Uma das decantadas virtudes do brasileiro é a sua capacidade de improvisação. Não poucos sociólogos, jornalistas e filósofos nativos se renderam à idéia. Elegias foram feitas; de um povo pobre e carente de recursos numa terra onde falta tudo e quase nada tem planejamento, as coisas (poucas) construídas foram consideradas exemplos de vigor e desenvoltura ímpares neste mundo. O gigante adormecido espera o tempo de despertar quando os grilhões dos povos do norte forem finalmente sobrepujados.
Quem quer que tenha pelo menos visitado uma empresa qualquer pode bem medir o que significa isso: improvisação. Geralmente é falta de recursos que se traduz em investimentos precários. Precariedade é o estado natural de qualquer empresa brasileira. Manutenção preventiva é um termo alienígena ao qual o patrão debocha sorridente. As máquinas trabalham sem descanso e só param quando avariadas. Como muitas vezes os problemas se acumulam e um leva a outro, quando se faz a manutenção corretiva o equipamento está tão puído que parece uma geringonça. Normas, técnica e regulamentos são mandados às favas - o lema é funcione a qualquer custo e o custo é alto. O resultado é: ônibus em cacarecos circulando; caminhões aos pedaços; eletrodomésticos que o consumidor não sabe quanto vai durar; atendimento negligente. Isso só para ficar no setor privado. O público nos oferece um espetáculo mais dilacerante. Estradas esburacadas, caos nos aeroportos, cortes de energia e água.
E cada improvisação que cuida resolver um problema imediato soma um problema futuro.
Desleixo foi o termo que Sergio Buarque de Holanda usou para definir a colonização de Portugal no brasil. Tudo era feito de qualquer jeito e a lei do mínimo esforço se tornou a regra. O desleixo cruzando com o jeitinho pariu um filho pródigo: a improvisação.