Autor Tópico: Novilingua  (Lida 639 vezes)

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Offline Aronax

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Novilingua
« Online: 22 de Maio de 2005, 23:42:04 »
Sobre o politicamente correto.....pensem....



A língua que ninguém fala

Carlos Brickmann (*)

Gente, que horror! Um grande jornal decidiu seguir a cartilha do Lula e chamar os negros de "afrodescendentes" – uma cópia meio mambembe dos afroamericans que os Estados Unidos passaram a usar. O objetivo é evitar palavras "negativas", como "negro" ou "preto". É interessante verificar que as mesmas pessoas que vêem conotação negativa em "negro" ou "preto" acham normal chamar alguém de "branco". Branco não é "negativo". Preto é. Quem é racista?

Este colunista gosta de ciências, mas não chega a ler revistas estrangeiras. Foi nos jornais brasileiros que hoje chamam negros de afrodescendentes que aprendeu que a origem do ser humano é a África. Somos todos afrodescendentes.

A discussão sobre a afrodescendência recorda outra, hoje abandonada, sobre o nome dos americanos. Americano não podia, porque também somos parte da América; norte-americanos também não, porque México e Canadá também estão na América do Norte. Alguns optaram por "estadunidense". Só que estadunidenses são também os mexicanos, nascidos nos Estados Unidos do México; e, antes que mudassem o nome do país para República Federativa, também os brasileiros.

Em geral, quem tenta fugir aos nomes consagrados revela o racismo que tem dentro de si. O cavalheiro não é "judeu": é de "ascendência judaica" (ou, muitas vezes, de "descendência judaica", o que mostra que além de racista o redator é meio analfabeto). Não é "índio", mas de "ascendência indígena".

Negro é negro, anão é anão, judeu é judeu. Preconceito é outra coisa.


Novilíngua

Aliás, nós jornalistas adoramos usar uma língua que ninguém fala. Chamamos o passageiro, por exemplo, de "usuário". E o ônibus, o popular busão, de "coletivo". Aquele lugar por onde os carros (ou melhor, viaturas) rodam, que nos velhos tempos se chamava "rua", passou a ser "leito carroçável". E tome cuidado: às vezes, o usuário da viatura pode ser conduzido no contrafluxo.

Na verdade, na verdade, não chega a ser uma adoração jornalística pelo inusitado. O problema é que, entrevistando técnicos e ouvindo seu jargão, o jornalista muitas vezes o assimila e se torna incapaz de traduzi-lo para o português normal. E toca a chamar avião de aeronave e a falar da "implementação" de projetos.

Às vezes, é pura e simples invenção. Vá ao restaurante Speranza, ou ao Babbo Giovanni, em São Paulo, e veja se alguém pede uma "redonda". Agora, leia as indicações dos jornais: no duro, é verdade, eles chamam pizza de redonda. Outras vezes inventam moda: note que nenhum produto agora é vendido, é "comercializado". Já imaginou alguém chegando ao boteco e perguntando ao português se ele "comercializa" empadinha de palmito?

Mas, para ser justo, não é só jornalista que gosta dessas coisas. Funcionário público também – tanto que, se você morar em São Paulo, no seu prédio o atestado de que o elevador foi vistoriado o chama de "aparelho de transporte", ou simplesmente AT. O "aparelho de transporte", em vez de elevador, ainda não chegou aos jornais. Mas deve ser apenas uma questão de tempo.


Entre as manias que temos

E, já que estamos falando de manias, uma que pegou firme é a de dar a nacionalidade do cavalheiro antes de citar seu nome. O "uruguaio" Lugano, o "argentino" Passarela, o "iraniano" Kia Joorabchian – como se o leitor não estivesse careca de saber a nacionalidade dos personagens (e, a propósito, como se isso tivesse alguma importância na ordem das coisas). Mas o mais engraçado é o que ocorre na Fórmula 1: o "piloto brasileiro" Rubinho Barrichello. E não fica por aí: a partir da segunda citação, é "o brasileiro Rubinho". A essa altura do campeonato, colegas, quem se surpreenderá com essa revelação?
Uma verdade ou um ser podem ser vistos de vários pontos, porém a verdade e o ser estão acima de pontos de vista.

Offline n/a

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Re.: Novilingua
« Resposta #1 Online: 23 de Maio de 2005, 22:17:33 »
Qual o problema de usar novas expressões para antigas idéias?

rizk

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Re.: Novilingua
« Resposta #2 Online: 23 de Maio de 2005, 23:10:14 »
O problema é mais o profissional da comunicação não conseguir fazer o seu texto inteligível porque é pedante paga-pau do NYT.

Offline n/a

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Re: Re.: Novilingua
« Resposta #3 Online: 24 de Maio de 2005, 22:01:28 »
Citação de: rizk
O problema é mais o profissional da comunicação não conseguir fazer o seu texto inteligível porque é pedante paga-pau do NYT.


Ah, é inteligível sim. E, de pedante por pedante, todos nós somos um pouco, mesmo os que humildes se dizem...

Já copiar o nosso querido New York Times, bom, se copiassem algumas coisas direito ao menos...

 

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