Autor Tópico: Debate aponta hiato entre cientistas sociais e biólogos moleculares  (Lida 420 vezes)

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Offline Huxley

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Bem que o filósofo da ciência Hugh Lacey, o terceiro a ter a palavra no debate sobre o PGH (Projeto Genoma Humano) na terça-feira, na Folha, avisou. "A retórica da legitimação do enorme financiamento público e dos investimentos privados em projetos genoma, e agora também em outros estudos de biologia molecular, tem dois componentes principais."

Um deles seria metafísico (o determinismo genético e a proposta de que o seqüenciamento implica no entendimento do Livro da Vida). O outro, disse Lacey, foi a promessa de que a soletração do DNA do Homo sapiens traria grandes benefícios sociais e médicos.

O debate, feito por ocasião do lançamento do livro "Promessas do Genoma", de Marcelo Leite, colunista da Folha, serviu para sedimentar aquilo que o próprio Leite já havia mencionado em sua fala -e, também, escrito em sua mais recente obra, fruto de uma tese de doutorado em ciências sociais na Unicamp.

Ficou claro o abismo que existe entre os "humanistas" (como Lacey) e os "cientistas naturais" (representados no debate pela geneticista Mayana Zatz, da USP, e pelo biólogo molecular Gonçalo Pereira, da Unicamp), ao qual o escritor britânico Charles Percy Snow se referiu como o hiato entre "as duas culturas".

A advertência do filósofo da ciência sobre a retórica vem bem a calhar. De forma inconsciente até, os biólogos moleculares presentes ao evento se omitiram de um debate aberto.

Enquanto Lacey entrelaçou a retórica da legitimação do PGH ao enfraquecimento da ciência, porque o discurso usado pelos grandes nomes internacionais do genoma, disse o filósofo, não foram embasados na própria ciência, o segundo grupo mostrou a dificuldade de fazer uma reflexão desse processo recente da biologia.

Não que ambos os cientistas sejam apenas retóricos, não que ambos sejam "deterministas". Mas o sentido social e até ético da função deles era levado sempre para o individual.

"Quem coloca a mão na massa sabe quais são as limitações. Às vezes, você realmente tem de vender o peixe quando precisa de financiamento. Não adianta você dizer: "Olha, vou ficar 20 anos seqüenciando para talvez chegar a um resultado". A gente tenta dourar um pouquinho a pílula. Mas sabemos que as limitações são enormes e temos um longo caminho pela frente", disse Zatz.

Para ela, a tese de que os genes são os causadores de tudo também precisa cair. O ambiente --com o que todos os debatedores concordaram-- também tem um papel fundamental nos processos biológicos.

A única convergência no evento foi essa. De resto, nenhuma outra ponte parece estar sendo construída para que o hiato possa ser preenchido.

Leite, enquanto cientista social, defendeu uma reconfiguração das metáforas genéticas que, por si só, encerram o conceito determinístico dos genes.

Zatz e Pereira preferiram fincar pé em seus terrenos firmes. "A sobrevivência na face da Terra depende totalmente do conhecimento que teremos da biotecnologia", disse Pereira. "Reduzir o sensacionalismo é algo para o jornalista fazer."

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u16209.shtml

COMENTÁRIOS:

Será que Sr. Hugh Lacey e a Sra. Mayana Zatz não vêem que o determinismo genético está definitavamente morto na literatura científica?O caso de Lacey é ainda mais intrigante, porque ele alega que os cientistas utilizam o financiamento do programa genoma para cumprir objetivos metafísicos.

Muitos alegam que o determinismo ainda está vivo entre os defensores da sociobiologia, como Richard Dawkins e Edward Wilson.Nada mais enganoso.O que eles defendem é que os genes INFLUEM no comportamento dos animais, incluindo aí os humamos.Influir é uma coisa diferente de determinar.É claro que genes tem influência no comportamento, caso contrário não poderíamos explicar porque uma ovelha age diferente de um leão.Os próprios etólogos que me referi reconhecem que os seres humanos tem uma variabilidade maior de comportamento que os animais (ver citações dos dois em "Tábula Rasa", Cia das Letras), o que é uma evidência que eles consideram a influência ambiental como um fator decisivo.

O determinismo genético não só é absurdo, como contradiz a embriologia moderna.A última diz que o programa genético da embriologia NÃO é como uma planta de arquitetura de um avião.Cada gene não têm uma correspondência clara sobre como será formado cada parte do organismo individual.A alegação de determinismo genético é válido só faria sentido se pré-formacionismo também fosse.Esta última é uma antiga teoria embriológica que diz que os organismos, desde a concepção, contêm sua forma adulta completa, que se desenvolve no decorrer do tempo.

O mais absurdo é que ainda existam filósofos da ciência e biólogos precupados com uma ameaça inexistente.
"A coisa mais importante da vida é saber o que é importante". Otto Milo

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Offline Nina

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Re: Debate aponta hiato entre cientistas sociais e biólogos moleculares
« Resposta #1 Online: 02 de Abril de 2007, 22:09:46 »

COMENTÁRIOS:

Será que Sr. Hugh Lacey e a Sra. Mayana Zatz não vêem que o determinismo genético está definitavamente morto na literatura científica?O caso de Lacey é ainda mais intrigante, porque ele alega que os cientistas utilizam o financiamento do programa genoma para cumprir objetivos metafísicos.

Muitos alegam que o determinismo ainda está vivo entre os defensores da sociobiologia, como Richard Dawkins e Edward Wilson.Nada mais enganoso.O que eles defendem é que os genes INFLUEM no comportamento dos animais, incluindo aí os humamos.Influir é uma coisa diferente de determinar.É claro que genes tem influência no comportamento, caso contrário não poderíamos explicar porque uma ovelha age diferente de um leão.Os próprios etólogos que me referi reconhecem que os seres humanos tem uma variabilidade maior de comportamento que os animais (ver citações dos dois em "Tábula Rasa", Cia das Letras), o que é uma evidência que eles consideram a influência ambiental como um fator decisivo.

O determinismo genético não só é absurdo, como contradiz a embriologia moderna.A última diz que o programa genético da embriologia NÃO é como uma planta de arquitetura de um avião.Cada gene não têm uma correspondência clara sobre como será formado cada parte do organismo individual.A alegação de determinismo genético é válido só faria sentido se pré-formacionismo também fosse.Esta última é uma antiga teoria embriológica que diz que os organismos, desde a concepção, contêm sua forma adulta completa, que se desenvolve no decorrer do tempo.

O mais absurdo é que ainda existam filósofos da ciência e biólogos precupados com uma ameaça inexistente.

Huxley, você tem certeza disso?
"A ciência é mais que um corpo de conhecimento, é uma forma de pensar, uma forma cética de interrogar o universo, com pleno conhecimento da falibilidade humana. Se não estamos aptos a fazer perguntas céticas para interrogar aqueles que nos afirmam que algo é verdade, e sermos céticos com aqueles que são autoridade, então estamos à mercê do próximo charlatão político ou religioso que aparecer." Carl Sagan.

 

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