Tanto organismos quanto programas tem eventualmente uma boa dose de partes "bem delimitadas", em que se pode mexer com um bom grau de segurança do que se faz
certo, mas os bons programadores entendem exatamente onde estão mexendo e quais as consquências. Esses caras sabem exatamente onde estão mexendo? Compreeendem o organismo do mosquito 100%? Se não, como podem garantir que não vai dar nada e como você pode achar que eles não precisem fazer mais algumas toneladas de testes?
Bem, depende de como se dá exatamente essa imunidade ao plasmódio do mosquito... o Wolfischer aí acima disse algo que era mais na linha do que eu imaginava, e já havia dito anteriormente, que seria por exemplo, só copiar nesse mosquito uma característica de outros mosquitos não-transmissores da malária. Nos outros mosquitos "dá certo", e não há motivos para crer que esse mosquito especificamente seja especial a ponto dessa mudança poder provocar qualquer coisa catastrófica.
No texto que encontrei, de qualquer forma, sobre coisas nesse sentido feitas pelos pesquisadores, a imunidade parece se dar de outra forma, algo a ver com uma parte do veneno de abelha. Eu não sei se é a mesma técnica, ou se foi um estágio anterior abandonado. De qualquer forma, ainda não consigo visualizar nenhum risco de danos sequer um pouco maior do que o já tido com a malária tal como está.
O pior que posso imaginar seria que linhagens de plasmódio talvez ficassem imunes, contornassem essa proteína da abelha / aproveitassem outro meio já existente de entrar nas membranas, fazendo tudo ser em vão.
Em curto prazo, para se ser mais pessimista ainda, poderia se imaginar que essa linhagem de plasmódios que eventualmente evoluiu imunidade causaria, por puro acaso (efeito fundador) uma malária ainda mais virulenta, o que talvez "compensasse" em pouco tempo as vidas salvas anteriormente. Com algum tempo, de qualquer forma, tenderia a ocorrer uma diminuição da virulência, como é comum (os parasitas mais letais acabam com o seu próprio "substrato", continuando a existir apenas as variedades que deixam os infectados viverem mais). No fim das contas, não daria em nada.
Poderia por outro lado também ser uma malariazinha mixuruca essa que contornasse a imunidade do mosquito.
E mesmo supondo que a modificação fosse algo mais inusitado, mais esquisito do que colocar um gene dum inseto em outro, ou inativar uma codificação de um receptor, possivelmente existente em outros mosquitos... eu não vejo ainda razão em toneladas de testes.... ocorrendo isso que se prentende que ocorra, a imunidade do mosquito ao plasmódio, acho que é o que basta... poderia-se ficar imaginando possíveis efeitos colaterias dessa imunidade, mas não me vem nada plausível em mente que fosse digno de preocupação.
Inventando uma agora: talvez o gene deixasse os mosquitos intragáveis para os seus predadores, fazendo a sua população explodir descontroladamente, e as pessoas e outros animais começariam a morrer por falta de sangue. Extremamente improvável, já que não é nada tão exótico que vai ser colocado lá, mas possivelmente algo que meio que existe em outras espécies de mosquitos não-transmissoras, ou em abelhas e provavelmente formigas, que tem também seus predadores apesar dessa proteína.
Viajando ainda mais com a hipótese do gene de abelha, talvez ele no mosquito fosse regulado de forma diferente, codificando esse componente do veneno em excesso, fazendo deles não animais peçonhentos como as abelhas, mas venenosos mesmo, matando os predadores. Acho improvável pelo fato de que as abelhas que apesar de terem certamente peçonha e não apenas uma proteína componente, não são venenosas. Se houvesse algo nesse sentido, provavelmente os mosquitos morreriam eles mesmos também por não terem todo o aparato que evoluiu junto com as abelhas que as impede de serem afetadas pela própria peçonha. Os mosquitos por outro lado poderiam ter algo que já servisse a essa função apenas por acaso, "exaptação". Supondo que o que restringe a população deles é principalmente a predação, tenderiam a explodir populacionalmente e a restrição seria principalmente alimentar, com exceção de eventuais predadores imunes ao veneno. Esses eventualmente tenderiam a ocupar o espaço deixado pela diminuição de outros predadores suscetíveis ao veneno, e voltarem a controlar os mosquitos.
Se não existisse nenhum possível predador imune ao veneno, seria mesmo um deus-nos-acuda, mas muito provavelmente eu já estava viajando demais muito além disso, em imaginar que os mosquitos fossem venenosos.
Ah, e ao mesmo tempo os mosquitos poderiam transmitir uma nova doença ainda mais letal que dependia da não-contaminação da malária nos mosquitos para proliferar.