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Cientista apaga memória de roedor traumatizadoRAFAEL GARCIAda Folha de S.PauloUm grupo de pesquisadores conseguiu apagar com sucesso a memória traumática de ratos condicionados a sentir medo sem afetar outras lembranças do animal. O experimento --elaborado pelo neurocientista Joe LeDoux, da Universidade de Nova York-- deve ajudar a pesquisa de tratamentos contra fobias e distúrbios ligados a traumas emocionais, afirma a equipe de pesquisa.Em estudo publicado ontem pela revista "Nature Neuroscience", os cientistas mostram como deixaram ratos traumatizados com o som de uma campainha --aplicando choques no animal cada vez que o ruído soava-- e depois usaram uma droga para "curá-los".Para saber se as cobaias estavam esquecendo apenas o trauma alvejado pelo tratamento --sem perder outras memórias--, os cientistas induziram nelas o medo de uma segunda campainha, com som diferente. Ao final, elas eram tratadas apenas contra o medo da primeira, para comparação.A estratégia foi aplicar uma droga indutora de amnésia (a U0126, proibida para uso em pessoas) ao mesmo tempo em que a campainha 1 soava para amedrontar novamente os animais já traumatizados. A droga, que age sobre uma estrutura cerebral chamada amígdala --envolvida na associação de memórias a emoções-- apagou apenas a recordação que estava sendo ativada no momento.Depois do experimento, os animais não temiam mais o som da campainha 1, mas ainda ficavam paralisados só de ouvir soar a campainha número 2. Isso, diz o grupo, mostra que em tese é possível apagar memórias de medo seletivamente.Estresse pós-traumáticoApesar de a droga usada no experimento não ser aplicável em humanos, os cientistas afirmam que um tratamento semelhante pode vir a ser usado para em pacientes de TEPT (transtorno do estresse pós-traumático).Os portadores deste mal psiquiátrico --comum em veteranos de guerra-- têm constantes pesadelos e "flashbacks" dos traumas que viveram. Muitas vezes eles associam esses eventos a elementos do dia-a-dia e não conseguem retomar a vida normal.Segundo LeDoux, o estudo sugere que deve existir uma maneira de usar drogas para auxiliar as terapias comportamentais contra a doença."O terapeuta poderia discutir memórias recorrentes que o paciente tem do trauma e então selecionar a reativação da memória, na presença de uma droga que evite o rearmazenamento da lembrança, reduzindo seu impacto", disse LeDoux à Folha. Já está nos planos do cientista o teste clínico de uma estratégia semelhante, mas com uma droga diferente.Memórias humanas"Queríamos ir mais rápido nos estudos com humanos, mas temos dificuldade para recrutar os tipos certos de pacientes e para obter todas as autorizações necessárias", diz. "Mas estamos cientes de que há uma série de questões éticas quando se trata de manipular memórias e sabemos da importância de respeitá-las."A extensão do experimento para humanos, porém, também pode sofrer limitações técnicas."O medo tem uma conotação cognitiva em seres humanos que difere daquela de animais", diz o neurocientista Martín Cammarota, da PUC-RS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul), que também defende uma abordagem dupla (com drogas e terapia comportamental) para o problema."O TEPT também tem a ver com a história do paciente e com a condição psicológica e neuroquímica dele antes do evento do trauma."Para o pesquisador é improvável que se consiga uma droga capaz de apagar memórias específicas em humanos.