Autor Tópico: Escravidão em branco e preto  (Lida 3408 vezes)

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Offline Buckaroo Banzai

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Escravidão em branco e preto
« Online: 24 de Março de 2007, 15:22:56 »
"O Globo" 22/03/07

Escravidão em branco e preto
DEMÉTRIO MAGNOLI

Há duzentos anos, em 25 de março, William Wilberforce venceu, e seu projeto de abolição do comércio de escravos recebeu o selo do trono britânico. Naquele momento, começou o longo declínio do tráfico internacional de seres humanos.

O cristão evangélico Wilberforce se ergueu sobre os ombros de Thomas Clarkson, o fundador, em 1787, da Sociedade para a Abolição da Escravatura, e dos quakers, pioneiros do movimento abolicionista.

Incansável, Clarkson descerrou o véu da hipocrisia sob o qual se ocultava o horror. Ele obrigou uma opinião pública de sensibilidades tecidas pela filosofia das Luzes a encarar a sua própria imagem, refletida no espelho dos porões dos navios negreiros.

Os abolicionistas ingleses venceram, mas não sozinhos. Em 1791, explodiu a revolução dos escravos, no Haiti de Toussaint L’Ouverture. Os revolucionários derrotaram as tropas coloniais francesas, as forças invasoras britânicas e, em 1804, emanciparam meio milhão de escravos. Os parlamentares aprovaram o projeto de Wilberforce coagidos pelo medo, tanto quanto pela vergonha.

O tráfico e a escravidão continuam reverberando. O escritor moçambicano Mia Couto relata uma visita aos EUA de Honória BailorCaulker, uma senhora africana, presidente da câmara do povoado de Shenge, na Serra Leoa.

Convidada a discursar, ela subiu ao palco, cantou “Amazing Grace” e, após demorada pausa, informou à platéia que o célebre hino religioso foi composto por um filho da escravatura, descendente de uma família que deixou Shenge.

A platéia explodiu em aplausos comovidos, mas Honória os interrompeu e indagou se a homenageavam como símbolo do sofrimento de milhões de escravos. Diante da resposta uníssona, atalhou: “Pois eu não sou descendente de escravos. Nem eu nem o autor do hino.

Somos, sim, descendentes de vendedores de escravos. Meus bisavós enriqueceram vendendo escravos.” Os europeus, como regra, não caçavam africanos, mas os adquiriam na segurança de suas fortalezas costeiras.

A carga humana era fornecida pelos reinos negreiros, alguns muito poderosos, como o Estado ashanti, da Costa do Ouro, que cobrava aluguel dos traficantes europeus pelo uso das fortalezas e mantinha parte dos cativos como serviçais domésticos de seus chefes.

Em 1872, bem depois do encerramento do tráfico atlântico, o soberano ashanti Zey dirigiu uma carta ao rei da Inglaterra solicitando a retomada do comércio de escravos.

Yaw Bedwa, da Universidade de Gana, diagnostica uma “amnésia geral sobre a escravidão”. O interdito, vigente em diversos países africanos, não decorre apenas das conveniências de elites clânicas ligadas por escassas gerações ao negócio do tráfico.

Antes de tudo, ele protege uma imagem da África consagrada pelos “pais fundadores”.

Essa imagem não nasceu na África, mas entre os intelectuais que inventaram o panafricanismo, como o americano W.E.B. Du Bois (1868-1963) e o jamaicano Marcus Garvey (1887-1940). Homens de seu tempo, eles interpretaram a história sob o prisma das raças e, sem conhecer o caleidoscópio africano, ergueram a bandeira da Nação África, cuja unidade repousaria no antagonismo com a figura do branco escravista e imperialista.

A narrativa racial da vitimização, fabricada na diáspora, migrou para a África por meio dos líderes das lutas anticoloniais, transfigurando-se depois em verdade de Estado: europeus escravizam africanos, mas africanos não escravizam africanos.

Fora da África, entre intelectuais e ativistas dos movimentos negros, a “amnésia” assume formas mais complexas.

O antropólogo Kabengele Munanga, da USP, ao distinguir a escravidão tradicional nas sociedades africanas do escravismo mercantil no sistema capitalista, passa ao largo da evidência de que a norma da desigualdade que sustentava a primeira também propiciou a associação entre os reinos negreiros e o tráfico europeu.

Já Nei Lopes, autor de um “Dicionário Escolar Afro-Brasileiro”, não está interessado em distinções sociológicas, mas unicamente num curioso cotejo das responsabilidades de “europeus” (leia-se “brancos”) e “africanos” (leia-se “negros”), que o leva a concluir que os primeiros “corromperam” os segundos.

A reconstituição ideológica da história do comércio de gente busca inspiração nos conceitos perigosos de culpa e de raça, que servem para abrir as portas das políticas de “reparação”.

A escravidão não é evocada a fim de iluminar o sistema que convertia seres humanos em mercadoria, mas para restaurar o princípio da divisão racial da humanidade. É o inverso do que fizeram o revolucionário L’Ouverture e o reformador Clarkson, separados por um oceano e pela cor da pele, mas unidos em torno do princípio da igualdade.

http://clipping.planejamento.gov.br/Noticias.asp?NOTCod=344142

Offline Eremita

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Re: Escravidão em branco e preto
« Resposta #1 Online: 24 de Março de 2007, 19:41:12 »
Nação África? Pra que se precisa de nações, no final das contas?
Latebra optima insania est.

Offline Rodion

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Re: Escravidão em branco e preto
« Resposta #2 Online: 25 de Março de 2007, 04:56:51 »
não é de hoje que admiro a lucidez do demetrio magnoli...
"Notai, vós homens de ação orgulhosos, não sois senão os instrumentos inconscientes dos homens de pensamento, que na quietude humilde traçaram freqüentemente vossos planos de ação mais definidos." heinrich heine

Offline FxF

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Re: Escravidão em branco e preto
« Resposta #3 Online: 26 de Março de 2007, 13:32:28 »
As pessoas querem ser ricas, rico é somente quem está acima da média, ou seja, tem de tirar de alguém. "Raças" é só uma desculpa para gerar pobreza.
Nação África? Pra que se precisa de nações, no final das contas?
O primeiro culpado é a religião, eu ao menos acho óbvio. O segundo as tradições culturais. Em terceiro o dinheiro, alguém quer ganhar mais que o outro.

Offline Huxley

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Re: Escravidão em branco e preto
« Resposta #4 Online: 26 de Março de 2007, 23:57:26 »
Eu sinceramente não sei porque não lemos ou ouvimos isso nas nossas aulas de História do Ensino Médio.
"A coisa mais importante da vida é saber o que é importante". Otto Milo

Meu blog: http://biologiaevolutiva.blogspot.com

Offline Rodion

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Re: Escravidão em branco e preto
« Resposta #5 Online: 27 de Março de 2007, 07:00:57 »
ouvimos, às vezes, mas é algo que depende mais dos professores do que dos livros didáticos.
"Notai, vós homens de ação orgulhosos, não sois senão os instrumentos inconscientes dos homens de pensamento, que na quietude humilde traçaram freqüentemente vossos planos de ação mais definidos." heinrich heine

Offline Alegra

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Re: Escravidão em branco e preto
« Resposta #6 Online: 27 de Março de 2007, 08:48:20 »
ouvimos, às vezes, mas é algo que depende mais dos professores do que dos livros didáticos.

É verdade.

E as vezes depende também do que queremos ouvir, ou estamos acostumados a ouvir, ou até suportamos ouvir.
Já sinto sua falta. Vá em paz meu lindo!

Offline Alegra

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Re: Escravidão em branco e preto
« Resposta #7 Online: 27 de Março de 2007, 08:51:19 »
Citar
A platéia explodiu em aplausos comovidos, mas Honória os interrompeu e indagou se a homenageavam como símbolo do sofrimento de milhões de escravos. Diante da resposta uníssona, atalhou: “Pois eu não sou descendente de escravos. Nem eu nem o autor do hino.

Somos, sim, descendentes de vendedores de escravos. Meus bisavós enriqueceram vendendo escravos.” Os europeus, como regra, não caçavam africanos, mas os adquiriam na segurança de suas fortalezas costeiras.

Mulher de coragem…


Editado.
« Última modificação: 28 de Março de 2007, 11:41:56 por Alegra »
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Offline Dbohr

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Re: Escravidão em branco e preto
« Resposta #8 Online: 28 de Março de 2007, 09:25:01 »
Quem, Alegra?

Offline Alegra

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Re: Escravidão em branco e preto
« Resposta #9 Online: 28 de Março de 2007, 11:36:16 »
Ela, "Honória BailorCaulker, uma senhora africana, presidente da câmara do povoado de Shenge, na Serra Leoa".
Editei o post para entender melhor.
« Última modificação: 28 de Março de 2007, 11:43:03 por Alegra »
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Offline Spitfire

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Re: Escravidão em branco e preto
« Resposta #10 Online: 28 de Março de 2007, 13:03:35 »
Mas é este o ponto que eu quis chegar, Alegra.

Herdamos os "pecados" dos nossos ancestrais?
Até que ponto esta mulher foi culpada pela escravidão se ela sequer havia nascido?
Seria justo julgar e condenar esta mulher pelo erro de seus ancestrais?


Offline PauloCesar

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Re: Escravidão em branco e preto
« Resposta #11 Online: 29 de Março de 2007, 10:05:18 »
Mas é este o ponto que eu quis chegar, Alegra.
Herdamos os "pecados" dos nossos ancestrais?
Até que ponto esta mulher foi culpada pela escravidão se ela sequer havia nascido?
Seria justo julgar e condenar esta mulher pelo erro de seus ancestrais?
Mas é exatamente essa a questão. Como diz o texto, observar a história e o mundo sob a perspectiva de "culpa" e "raça" leva o sujeto a interpretar as coisas de uma forma distorcida, dado que o ser humano é muito mais complexo que isso. O lado triste disso tudo é que hoje é exatamente esse o ponto de vista predominante. Há sempre que se achar um "culpado" e não é incomum concluir que a culpa é de alguma "raça"… quando, na verdade, o problema é mais a desigualdade entre as pessoas, esta acaba transcendendo tudo isso aí e levando a humanidade à tragédias como a escravidão.

:umm:
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Offline FxF

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Re: Escravidão em branco e preto
« Resposta #12 Online: 29 de Março de 2007, 22:46:37 »
Mas sempre dividimos as pessoas em grupos. Qualquer semelhança com os que praticaram nos faz ser parte deles ("faz" no sentido de que apontam o dedo para nós).

Offline Alegra

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Re: Escravidão em branco e preto
« Resposta #13 Online: 30 de Março de 2007, 09:28:41 »
Mas é este o ponto que eu quis chegar, Alegra.

Herdamos os "pecados" dos nossos ancestrais?
Até que ponto esta mulher foi culpada pela escravidão se ela sequer havia nascido?
Seria justo julgar e condenar esta mulher pelo erro de seus ancestrais?

Claro que não!
O que causa essa condenação às gerações atuais pelos erros dos antepassados é a falta de cultura das pessoas que condenam...
Isso serve para pretos e brancos.

Por isso que achei esta senhora negra corajosa. Ela desmistificou essa idéia que muito negro tem que os brancos foram exclusivamente culpados pela escravidão e por isso tem que ser tratados eternamente como coitadinhos e terem facilidades por causa disso, em vez de "irem à luta" ao lados brancos para conseguirem seus direitos como cidadãos que são.
Já sinto sua falta. Vá em paz meu lindo!

Offline PauloCesar

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Re: Escravidão em branco e preto
« Resposta #14 Online: 30 de Março de 2007, 11:57:48 »
Claro que não!
O que causa essa condenação às gerações atuais pelos erros dos antepassados é a falta de cultura das pessoas que condenam…
Isso serve para pretos e brancos.

Não penso que seja assim. A situação não é tão simples a ponto de podermos dizer "é" ou "não é". Aqui incorremos na falácia do "8 ou 80" ou, nesse caso, do "preto no branco" :hihi:, quando é evidente que os tons são acinzentados. Explico:

É sim errado culpar a geração atual pelos erros das gerações passadas. Não vejo como poderia ser de outra forma. Mas, por outro lado, o racismo também não é um "pecado" passado de uma geração para outra? Não me parece justo condenar a geração atual pelos erros das gerações anteriores, a não ser que ela cometa os mesmos erros.

Assim penso que as duas situações são verdadeiras: há sim uma ideologia que passa uma idéia do "branco opressor/negro vítima que precisa ter facilidades" — coisa que não é necessariamente verdadeira — como provou o texto. Todavia, também há o racismo/preconceito herdado das gerações passadas. Se ele não existisse, simplesmente não faria sentido os negros "irem à luta" ao lado dos brancos em busca dos seus direitos. Nesse caso, o direito seria automático.

Então concluo: não há que se responsabilizar a geração presente pelos erros das gerações passadas, mas isso só faz sentido se a geração atual não cometer os mesmos erros das anteriores. E nesse quesito, falhamos. Lamentavelmente falhamos.¹

Então, se a geração presente herda os mesmos vícios das anteriores (preconceito, racismo, machismo, violência, etc) não vejo porque também não poder herdar a mesma culpa.


1. Referências
http://www.reportersocial.com.br/noticias.asp?id=1038&ed=negros
http://www.estadao.com.br/ultimas/economia/noticias/2006/nov/17/131.htm
http://www.pnud.org.br/raca/reportagens/id01=1608&lay=rac
http://www.reportersocial.com.br/noticias.asp?id=439&ed=negros
http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=21624
http://www.comciencia.br/reportagens/negros/08.shtml
http://www.portaldovoluntario.org.br/press/uploadArquivos/113269223763.pdf
http://www.ircamericas.org/port/605
http://www1.folha.uol.com.br/folha/dimenstein/noticias/gd161006a.htm

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Offline Buckaroo Banzai

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Re: Escravidão em branco e preto
« Resposta #15 Online: 30 de Março de 2007, 18:06:42 »
Citação de: PauloCesar
Todavia, também há o racismo/preconceito herdado das gerações passadas. Se ele não existisse, simplesmente não faria sentido os negros "irem à luta" ao lado dos brancos em busca dos seus direitos. Nesse caso, o direito seria automático.

E não faz sentido mesmo.

Todas as pessoas de todas cores, tem direitos iguais no país. O que não implica que o seu histórico de vida permita o pleno exercício de todos os direitos. Qualquer um tem o direito a ter uma Ferrari, mas não são todos que tem. E não tem só por não querer. De forma similar, todos tem direito à cursar faculdade, mas não são todos que conseguem passar no vestibular, ou podem pagar uma "pagou, tá dentro".

Os direitos pelos quais os negros lutam, ao menos na maioria dos casos mais falados, são direitos a mais, não igualdade de direitos. Não sei de qualquer legislação que faça distinção de cor/raça, no sentido de dar mais direitos a brancos que a negros. Se leis houverem discriminatórias ainda hoje, é justamente no sentido "contrário".

Não quer dizer que não possa haver mais racismo... mas acho que atualmente é mais comum o anti-racismo de superioridade branca/inferioridade negra do que esses racismos especificamente. E essas coisas tem que ser combatidas especificamente em cada caso, e não generalizadas por cotas tentando compensar um pressuposto racismo geral da população.

Offline Alegra

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Re: Escravidão em branco e preto
« Resposta #16 Online: 31 de Março de 2007, 17:20:45 »
Claro que não!
O que causa essa condenação às gerações atuais pelos erros dos antepassados é a falta de cultura das pessoas que condenam…
Isso serve para pretos e brancos.

Não penso que seja assim. A situação não é tão simples a ponto de podermos dizer "é" ou "não é". Aqui incorremos na falácia do "8 ou 80" ou, nesse caso, do "preto no branco" :hihi:, quando é evidente que os tons são acinzentados.

Mas o que falo aqui é de atos cometidos contra os negros no tempo da escravidão, ou seja, rapto, trabalhos forçados sem remuneração, torturas, violações, etc., etc., etc.... Muitos negros na atualidade cobram isso dos brancos. E é disso que estou falando e acho que o Spitfire também...

Quanto ao resto do seu post concordo em tudo!  :ok:


Explico:

É sim errado culpar a geração atual pelos erros das gerações passadas. Não vejo como poderia ser de outra forma. Mas, por outro lado, o racismo também não é um "pecado" passado de uma geração para outra? Não me parece justo condenar a geração atual pelos erros das gerações anteriores, a não ser que ela cometa os mesmos erros.

Assim penso que as duas situações são verdadeiras: há sim uma ideologia que passa uma idéia do "branco opressor/negro vítima que precisa ter facilidades" — coisa que não é necessariamente verdadeira — como provou o texto. Todavia, também há o racismo/preconceito herdado das gerações passadas. Se ele não existisse, simplesmente não faria sentido os negros "irem à luta" ao lado dos brancos em busca dos seus direitos. Nesse caso, o direito seria automático.

Então concluo: não há que se responsabilizar a geração presente pelos erros das gerações passadas, mas isso só faz sentido se a geração atual não cometer os mesmos erros das anteriores. E nesse quesito, falhamos. Lamentavelmente falhamos.¹

Então, se a geração presente herda os mesmos vícios das anteriores (preconceito, racismo, machismo, violência, etc) não vejo porque também não poder herdar a mesma culpa.


1. Referências
http://www.reportersocial.com.br/noticias.asp?id=1038&ed=negros
http://www.estadao.com.br/ultimas/economia/noticias/2006/nov/17/131.htm
http://www.pnud.org.br/raca/reportagens/id01=1608&lay=rac
http://www.reportersocial.com.br/noticias.asp?id=439&ed=negros
http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=21624
http://www.comciencia.br/reportagens/negros/08.shtml
http://www.portaldovoluntario.org.br/press/uploadArquivos/113269223763.pdf
http://www.ircamericas.org/port/605
http://www1.folha.uol.com.br/folha/dimenstein/noticias/gd161006a.htm



Em gênero, número e grau!!   :mrgreen:
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Offline JJ

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Re:Escravidão em branco e preto
« Resposta #18 Online: 02 de Agosto de 2017, 09:47:13 »
Negros


Por volta de 1830, o escravo José Francisco dos Santos conquistou a liberdade. Depois de anos de trabalho forçado na Bahia, viu-se livre da escravidão, provavelmente comprando sua própria carta de alforria ou ganhando-a de algum amigo rico. Estava enfim livre do sistema que o tirou da África quando jovem, jogou-o num navio imundo e o trouxe amarrado para uma terra estranha. José tinha uma profissão – havia trabalhado cortando e costurando tecidos, o que lhe rendeu o apelido de “Zé Alfaiate”. No entanto, o ex-escravo decidiu dar outro rumo a sua vida: foi operar o mesmo comércio do qual tinha sido vítima. Voltou à África e se tornou traficante de escravos. Casou-se com uma das filhas de Francisco Félix de Souza, o maior vendedor de gente da África atlântica, e passou a mandar ouro, negros e azeite de dendê para vários portos da América e da Europa.


Foi o fotógrafo e etnólogo Pierre Verger que encontrou, com um neto de Zé Alfaiate, uma coleção de 112 cartas escritas pelo ex-escravo. As mensagens foram enviadas entre 1844 e 1871 e tratam de negócios com Salvador, Rio de Janeiro, Havana (Cuba), Bristol (Inglaterra) e Marselha (França). Em 22 de outubro de 1846, numa carta para um comerciante da Bahia, o traficante conta que teve problemas ao realizar um dos atos mais terríveis da escravidão – marcar os negros com ferro incandescente. Diz ele:


Por esta goleta [uma espécie de escuna] embarquei por minha conta
em nome do sr. Joaquim d’Almeida 20 balões [escravos] sendo
12 H. e 8 M. com a marca “5” no seio direito. Eu vos alerto que a
marca que vai na listagem geral é “V seio” mas, como o ferro quebrou
durante a marcação, não houve então outro remédio senão
marcar com ferro “5”.1


Talvez Zé Alfaiate tenha entrado para o tráfico por um desejo de vingança, na tentativa de repetir com outras pessoas o que ele próprio sofreu. O mais provável, porém, é que visse no comércio de gente uma chance comum e aceitável de ganhar dinheiro, como costurar ou exportar azeite. Havia muito tempo que o costume de atacar povos inimigos e vendê-los era comum na África. Com o tráfico pelo oceano Atlântico, as pilhagens a povos do interior, feitas para capturar escravos, aumentaram muito – assim como o lucro de reis, nobres cidadãos comuns africanos que operavam a venda. Essa personalidade dupla da África diante do tráfico de escravos às vezes aparece num mesmo indivíduo, como é o caso de Zé Alfaiate. Ex-escravo e traficante, foi ao mesmo tempo vítima e carrasco da escravidão.


Não era preciso sair do Brasil para agir como ele. Por aqui, os escravos tiveram que se adaptar a um novo modo  de vida, mas não abandonaram costumes do outro lado do Atlântico. Nas vilas da corrida do ouro de Minas Gerais, nas fazendas de tabaco da Bahia, era comum africanos ou descendentes escravizarem. Como um pedaço da África, cristão e falante de português, o Brasil também abrigou reis africanos que vinham se exilar no país quando a situação do seu reino complicava, embaixadores negros interessados em negociar o preço de escravos, e até mesmo filhos de nobres africanos que vinham estudar na Bahia, numa espécie de intercâmbio estudantil. Esses fenômenos certificam uma boa metáfora que Joaquim Nabuco usa no livro O Abolicionismo, clássico do movimento brasileiro pelo fim da escravidão. Nabuco dizia que o tráfico negreiro provocou uma união das fronteiras brasileiras e africanas, como se a África tivesse aumentado seu território alguns milhares de quilômetros. “Lançou-se, por assim dizer, uma ponte entre a África e o Brasil, pela qual passaram milhões de africanos, e estendeu-se o hábitat da raça negra das margens do Congo e do Zambeze às do São Francisco e do Paraíba do Sul.”2


Com os mais de 4 milhões de escravos que vieram forçados ao Brasil, veio também a África. Na década de 1990, quando os historiadores passaram
a dar mais peso à influência da cultura africana na escravidão brasileira, os estudos sofreram uma revolução. Em obras como Em Costas Negras, publicada em 1997 pelo historiador Manolo Florentino, houve uma mudança de ponto de vista muito parecida com a que aconteceu com os índios.


Os negros deixaram de ser vistos como vítimas constantemente passivas, que nunca agiam por escolha própria. “Em franca reação à visão reificadora do africano sugerida pelos estudos das décadas de 1960 e 1970, os historiadores buscaram mostrar o negro como sujeito da história, protagonista da escravidão, ainda que não aquilombado, quando não cúmplice do cativeiro”, escreveu o historiador Ronaldo

Essa nova corrente de estudos descobriu personagens bem diferentes dos pares “senhor cruel/escravo rebelde” ou “senhor camarada/escravo submisso”, como se refere o historiador Flávio dos Santos Gomes.6  Também fezaflorar histórias aparentemente desagradáveis para minorias e movimentos sociais, como as que estão a seguir.


Zumbi tinha escravos


Zumbi, o maior herói negro do Brasil, o homem em cuja data de morte se comemora em muitas cidades do país o Dia da Consciência Negra, mandava capturar escravos de fazendas vizinhas para que eles trabalhassem forçados no Quilombo dos Palmares. Também sequestrava mulheres,
raras nas primeiras décadas do Brasil, e executava aqueles que quisessem fugir do quilombo.


Essa informação parece ofender algumas pessoas hoje em dia, a ponto de preferirem omiti-la ou censurá-la, mas na verdade trata-se de um dado óbvio. É claro que Zumbi tinha escravos. Sabe-se muito pouco sobre ele – cogita-se até que o nome mais correto seja Zambi –, mas é certo que
viveu no século 17. E quem viveu próximo do poder no século 17 tinha escravos, sobretudo quem liderava algum povo de influência africana.
Desde a Antiguidade, os humanos guerrearam, conquistaram escravos e muitas vezes venderam os que sobra vam. Até o século 19, em Angola e no Congo, de onde veio a maior parte dos africanos que povoaram Palmares, os sobás se valiam de escravos na corte e invadiam povoados vizinhos
para capturar gente. O sistema escravocrata só começou a ruir quando o Iluminismo ganhou força na Europa e nos Estados Unidos. Com base na ideia de que todos as pessoas merecem direitos iguais, surgiu a Declaração dos Direitos da Virgínia, de 1776, e os primeiros protestos populares contra a escravidão, na Inglaterra. Os abolicionistas apareceram um século depois de Zumbi e a 7 mil quilômetros da região onde o Quilombo dos Palmares foi construído.


É difícil acreditar que, no meio das matas de Alagoas, Zumbi tenha se adiantado ao espírito humanista europeu ou previsto os ideais de liberdade, igualdade e fraternidade da Revolução Francesa. É ainda mais difícil quando consultamos os poucos relatos de testemunhas que conheceram Palmares. Elas indicam o esperado: o quilombo se parecia com um povoado africano, com hierarquia rígida entre reis e servos. Os moradores chamavam o lugar de Ngola Janga, em referência aos reinos que já existiam na região do Congo e de Angola.


Ganga Zumba, tio de Zumbi e o primeiro líder do maior quilombo do Brasil, provavelmente descendia de imbangalas, os “senhores da guerra” da África Centro-Ocidental. Os imbangalas viviam de um modo similar ao dos moradores do Quilombo dos Palmares. Guerreiros temidos, eles habitavam
vilarejos fortificados, de onde partiam para saques e sequestros dos camponeses de regiões próximas. Durante o ataque a comunidades vizinhas, recrutavam garotos, que depois transformariam em guerreiros, e adultos para trocar por ferramentas e armas com os europeus. Algumas mulheres conquistadas ficavam entre os guerreiros como esposas.

“As práticas dos imbangalas tinham o propósito de aterrorizar a população em geral e de encorajar as habilidades marciais – bravura na guerra, lealdade total ao líder militar e desprezo pelas relações de parentesco”, afirma o historiador americano Paul Lovejoy. “Essas práticas incluíam a morte
de escravos antes da batalha, canibalismo e infanticídio.”


Tanta dedicação a guerras e sequestros fez dos imbangalas grandes fornecedores de escravos para a América. Lovejoy estima que três quartos dos cerca de 1,7 milhão de escravos embarcados entre 1500 e 1700 vieram da África Centro-Ocidental, sobretudo do sul do Congo.7


Como a aliança com os portugueses às vezes se quebrava, os guerreiros também acabavam sendo escravizados.8


Provavelmente foi assim que os pais ou avôs de Zumbi chegaram ao Brasil. Entre os soldados que lutaram para derrubar o Quilombo de Palmares, o que mais impressionava, além da força militar dos quilombolas, era o modo como eles se organizavam politicamente. Segundo o relato do capitão holandês João Blaer, que lutou contra o quilombo em 1645, todos os quilombolas eram [...] obedientes a um que se chama o Ganga Zumba, que quer dizer Senhor Grande; a este têm por seu rei e senhor todos os mais, assim naturais dos Palmares como vindos de fora; tem palácio, casas de sua família, é assistido de guardas e oficiais que costumam ter as casas reais. É tratado com todos os respeitos de rei e com todas as honras de senhor. Os que chegam à sua presença põem os joelhos no chão e batem palmas das mãos em sinal de reconhecimento e protestação de sua excelência; falam-lhe “majestade”, obedecem-lhe por admiração.9


Para obter escravos, os quilombolas faziam pequenos ataques a povoados próximos. “Os escravos que, por sua própria indústria e valor, conseguiam chegar aos Palmares, eram considerados livres, mas os escravos raptados ou trazidos à força das vilas vizinhas continuavam escravos”, afirma Edison Carneiro no livro O Quilombo dos Palmares, de 1947. No quilombo, os moradores deveriam ter mais liberdade que fora dele. Mas a escolha em viver ali deveria ser um caminho sem volta, o que lembra a máfia hoje em dia. “Quando alguns negros fugiam, mandava-lhes crioulos no encalço e uma vez pegados, eram mortos, de sorte que entre eles reinava o temor”, afirma o capitão João Blaer.


“Consta mesmo que os palmaristas cobravam tributos – em mantimentos, dinheiro e armas – dos moradores das vilas e povoados. Quem não colaborasse poderia ver suas propriedades saqueadas, seus canaviais e plantações incendiados e seus escravos sequestrados”, afirma o historiador Flávio Gomes no livro Palmares.


Não dá para ter certeza de que a vida no quilombo era assim mesmo, mas os vestígios e o pensamento da época levam a crer que sim. Apesar disso, Zumbi ganhou um retrato muito diferente por historiadores marxistas das décadas de 1950 a 1980. Décio Freitas, Joel Rufino dos Santos
e Clóvis Moura fizeram do líder negro do século 17 um representante comunista que dirigia uma sociedade igualitária.
Para eles, enquanto fora do quilombo predominava a monocultura de cana-de-açúcar para exportação, faltava comida e havia classes sociais oprimidas e opressoras (tudo de ruim), em Palmares não existiam desníveis sociais, plantavam-se alimentos diversos e por isso havia abundância de
comida (tudo de bom).


“Nesta bibliografia de viés marxista guia_historia_há um esforço em caracteri há um esforço em caracterizar Palmares como a primeira luta de classes na História do Brasil”, afirma a historiadora Andressa Barbosa dos Reis em um estudo de 2004.10


A imaginação sobre Zumbi foi mais criativa na obra do jornalista gaúcho Décio Freitas, amigo de Leonel Brizola e do ex-presidente João Goulart. No livro Palmares: A Guerra dos Escravos, Décio afirma ter encontrado cartas mostrando que o herói cresceu num convento de Alagoas, onde recebeu o nome de Francisco e aprendeu a falar latim e português. Aos 15 anos, atendendo ao chamado do seu povo, teria partido para o quilombo. As cartas sobre a infância de Zumbi teriam sido enviadas pelo padre Antônio Melo, da vila alagoana de Porto Calvo, para um padre de Portugal, onde Décio as teria encontrado. Ele nunca mostrou as mensagens para os historiadores que insistiram em ver o material. A mesma suspeita recai sobre outro livro seu, O Maior Crime da Terra. O historiador Claudio Pereira Elmir procurou por cinco anos algum vestígio dos registros policiais que Décio cita. Não encontrou nenhum. “Tenho razões para acreditar que ele inventou as fontes e que pode ter feito o mesmo em outras obras”, disse-me Claudio no fim de 2008. O nome de Francisco, pura cascata de Décio Freitas, consta até hoje no Livro dos Heróis da Pátria da Presidência da República.


Também se deve à historiografia marxista o fato de Zumbi ser muito mais importante hoje em dia do que Ganga Zumba, seu antecessor. Enquanto o primeiro ficou para a história como herói da resistência do quilombo, seu tio faz o papel de traidor. Essa fama se deve ao acordo de paz que fez com os portugueses em 1678. Ganga Zumba, recebido em Recife quase como chefe de Estado, prometeu ao governa […]




O restante aqui (PDF  34 páginas):


http://download.uol.com.br/educacao/2-negros.pdf


« Última modificação: 02 de Agosto de 2017, 09:58:32 por JJ »

Offline Geotecton

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Re:Escravidão em branco e preto
« Resposta #19 Online: 02 de Agosto de 2017, 10:53:12 »
É o início da desconstrução de mais um mito idiota.
« Última modificação: 02 de Agosto de 2017, 13:22:44 por Geotecton »
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Offline Brienne of Tarth

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Re:Escravidão em branco e preto
« Resposta #20 Online: 02 de Agosto de 2017, 12:54:07 »
Somente os ignorantes sobre a nossa História defendem "cotas raciais" como "dívida social" a ser paga pela sociedade "reacionária branca hetero cis normativa" pelos erros cometidos por toda uma civilização engajada na ética e ótica da época ... :umm:
GNOSE

Offline Buckaroo Banzai

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Re:Escravidão em branco e preto
« Resposta #21 Online: 02 de Agosto de 2017, 13:11:52 »
Pode não ser o caso do Zumbi dos Palmares, mas nos EUA parece que era "comum" que negros libertos "comprassem" a outros escravos mas fazendo isso como uma forma de "brecha na lei" para libertá-los, principalmente familiares. (Não pretendo sugerir que fosse ser necessariamente sempre assim)

Acho complicada a reconstrução histórica e não me surpreenderia se mesmo essas versões como as expostas acima não tenham também suas deturpações, nas linhas dos escravos nesses casos serem ex-"capitães do mato" e assim por diante.

Não duvido também, de maneira alguma, de deturpação ou seletividade igual ou pior pelo outro lado.




Somente os ignorantes sobre a nossa História defendem "cotas raciais" como "dívida social" a ser paga pela sociedade "reacionária branca hetero cis normativa" pelos erros cometidos por toda uma civilização engajada na ética e ótica da época ... :umm:

Será que alguns desses ativistas/ideólogos liberais já sugeriu reparações na forma de isenção de impostos para negros e mulatos? 90 e 45% :lol:

Poderia ainda encaixar no discurso de impostos como escravidão...

Offline Geotecton

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Re:Escravidão em branco e preto
« Resposta #22 Online: 02 de Agosto de 2017, 13:23:21 »
Somente os ignorantes sobre a nossa História defendem "cotas raciais" como "dívida social" a ser paga pela sociedade "reacionária branca hetero cis normativa" pelos erros cometidos por toda uma civilização engajada na ética e ótica da época ... :umm:

Muitos não são ignorantes. São pilantras que ganham com isto.
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Offline Gauss

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Re:Escravidão em branco e preto
« Resposta #23 Online: 04 de Agosto de 2017, 21:41:52 »
Será que alguns desses ativistas/ideólogos liberais já sugeriu reparações na forma de isenção de impostos para negros e mulatos? 90 e 45% :lol:

Poderia ainda encaixar no discurso de impostos como escravidão...

Liberais são contra o tratamento diferente de qualquer indivíduo perante a lei.
Citação de: Gauss
Bolsonaro é um falastrão conservador e ignorante. Atualmente teria 8% das intenções de votos, ou seja, é o Enéas 2.0. As possibilidades desse ser chegar a presidência são baixíssimas, ele só faz muito barulho mesmo, nada mais que isso. Não tem nenhum apoio popular forte, somente de adolescentes desinformados e velhos com memória curta que acham que a ditadura foi boa só porque "tinha menos crime". Teria que acontecer uma merda muito grande para ele chegar lá.

Offline Buckaroo Banzai

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Re:Escravidão em branco e preto
« Resposta #24 Online: 05 de Agosto de 2017, 06:51:31 »
Seria uma forma de fazer propaganda de redução de impostos, mesmo que ficasse só em retórica a separação.

 

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