"O Globo" 26/03/07
George Vidor
A estatização na Venezuela
O que tem acontecido na Venezuela é resultado de um longo período de insensatez, que teve início em 1973, no primeiro choque do petróleo, quando lá todo o setor foi estatizado.
Em entrevista a Candido Mendes Prunes, publicada na mais recente edição da revista do Instituto Liberal do Rio, Luiz Henrique Ball, que foi presidente da Confederação da Indústria da Venezuela, conta que durante 15 anos seu país teve a inflação mais baixa do mundo (zero em 1967), com o salário real aumentando por 12 anos consecutivos.
Em 1973, a Venezuela estava entre os três maiores exportadores do mundo e sua renda por habitante superava a da Itália. Naquele ano, o investimento estrangeiro na Venezuela era maior que a soma de todas as inversões de capital externo nos demais países da América do Sul.
A partir de 1973, o que se viu na Venezuela foi a estatização de todas as indústrias de petróleo e mineração, dos serviços de telecomunicações e energia elétrica, e outros. Estatizouse até a produção de café e cacau, e os estrangeiros não podiam participar da distribuição de alimentos.
O banco central venezuelano era até 1973 uma instituição tão autônoma que chegou a ter 12 mil acionistas privados. Na prática tinha mais autonomia que o atual banco central americano, o Federal Reserve.
A partir de 1973, a estatização foi crescente a ponto de em 1988 se proibir que uma indústria fosse instalada para competir com outras.
Todos os preços de bens e serviços passaram a ser controlados pelo governo.
Em 1989, a renda por habitante da Venezuela já havia retrocedido para os níveis de 1957. O país, que em sua história só havia tido inflação acima de 10% durante cinco anos, passou a conviver com uma alta média de preços anual de mais de 20%, chegando a 100%.
Ball diz na entrevista que a experiência estatizante resultou em um dos recordes históricos de empobrecimento de uma nação, o que levou a população venezuelana a rejeitar os partidos políticos tradicionais e a permitir que um novo caudilho surgisse para conduzir o país. E a diferença em relação à experiência estatizante anterior é que agora com Hugo Cháves há cada vez mais dúvidas sobre o futuro da democracia na Venezuela.