Acreditar em milagres é crer que um evento racionalmente fortuito foi intencionalmente direcionado para o bem de uma determinada pessoa.
Normalmente (pelo menos em sentido religioso), diz-se que um milagre (do latim "miraculum": maravilha, admiração) é um acto de intervenção divina sobre a Natureza. Ou seja, uma quebra das "leis naturais" devido a um ser divino. Água a transformar-se em vinho, alguém a andar sobre as águas, panos secos apesar da chuva, um altar cheio de água a incendiar-se, e até mesmo a destruíção sobrenatural de cidades, são milagres, independentemente de beneficiar alguém.
Católicos não querem jogar a Ciência fora, como às vezes, se faz parecer. Eles confiam em médicos, remédios, tratamentos, mas não concordam com tudo que a Ciência faz, pratica, desenvolve. É simples de entender.
É claro que o Papa vai recorrer à medicina, ele é um homem culto, instruído. Um homem que certamente lê muito, têm crenças, opiniões próprias, defende idéias em que acredita. Um homem com opiniões retrógradas, muitas vezes, de atitudes questionáveis, enfim, um homem comum. Não compreendo esse exagero… toda essa agitação porque "óóóó o Papa foi ao médico". 
A erudição no papado já é uma tradição de, pelo menos, desde a Renascença, e com real interesse no conhecimento, mesmo que oposto às doutrinas. Na Idade Média, os monges, que podiam isolar-se nos mosteiros e abadias, eram os heréticos secretos, com as suas bibliotecas com tentadores segredos pagãos e de muçulmanos. Eram eles que, por exemplo, descobriam as propriedades medicinais das plantas na Europa, ou traziam das terras mais distantes. Mas o conhecimento era confinado entre paredes. E o papa não é monge.
Nesses tempo as "ciências" (ou filosofias naturais) de Aristóteles eram autoridade e um monopólio sobre o conhecimento da natureza, como um complemento aos textos sagrados. Com o tempo, os papas tiveram sempre de recuar nas suas "ciências", mas sem antes impor moralismos quanto ao que é permitido estudar ou fazer uso das descobertas.
Quando a filosofia de Aristóteles era uma autoridade sobre a Natureza, e Galeno na Medicina, nada que se desviasse era permitido, pelo contrário, podiam ser mortos se o fizessem. Agora o corpo humano maravilhoso, a terra não plana e os novos mundos da Ciência são evidências do divino. Os cientistas e médicos são instrumentos de Deus, como as "autoridades superiores" (de Paulo) são.
A democracia e a laicidade foram severamente criticadas n'"O Sílabo dos Erros", por um papa. Também foram o uso do preservativo e a Teoria da Evolução, mas parece que a Igreja está a retractar. A isso, em Portugal, chamamos de "baixar a bolinha". Agora há uma evolução teísta, e na verdade, a Igreja precisa de evoluir, se quer sobreviver, com em qualquer organização religiosa, a não ser que esteja tão isolada do mundo.
Na verdade um papa não se pode dar ao luxo de ser anti-científico, como a maioria dos líderes religiosos actuais. Se pegarem em livros de proseletismo, por vezes há uma advertência, dizendo que reconhecem o valor das descobertas científicas, blah, blah, blah, mas que deve-se considerar os pontos-de-vista dos outros, a ciência não pode ser muito limitada, blah, blah, blah.
O actual papa, disse, no seu famoso "Fé, Razão e Universidade (…)":
Em primeiro lugar, só o tipo de certeza que resulta da interacção entre elementos matemáticos e empíricos pode ser considerada científica. Algo que se reclame científico pode ser confrontado com este critério. Deste modo, as ciências humanas, como a história, a psicologia, a sociologia e a filosofia, tentam conformar-se com este canon de cientificidade. Um segundo ponto, importante para as nossas reflexões, é que pela sua própria natureza este método exclui a questão de Deus, fazendo-a aparecer como não científica ou como uma questão pré-científica. Consequentemente, deparamo-nos com uma redução do alcance da ciência e da razão que precisa de ser questionada.
Voltarei a este problema mais tarde. Entretanto, deve observar-se que deste ponto de vista qualquer tentativa de manter a pretensão teológica de ser "científica" acabaria reduzindo o Cristianismo a um mero fragmento da sua identidade inicial. Mas devemos avançar: se a ciência como um todo é isto e isto só, então é o próprio homem que acaba sendo reduzido, porque as questões especificamente humanas acerca da sua origem e do seu destino, as questões levantadas pela religião e pela ética, não terão então lugar no conjunto dos objectos da razão colectiva como definida pela "ciência", assim compreendida, e devem, por conseguinte, ser relegadas para o domínio do subjectivo. O sujeito então decide, na base das suas experiências, aquilo que ele considera adequado em matérias de religião, e a "consciência" subjectiva torna-se o único árbitro do que é ou não ético. Deste modo, contudo, a ética e a religião perdem o seu poder de criar uma comunidade e tornam-se uma matéria completamente pessoal. Este é o perigoso estado de coisas da humanidade, tal como vemos a partir das perturbadoras patologias da religião e da razão que irrompem necessariamente quando a razão é de tal modo reduzida que as questões de religião e ética já não lhe dizem respeito. As tentativas de construir uma ética a partir das regras da evolução ou da psicologia e sociologia, acabam por se mostrar simplesmente desadequadas.
Esta tentativa, a pinceladas largas, de uma crítica da razão moderna por dentro, que não tem nada a ver com recuar no tempo anterior ao Iluminismo ou rejeitar as conquistas da idade moderna. Os aspectos positivos da modernidade devem ser reconhecidos sem reservas: estamos todos gratos pelas maravilhosas possibilidades que foram abertas à humanidade e ao progresso que nos foi concedido. O ethos científico, é, para além disso, - como mencionou o Magnífico Reitor - a vontade de obedecer à verdade e, deste modo, incorpora uma atitude que pertence às decisões essenciais do espírito do Cristianismo. A intenção aqui não é de entrincheiramento ou de criticismo negativo, mas de alargamento do nosso conceito de razão e da sua aplicação. Ao mesmo tempo que nos alegramos com as novas possibilidades que se abrem à humanidade, também vemos os perigos que decorrem destas possibilidades e devemos perguntarmo-nos como os poderemos ultrapassar. Seremos bem sucedidos só se a razão e a fé se juntarem de uma forma nova, se ultrapassarmos a auto-imposta limitação da razão ao empiricamente verificável, e se uma vez mais libertarmos os seus vastos horizontes.
O papa, pelas suas palavras, quer que o Cristianismo "parasite" a Ciência, tal como os "Cientistas Criacionistas". Mas, é claro, que um "Cientista Criacionistas" tomm aspirinas se for preciso, e os membros da "Sociedade da Terra Redonda" não se privam da Internet para divulgar as suas ideias.
Um líder de uma doutrina, por mais retrógada que seja, pode usar a Ciência quando esta for conveniente a determinada situação (tal como George Orwell demonstra no "1984"), e para isso é necessária muita erudição. O fundamental é que a essência da doutrina não se desmorone, e para isso é necessário muito conhecimento no topo da pirâmide, e pouco na base (como um "Cube Zero" ou um "Admirável Mundo Novo", onde o líder é o único que pode ter acesso a certos livros). Mas com informação livre para as massas, como é isso possível?