Autor Tópico: Um milhão de Egípcios vivem em cemitérios.  (Lida 999 vezes)

0 Membros e 1 Visitante estão vendo este tópico.

Offline Pregador

  • Conselheiros
  • Nível Máximo
  • *
  • Mensagens: 8.056
  • Sexo: Masculino
  • "Veritas vos Liberabit".
Um milhão de Egípcios vivem em cemitérios.
« Online: 11 de Abril de 2007, 08:52:54 »
Citar
11/04/2007

EL PAIS

Um lar em pleno cemitério

Um milhão de pessoas vivem entre os mortos no Egito devido à falta de moradias

Ángeles Espinosa
No Cairo

"Não há motivo para ter medo dos mortos", sorri Fathiya. Ela, seu marido e os seis filhos vivem no mausoléu da família Zaruq, um notável da época otomana cujos descendentes continuam sendo enterrados sob as lápides. Em cima, estende-se roupa e as crianças brincam. O túmulo, cujo pórtico testemunha um passado melhor, fica na Rua Al Hasan al Malakia em Qarafa, o conjunto de cemitérios do Cairo conhecido como Cidade dos Mortos. A falta de residências acessíveis leva 15 milhões de egípcios a viver em submoradias, algumas tão insólitas quanto barcos de pesca no Nilo, barracos levantados sobre os tetos ou túmulos nos cemitérios.

Mas o lugar onde Fathiya vive se parece muito pouco com um cemitério ocidental. As construções fúnebres testemunham a tradição egípcia de sepultar os mortos em moradias que permitissem a suas famílias passar com eles o luto de 40 dias. "Estamos vivendo aqui há 27 anos", conta Fathiya atravessando o ensolarado pátio sob o qual se encontram as tumbas. Depois do saguão se percebem dois pequenos quartos e uma cozinha. Não tem água corrente nem eletricidade. E ela não se queixa. Mas sem dúvida gostaria de ter uma casa mais convencional.

"É impossível, ao preço que estão os aluguéis", resigna-se. Além disso, está acostumada ao cemitério. Viveu aqui toda a sua vida, já que seu pai, Ali Mustafa, trabalha como coveiro desde que migrou para a capital há 60 anos, fugindo da miséria de Sohag, no Alto Egito.

Aos 81 anos, Mustafa não só continua ativo como é a memória histórica do lugar. Conhece cada uma das grandes famílias que têm seus mortos enterrados nesse setor da necrópole. Assim, quando soube que Fathiya ia se casar, não demorou muito a convencer os Zaruq para que confiassem a ela e seu marido o cuidado do mausoléu em troca de poderem viver nele. Outros pagam algumas libras aos guardiões do cemitério para que os deixem se instalar em seu recinto. Não é anedótico. O Comitê de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais da ONU mostrou sua preocupação pelo fenômeno: entre 500 mil e 1 milhão de egípcios residem entre os mortos, segundo estatísticas extra-oficiais. A imprensa local eleva essa cifra para 2 milhões.

Cerca de 50 mil vivem em túmulos propriamente ditos. Os demais se apertam em submoradias construídas sobre antigos sepulcros. Alguns puxaram fios do poste elétrico mais próximo ou desviaram canos de água. Inclusive surgiram pequenas oficinas e lojas que suprem as necessidades de seus habitantes. Os táxis estacionados em frente a algumas dessas casas indicam o progresso socioeconômico de seus moradores.

A necrópole se transformou em metrópole. E o Estado reconheceu suas necessidades: na Rua Al Hasan al Malakia há uma mesquita e uma escola primária. Mas só pela metade. Em algumas esquinas o odor lembra que não há serviço de esgoto nem coleta de lixo porque a ocupação de Qarafa continua sendo ilegal.

Mesmo assim, muitos de seus habitantes não estão dispostos a mudar-se para outro lugar. Em fevereiro de 2001, quando o governador do Cairo lançou a idéia de transferir 110 mil tumbas do cemitério de Bab el Nasser, um dos cinco que formam a necrópole, encontrou grande oposição. "Os apartamentos que o Ministério da Habitação oferece na Cidade 15 de Maio não têm água nem eletricidade, e é preciso pagar 1.500 libras [cerca de 260 euros]", queixou-se então Omar, um pai de família com quatro filhos e sem trabalho regular. "Mesmo se encontrasse um emprego fixo não ganharia mais de 150 libras por mês; aqui dou 18 ao guardião e estamos seguros. Viver com os mortos é a única solução", concluiu.

E não se trata dos mais desafortunados. Segundo o Centro Egípcio dos Direitos Individuais, 30% das famílias do Cairo vivem em casas de um único cômodo. Muitas ocupam refúgios construídos durante a guerra de 1973 para proteger a população dos bombardeios; outras se alojam em barracos levantados nos tetos e inclusive há quem resida no lugar de trabalho, seja uma oficina mecânica ou um barco de pesca no rio Nilo. Quase a metade da população urbana vive em assentamentos informais, bairros espontâneos muito populosos e carentes de serviços básicos, incluindo às vezes água potável e esgoto.

"As condições em que se vive no Egito são apenas o reflexo da situação socioeconômica", afirma Kamel Riad Morcos, arquiteto especializado em planejamento urbano. Na opinião dele, o país tem um déficit de 1,6 milhão a 1,7 milhão de moradias. Quer dizer que entre 8 milhões e 8,5 milhões de egípcios não têm atualmente uma casa decente - mais de 10% da população. Na opinião dele seriam necessárias 14 milhões de unidades residenciais, mas o Ministério do Planejamento só tem recenseadas 12,3 milhões de moradias ocupadas.

O mesmo relatório reconhece a existência de 1,8 milhão de apartamentos vazios em todo o país. "O mercado está distorcido, produz um monte de casas que ficam vazias", explica Joseph Schechla, coordenador para o Oriente Médio da Habitat International Coalition, uma ONG que defende o direito a uma moradia digna. Segundo seus dados, são 3 milhões os domicílios desocupados, "mais ou menos o mesmo número de famílias sem casa ou em submoradias". Isso eleva para 15 milhões os habitantes das favelas que cresceram ao redor das grandes cidades egípcias, número utilizado pela imprensa local sem que as autoridades tenham contestado.

Cidades no deserto

O congelamento das rendas depois da revolução de 1958, o êxodo rural e a emigração para os países petrolíferos da mão-de-obra qualificada nos anos 70 também afetaram o mercado. Mas, sobretudo, a explosão demográfica do último meio século. O Egito passou de 24 milhões de habitantes em 1952 para os 76,5 milhões atuais, segundo o último censo. Com um crescimento estimado em 1,3 milhão por ano, estará próximo de 95 milhões em 2017. O governo estima que até lá precisará construir 5,3 milhões de novas moradias para acomodar a nova população.

Isso em um espaço limitado. Apesar de o país ocupar 1 milhão de quilômetros quadrados, quase o dobro da Espanha, 98% da população se concentram em apenas 5% do território, no vale e no delta do Nilo. O resto é deserto. O problema é especialmente crucial nas zonas urbanas, onde vive a metade dos egípcios, especialmente na Grande Cairo, que com quase um quarto do total constitui a maior cidade do continente africano.

A data de 2017 não é arbitrária. É o horizonte que o governo traçou em 1997 para sua estratégia de ampliar a área habitada do Egito para 25% do país e assim reduzir a pressão sobre o vale do Nilo. O objetivo era levantar 44 novas cidades no deserto; criar um programa estatal para facilitar o acesso à moradia aos menos favorecidos e deixar o resto às forças do mercado. Nas últimas eleições, o presidente Hosni Mubarak prometeu 500 mil novas residências por ano.

"O problema não é construir, mas que tipo de residência e para quem. Ninguém quer construir para os de baixa renda porque não dá lucros, o mesmo acontece com as classes médias e os jovens", lamenta o arquiteto Morcos. De fato, ao longo da liberalização econômica, o mercado de residências de luxo e condomínios fechados se transformou nos últimos anos em um negócio florescente.

Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/elpais/2007/04/11/ult581u2062.jhtm


Será que nossos cemitérios também vão virar favelas??
"O crime é contagioso. Se o governo quebra a lei, o povo passa a menosprezar a lei". (Lois D. Brandeis).

Offline Guinevere

  • Nível Máximo
  • *
  • Mensagens: 5.861
  • Sexo: Feminino
Re: Um milhão de Egípcios vivem em cemitérios.
« Resposta #1 Online: 11 de Abril de 2007, 09:00:21 »
bom, as favelas já são cemitérios... é infame mas é verdade

Offline Pregador

  • Conselheiros
  • Nível Máximo
  • *
  • Mensagens: 8.056
  • Sexo: Masculino
  • "Veritas vos Liberabit".
Re: Um milhão de Egípcios vivem em cemitérios.
« Resposta #2 Online: 11 de Abril de 2007, 09:16:45 »
Deve ser coisa de Egípcio mesmo... A milênios eles constroem mega-tumbas, são especializados em cemitérios e necrópolis. Deve ser comum você tomar banho sabendo que o tatatatataravô ta alí do lado na sua "caixinha"... É coisa de família.

Antes construiam as tumbas pensando na volta, quando ressucitassem e tivesse várias coisas ao seu dispôr, agora constroem-se as tumbas para garantir que os que continuem vivos tenham onde morar...

Não é por nada, mas acho que o Egito precisa de um programa de controle de natalidade, mas não sei como isso seria recepcionado em um país com maioria muçulmana.
"O crime é contagioso. Se o governo quebra a lei, o povo passa a menosprezar a lei". (Lois D. Brandeis).

Offline Rodion

  • Nível Máximo
  • *
  • Mensagens: 9.872
Re: Um milhão de Egípcios vivem em cemitérios.
« Resposta #3 Online: 12 de Abril de 2007, 01:19:46 »
Deve ser coisa de Egípcio mesmo… A milênios eles constroem mega-tumbas, são especializados em cemitérios e necrópolis. Deve ser comum você tomar banho sabendo que o tatatatataravô ta alí do lado na sua "caixinha"… É coisa de família.

Antes construiam as tumbas pensando na volta, quando ressucitassem e tivesse várias coisas ao seu dispôr, agora constroem-se as tumbas para garantir que os que continuem vivos tenham onde morar…

Não é por nada, mas acho que o Egito precisa de um programa de controle de natalidade, mas não sei como isso seria recepcionado em um país com maioria muçulmana.

nem tanto só coisa de egípcio. a religião antiga romana era muito parecida nesse aspecto..
"Notai, vós homens de ação orgulhosos, não sois senão os instrumentos inconscientes dos homens de pensamento, que na quietude humilde traçaram freqüentemente vossos planos de ação mais definidos." heinrich heine

One

  • Visitante
Re: Um milhão de Egípcios vivem em cemitérios.
« Resposta #4 Online: 12 de Abril de 2007, 06:08:55 »
Não é por nada, mas acho que o Egito precisa de um programa de controle de natalidade, mas não sei como isso seria recepcionado em um país com maioria muçulmana.

Parecer sobre contraceptivos

"Sheikh Munir, Representante da comunidade islâmica, imã da Mesquita Central de Lisboa

«Os juristas muçulmanos concordam, unanimemente, que, depois de o feto estar formado e receber uma alma (120 dias após a fecundação) é ilícito abortá-lo.» Aborto é considerado crime «tal como uma ofensa contra um ser humano completo e vivo».

Mas se a continuação da gravidez resultar inevitavelmente na morte da mãe, então, de acordo com o princípio geral de Shariah (o de escolher o menor entre
dois males), o aborto pode ser realizado. «A mãe é a origem do feto, além do
mais, ela está consolidada na vida, com deveres e responsabilidades, e constitui um pilar da família.» Ao contrário do feto, que «não adquiriu personalidade, nem tem responsabilidades nem obrigações a cumprir».

O planeamento familiar é permitido no Islão. «O casal tem de ponderar muito bem se quer ter filhos ou não e quantos deseja ter. Não se justifica abortar, sem uma razão válida ou sagrada.»

 "

Fonte
« Última modificação: 12 de Abril de 2007, 06:12:51 por One »

Offline Rodion

  • Nível Máximo
  • *
  • Mensagens: 9.872
Re: Um milhão de Egípcios vivem em cemitérios.
« Resposta #5 Online: 12 de Abril de 2007, 06:16:19 »
120 dias? uau.
"Notai, vós homens de ação orgulhosos, não sois senão os instrumentos inconscientes dos homens de pensamento, que na quietude humilde traçaram freqüentemente vossos planos de ação mais definidos." heinrich heine

 

Do NOT follow this link or you will be banned from the site!