estilo douto e rebuscado que convém em geral a um dos mais respeitados dos 14 grandes aiatolás de Qom, Youssef Saanei, sem nunca mencionar o seu nome, dirige uma crítica afiada ao presidente Mahmoud Ahmadinejad.

Ele fala em "demagogia", em "incapacidade", em "promessas econômicas não cumpridas", e ironiza até mesmo, a respeito do futuro e impopular aumento do preço da gasolina no Irã: "Eles me haviam prometido, assim como a cada um dos iranianos, trazer o dinheiro do petróleo até a minha mesa. Em vez disso, "eles" o estão tirando de mim, do tanque do carro!" Ele fala ainda em "direitos humanos e da mulher" que "progrediam" antes do novo governo. Por fim, e, sobretudo, ele fala no dossiê nuclear.

Manifestamente, se este antigo companheiro do aiatolá Khomeini - que, antes de evoluir para posições moderadas, fora o implacável procurador dos tribunais revolucionários - sobe em primeira linha para protestar, com cerca de 80 anos, é que o momento é grave aos seus olhos.

E ainda que ele tome a precaução de explicar que "os slogans são, aqui como nos Estados Unidos, para uso interno", nem por isso ele deixa de se mostrar preocupado com as diatribes muito duras do presidente Ahmadinejad: "Eles não se dão conta de que os slogans são perniciosos para a imagem do Irã. Quanto mais eles serão proferidos, quanto mais isso comprometerá a situação. Nós nada temos a ganhar em permanecer isolados e, tanto quanto um ataque aéreo americano, novas sanções seriam uma catástrofe".

Será que ele pensa que, dentro de tal contexto de crise, o fato de organizar uma conferência governamental sobre a realidade do Holocausto, alguns meses atrás em Teerã, ajudou o Irã? "Nunca se deve fazer aos outros aquilo que nós não gostaríamos que nos fizessem, ensina o Alcorão", diz ele, sarcástico. O Holocausto faz parte da História; o que se pretende com isso? Mudar a história das nações? Eu não vejo por que o governo se lançou numa tal empreitada. Será que por nossa vez, nós gostaríamos de ver um dia outras nações organizarem um Congresso sobre a nossa história? Não, tudo isso é muito ruim para o Islã e para o Irã!"

Então, já levantado, ele empreende um panegírico do antigo presidente, o pragmático Ali Akbar Hachemi Rafsandjani, cuja reputação foi prejudicada por suspeitas de corrupção, mas que acaba de ser reeleito por uma ampla maioria na Assembléia dos sábios, uma peça essencial do mecanismo do regime: "Uma campanha de calúnias impediu que ele fosse eleito presidente, mas só ele poderá tirar o país desta situação difícil".

Ele ainda toma tempo para manifestar a sua preocupação com o fato de a União Européia poder um dia parar de qualificar de "grupo terrorista" os mudjahidins do povo, que são dissidentes armados refugiados no Iraque. De fato, o regime teme que eles utilizados pelos americanos para desestabilizar o país - isso porque "terroristas eles são e assim eles permanecem, mesmo que arrependidos" - e vai embora. A oração não espera.

Será que o grande aiatolá Saanei é um caso isolado? Ele reflete, segundo nos explica, reservadamente, um professor de um seminário sobre o Alcorão, a opinião de muitos jovens mulás (sacerdotes) cultos de Qom e de uma maioria dos grandes aiatolás.

"Não houve nenhuma empatia até agora com [Mahmoud] Ahmadinejad, cujo apoio em Qom se resume ao aiatolá fundamentalista Mesbah-Yazdi, a dois ou três outros e a algumas fundações radicais. Muitos dos grandes aiatolás, como Mousavi Ardebeli e Saanei, vêm se mostrando constrangidos com o "populismo religioso" do laico Ahmadinejad e com as tensões que ele causou no âmbito do regime e da sociedade. Eles prefeririam ver o país ser dirigido pelo antigo presidente Rafsandjani, um religioso culto, que é, sobretudo, um pragmático mais adaptado às situações de crise".

E o professor acrescenta: "Tirando alguns deles, eles não querem uma mudança profunda, e sim um governo mais aberto. Eles temem que esta política de intransigência, conduzida em nome da religião, enfraqueça o país e acabe prejudicando ao Islã e a todo o sistema, que poderia desmoronar no decorrer do tempo".

Uma declaração que chamou a atenção

De fato, apesar de estar doente, o antigo homem de confiança e sucessor do aiatolá Khomeini, o grande aiatolá Montazeri (considerado como um dissidente e afastado em proveito do atual Guia supremo da revolução, o aiatolá Khamenei) deu uma declaração que chamou a atenção, há algumas semanas, sobre o nuclear. "Nós dizemos 'Morte à América", mas os Estados Unidos são uma potência dotada de meios importantes (...) Não se deve provocá-la", disse. "Todos os dias estamos repetindo: '[a tecnologia nuclear] é um direito nosso'. "Mas pode-se obter um direito sem criar problemas e sem fornecer pretextos para os outros".

Quanto ao mulá Fazel Meybodi, encarregado das publicações da universidade piloto Mofid, em Qom, onde estudam mais de 1.500 alunos, ele enviou uma nota para o jornal "Ettemad-e-Meli", na qual ele faz uma advertência ao sistema educativo. Nela, ele explica, segundo ele mesmo nos contou, que no Irã "há 30.000 alunos drogados, um grande número de jovens que a miséria obriga a abandonar seu estudos, mas certos dirigentes estão inconscientes dessas dificuldades e, em nome da religião, se perdem em argúcias estéreis sobre a cor da barba de Maomé", E ele conclui: "Essas coisas não são tão humilhantes, para a imagem do islã, quanto as caricaturas dinamarquesas do Profeta?"

Tradução: Jean-Yves de Neufville

To impressionado com os Aiatolás...
"O crime é contagioso. Se o governo quebra a lei, o povo passa a menosprezar a lei". (Lois D. Brandeis).

Eriol

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Re: Aiatolás criticam o Presidente Ahmadinejad
« Resposta #1 Online: 06 de Março de 2007, 14:35:34 »
a direita tirando o cú da reta.

Offline Luis Dantas

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Re: Aiatolás criticam o Presidente Ahmadinejad
« Resposta #2 Online: 06 de Março de 2007, 14:53:55 »
Direita?  Onde?  Pega!

Sério, o que direita tem a ver com o Irã?
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Em 18 de janeiro de 2010, ainda não vejo motivo para postar aqui. Estou nos fóruns Ateus do Brasil, Realidade, RV.  Se a Moderação reconquistar meu respeito, eu volto.  Questão de coerência.

Offline Rodion

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Re: Aiatolás criticam o Presidente Ahmadinejad
« Resposta #3 Online: 06 de Março de 2007, 17:31:50 »
não é de hoje que as palhaçadas do ahmadinejad irritam os aiatolás…
esse, aliás, é um dos argumentos a favor (ou, pelo menos, que atenua os que possa haver contra) de uma bomba nuclear iraniana; o poder do presidente, por lá, é mais limitado do que parece. pode-se sim dizer que o irã age racionalmente, em decorrência dos vários mecanismos, de complexidade razoável, de policy control que há por lá.
« Última modificação: 06 de Março de 2007, 17:35:53 por Bruno »
"Notai, vós homens de ação orgulhosos, não sois senão os instrumentos inconscientes dos homens de pensamento, que na quietude humilde traçaram freqüentemente vossos planos de ação mais definidos." heinrich heine

 

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