Autor Tópico: Liberalismo e religião - Rodrigo Constantino  (Lida 1242 vezes)

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Offline Herf

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Liberalismo e religião - Rodrigo Constantino
« Online: 22 de Abril de 2007, 09:37:57 »
Liberalismo e Religião

Rodrigo Constantino

"O resultado final da disputa entre liberalismo e totalitarismo não será decidido pelas armas, mas por idéias." (Ludwig von Mises)

O liberalismo trata dos aspectos mundanos não por desprezo aos bens espirituais, mas por convicção de que as mais elevadas e profundas demandas do espírito não podem ser tratadas pela regulação de qualquer força exógena. Elas partem de dentro de cada indivíduo. Mesmo aqueles que abraçam um ideal de vida ascético, fazendo até mesmo voto de pobreza e pregando o desapego material como ideal de vida, não podem rejeitar o liberalismo por objetivar o bem-estar material dos outros, que podem não concordar com tais estilos de vida. A busca pelo prazer material destes não atrapalha em nada a escolha pela vida humilde daqueles.

Os liberais, como explica Mises em Liberalism, estão cientes do fato de que os homens agem de forma não razoável de vez em quando. Se os homens sempre agissem de forma razoável, seria supérfluo exortá-los a serem guiados pela razão. O liberalismo não diz que os homens sempre agem de forma inteligente, mas sim que eles deveriam agir através da compreensão de seus próprios interesses, de forma inteligente. A essência do liberalismo seria, segundo Mises, essa vontade de conceder à razão na esfera da política social a mesma aceitação que é concedida em todas as demais esferas da ação humana. Nosso poder de compreensão é bastante limitado, mas tudo que o homem é e que o coloca acima dos demais animais ele deve à sua razão. Por que então abdicar do uso da razão justamente na esfera da política social e confiar em sentimentos ou impulsos vagos e obscuros?

O campo de preocupação do liberalismo é totalmente restrito aos aspectos da vida nesse mundo. O reino da religião, por outro lado, não é deste mundo. Portanto, o liberalismo e a religião podem ambos existir lado a lado sem que suas esferas se toquem. Se chegarem ao ponto de colisão, não é por culpa do liberalismo, já que este não pretende transgredir sua própria esfera. Ele não invade o domínio da fé religiosa ou da doutrina metafísica. Entretanto, ele pode encontrar a Igreja como uma força política demandando o direito de regular de acordo com seu julgamento não apenas da relação do homem com o mundo do além, mas também dos aspectos desse mundo. Quando este ponto é atingido, as linhas que demarcam os territórios precisam ser traçadas.

A vitória do liberalismo, conforme coloca Mises, foi tão avassaladora que a Igreja teve que desistir, de uma vez por todas, de reclames mantidos por séculos. Os heréticos sendo queimados, as perseguições da Inquisição, as guerras religiosas – tudo isso pertence ao passado, onde o liberalismo deu o ar de sua graça. Ninguém consegue entender hoje como alguém poderia ser levado diante de julgamento apenas por praticar uma devoção que considerava correta entre quatro paredes de sua própria casa. E vários ainda foram torturados ou mortos por conta disso! Ainda assim, uma razoável magnitude de intolerância perdura. E o liberalismo deve ser intolerante com todo tipo de intolerância. Como dizia Sir Karl Popper, “não devemos aceitar sem qualificação o princípio de tolerar os intolerantes senão corremos o risco de destruição de nós próprios e da própria atitude de tolerância”. A cooperação pacífica e voluntária entre os homens não deve ser perturbada por fanáticos religiosos.

O liberalismo proclama a tolerância com toda fé religiosa ou crença metafísica, pela convicção de que esse é o único meio de se manter a paz. E porque ele defende a tolerância com todas as opiniões de todas as igrejas e cultos, ele deve lembrar sempre os limites dessas crenças, evitando que avancem na esfera desse mundo de forma intolerante com os que não compartilham da mesma crença. Eis um princípio básico de um Estado laico, que separa a religião dos assuntos do governo, como os “pais fundadores” americanos já pregavam. Não custa lembrar que Thomas Paine afirmou que “é um grande perigo para a sociedade uma religião tomar partido em disputas políticas”, exortando seus concidadãos a “desprezar e reprovar” esta mistura entre ambos.

Mises considera difícil entender porque estes princípios de tolerância do liberalismo fazem inimigos entre os adeptos de diferentes tipos de fé religiosa. Se por um lado não se permite a conversão de crentes pela coerção, por outro lado se protege cada credo do proselitismo coercitivo de outras seitas. O liberalismo não tira nada da fé que pertença à sua esfera adequada. No fundo, as próprias seitas religiosas costumam pregar a tolerância, mas apenas quando são minoritárias. Trata-se de uma estratégia de sobrevivência. Uma vez assumindo a posição majoritária na sociedade, costuma ser intolerante com as demais seitas. Não gosta de competição. A tolerância defendida pelo liberalismo não tem este caráter de oportunismo. Ela é calcada em princípios, e aceita as mais absurdas crenças, por mais heterodoxas que possam ser, incluindo todo tipo de superstição tola. Somente a tolerância pode criar e preservar as condições da paz social sem a qual a humanidade iria retornar à barbárie e penúria de séculos atrás.

Ludwig von Mises resume de forma muito objetiva: “Contra aquilo que é estúpido, sem sentido, errôneo, e mal, o liberalismo luta com suas armas da mente, e não com a força bruta e repressão”. O liberalismo tolera todo tipo de religião enquanto esta ficar restrita ao seu campo adequado de atuação. Que toda religião tolere o liberalismo também!

http://rodrigoconstantino.blogspot.com/

Offline FxF

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Re: Liberalismo e religião - Rodrigo Constantino
« Resposta #1 Online: 22 de Abril de 2007, 11:59:02 »
Mas como quando a própria religião é contra a liberdade religiosa? Põe os adeptos de outras como possuídos pelo demônio e pecadores - pois é isso que prega.

Offline Eleitor de Mário Oliveira

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Re: Liberalismo e religião - Rodrigo Constantino
« Resposta #2 Online: 22 de Abril de 2007, 14:11:24 »
Ótimo texto!

Eriol

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Re: Liberalismo e religião - Rodrigo Constantino
« Resposta #3 Online: 22 de Abril de 2007, 16:07:02 »
fica a incoêrencia de atacar o próprio fundamento da doutrina... Liberdade über alles.

Offline Eleitor de Mário Oliveira

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Re: Liberalismo e religião - Rodrigo Constantino
« Resposta #4 Online: 22 de Abril de 2007, 17:00:47 »
fica a incoêrencia de atacar o próprio fundamento da doutrina… Liberdade über alles.

Como disse Thomas Jefferson: “O preço da liberdade é a eterna vigilância”.


Eriol

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Re: Liberalismo e religião - Rodrigo Constantino
« Resposta #5 Online: 22 de Abril de 2007, 17:23:18 »
hein?

eu eqüei liberdade metafísica com crença se não entendeu.

Offline Herf

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Re: Liberalismo e religião - Rodrigo Constantino
« Resposta #6 Online: 22 de Abril de 2007, 18:45:37 »
fica a incoêrencia de atacar o próprio fundamento da doutrina… Liberdade über alles.

Modificando aquela frase usada para refutar a afirmação religiosa de que "ateísmo também é religião", dizer que a política da liberdade individual é uma imposição como qualquer outra é como dizer que careca é uma cor de cabelo.

Eriol

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Re: Liberalismo e religião - Rodrigo Constantino
« Resposta #7 Online: 22 de Abril de 2007, 18:48:36 »
outro que não entendeu.

Offline Herf

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Re: Liberalismo e religião - Rodrigo Constantino
« Resposta #8 Online: 22 de Abril de 2007, 19:13:42 »
Explique, então.

Offline Eleitor de Mário Oliveira

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Re: Liberalismo e religião - Rodrigo Constantino
« Resposta #9 Online: 22 de Abril de 2007, 22:56:21 »
hein?

eu eqüei liberdade metafísica com crença se não entendeu.

 :inri:

 

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