Pedido oficial para que 'Guernica' visite o País Basco causa polémicaO Governo do País Basco pediu ao primeiro-ministro espanhol, José Luis Zapatero, a cedência temporária de Guernica, o quadro mais conhecido de Pablo Picasso, actualmente exposto no Museu Reina Sofia, em Madrid. Com vista a assinalar a comemoração do 70.º aniversário dos bombardeamentos sobre a cidade, no próximo ano, o Governo Basco deseja expor a obra no Museu Guggenheim, em Bilbau.
Num comunicado, o Executivo presidido por Juan José Ibarretxe afirmou que o quadro de Picasso, que representa a destruição da antiga capital basca pela secção do exército alemão que apoiou Franco durante a Guerra Civil espanhola, "é um grito pela paz e a liberdade, a resposta do grande pintor às bombas e mentiras com as quais Franco e os seus aliados bombardearam Guernica".
O pedido de cedência não foi bem aceite, tanto pelo Ministério da Cultura como pela direcção do Reina Sofia, que colocaram diversas reticências ao traslado devido ao estado frágil em que se encontra a obra. Guernica sofreu vários danos causados pelas numerosas viagens realizadas durante anos para angariar fundos para os refugiados espanhóis. Em 1958, Picasso deixou instruções para que o quadro não voltasse a circular, a não ser para voltar a Espanha quando esta fosse de novo uma democracia, mas o regresso efectivo só se verificou em 1981.
No entanto, o Governo Basco, assim como o director do museu Guggenheim, Juan Maria Vidarte, consideram possível o traslado, através do recurso a todas as medidas de protecção necessárias, mantendo assim a "esperança" de que a peça seja exibida em Bilbau. Nas palavras dos representantes do Governo autonómico, a peça poderá "realizar uma viagem de ida e volta para ser exposta, unindo o quadro e a cidade mártir que lhe deu o nome, mostrando que aquilo que aconteceu e é plasmado no quadro, sucedeu na 'pessoa' de Guernica a toda a humanidade". Além das dificuldades apontadas devido à fragilidade da tela, e apesar de se falar numa cedência temporária, são muitos os que consideram este pedido como um primeiro passo para que a obra fique na capital do País Basco, de acordo com as exigências nacionalistas. Após a reunião do Conselho de Governo Basco, a porta-voz e conselheira da cultura, Miren Azkarate, criticou as palavras da ministra Carmen Calvo, que defendeu que o quadro "não vai sair do Reina Sofia", museu onde se encontra exposto, indicando que "eu não faço política com as peças do património público dos espanhóis".
Estas declarações foram qualificadas como "infelizes" pela porta- -voz do Governo basco, que acusou a ministra de revelar "preconceitos políticos". O 70.º aniversário do bombardeamento de Guernica, em Abril do próximo ano, insistiu Azkarate, é "boa altura" para que esta obra seja exposta "na antessala de Gernika, no Museu Guggenheim".
Quando voltou a Espanha, no início da década de 80, a obra-prima de Picasso ficou exposta numa das alas anexas ao Museu do Prado, em Madrid. Em 1994 passou para o Reina Sofia, onde ocupa uma galeria especial (com dezenas de estudos preparatórios) e continua a ser uma das obras mais procuradas pelos muitos milhares de visitantes do museu.