Governo Federal
A doença crônica da corrupção
Passados dois anos e meio da posse, o governo Lula é alvo de sucessivas denúncias e pode ser investigado por CPI no Congresso
CAROLINA BAHIA E LETÍCIA SANDER/ Agência RBS/Brasília
Ainda a bordo do Sucatão na viagem que fez à China em maio de 2004, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva comemorava os bons resultados da economia quando ouviu de um dos deputados governistas mais fiéis um comentário que o deixou contrariado:
- Presidente, se a gente conseguir reduzir em 30% a corrupção no Brasil, sobrará dinheiro para investimentos.
A sinceridade do deputado alertou o presidente. Eliminar em 100% a sangria nos cofres públicos era uma das principais promessas de campanha do PT. Mas, passados dois anos e meio, o governo Lula acumula uma sucessão de denúncias que podem culminar na abertura da primeira CPI contra o Planalto desde a chegada do ex-torneiro mecânico ao poder.
Dos 10 compromissos que o PT elencou no programa de governo para combater a corrupção, só a parte técnica ganhou atenção redobrada. A Polícia Federal, o Ministério Público Federal e a Controladoria-Geral da União foram fortalecidas, inclusive com a nomeação de estrelas para os seus comandos. Mas, na tentativa de consolidar maioria no Congresso, o governo optou por abrir a guarda no campo político.
- Foram fechadas alianças em troca de favores. O Planalto buscou vassalos para servi-lo mediante pagamento - ironiza um peemedebista da ala de oposição ao governo.
Afilhado de Dirceu foi primeiro denunciado
Dos 25 mil cargos de confiança do governo federal, cerca de 10 mil estão com petistas. Outros 8 mil foram loteados entre os aliados, aí incluídos postos nas principais empresas estatais. O restante é ocupado por funcionários de carreira. No último escândalo envolvendo os Correios, no qual despontam suspeitas sobre dirigentes do PTB, os efeitos da partilha de cargos se fizeram sentir. Com um orçamento atraente, de R$ 8,5 bilhões anuais - quase três vezes mais do que a prefeitura de Porto Alegre -, a estatal teve as posições de mando divididas entre aliados.
- O nosso problema é a composição ampla demais. Esse é nosso carma - reconhece o ministro petista José Fritsch, da Secretaria da Pesca e Aqüicultura.
No governo Fernando Henrique Cardoso, a distribuição de cargos não era diferente. O controle das nomeações era centralizado nas mãos de um assessor de confiança do presidente, o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Eduardo Jorge, que tinha condições de prevenir dores de cabeça. Um mapa detalhava o partido de cada nomeado, quem o havia indicado e a remuneração do cargo.
No governo Lula, a Casa Civil faz o mesmo raio-X. Nos primeiros anos de mandato, Marcelo Sereno, assessor da pasta, era o encarregado da tarefa, em dobradinha com Waldomiro Diniz, o então braço direito do ministro José Dirceu. O problema, porém, estava dentro do Palácio do Planalto. Diniz acabou protagonizando o primeiro caso de corrupção que veio à tona no governo Lula.
- Se tudo começou dentro de casa, não é problema de aliado. O que falta é comando, articulação política - comenta o deputado Mendes Ribeiro Filho (PMDB), um dos que assinou o pedido de CPI dos Correios.
( carolina.bahia@zerohora.com.br )
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