Autor Tópico: Cientistas encontram os primórdios da moralidade no comportamento de primatas  (Lida 3216 vezes)

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Offline Alegra

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Cientistas encontram os primórdios da moralidade no comportamento de primatas

Nicholas Wade


Alguns animais são surpreendentemente sensíveis ao sofrimento dos outros. Chimpanzés, que não sabem nadar, morreram afogados em piscinas de zoológico tentando salvar os outros. Quando podem só obter comida puxando uma corrente que também desfere um choque elétrico a um companheiro, macacos rhesus passam fome por vários dias.

Biólogos argumentam que esses e outros comportamentos sociais são os precursores da moralidade humana. Eles também acreditam que, se a moralidade nasceu de regras de comportamento formuladas pela evolução, cabe aos biólogos, e não aos filósofos ou teólogos, dizer quais são essas regras.

Filósofos especialistas em moral não levam a sério a intenção dos biólogos de anexarem o assunto, mas interessam-se pelo que os biólogos têm a dizer e iniciou-se um diálogo acadêmico entre eles.

O primeiro grito de batalha foi do biólogo Edward O. Wilson, há mais de 30 anos, quando sugeriu em seu livro "Sociobiology" (sociobiologia) que chegara "a hora de a ética ser removida temporariamente das mãos dos filósofos" e passar aos biólogos. Talvez ele tenha corrido antes do tiro de largada, mas nas décadas que se passaram os biólogos fizeram um progresso considerável.

No ano passado, Marc Hauser, biólogo evolucionário de Harvard, propôs em seu livro "Moral Minds" (mentes morais) que o cérebro tem um mecanismo geneticamente determinado para adquirir regras morais, uma gramática moral universal. O mecanismo seria similar ao maquinário neural usado para aprender uma língua. Em outro livro recente, "Primates and Philosophers" (primatas e filósofos), o primatologista Frans de Waal defende, contra as críticas dos filósofos, a opinião que a raiz da moralidade pode ser vista no comportamento social de macacos e gorilas.

De Waal, que é diretor do Centro Living Links da Universidade Emory, argumenta que todos os animais sociais tiveram que restringir ou alterar seu comportamento de várias formas para a vida em grupo valer a pena. Essas restrições, evidentes em macacos e ainda mais em chimpanzés, também fazem parte da herança humana, e em sua opinião formam o conjunto de comportamentos do qual a moralidade humana foi formada.

Muitos filósofos acham difícil pensar em animais como seres morais. Waal de fato não alega que possuem moralidade, mas argumenta que a moralidade humana seria impossível sem certas bases emocionais que claramente estão em funcionamento em sociedades de chimpanzés e gorilas.

As opiniões de Waal baseiam-se em anos de observação de primatas não-humanos, começando com um trabalho sobre agressão nos anos 60. Ele observou que, depois de brigas entre dois combatentes, outros chimpanzés consolavam o perdedor. No entanto, batalhas com psicólogos o impediram de atribuir estados emocionais aos animais, e levou 20 anos para voltar ao assunto.

Ele descobriu que a consolação era universal entre os grandes primatas não-humanos, mas geralmente ausente em macacos menores - em algumas espécies as mães nem confortam um filhote ferido. Consolar o outro requer empatia e um grau de autoconsciência que apenas primatas parecem possuir, argumenta Waal. Ao perceber a empatia, o pesquisador passou a explorar as condições para a moralidade.

A moralidade humana poder envolver noções de direito e justiça e distinções éticas sofisticadas, mas começa com uma preocupação com os outros e a compreensão de regras sociais sobre como devem ser tratados, diz Waal. Neste nível inferior, há o que os primatólogos consideram uma sobreposição considerável entre o comportamento das pessoas e de outros primatas sociais.

A vida social requer empatia, que é especialmente evidente em chimpanzés, assim como formas de colocar fim a hostilidades internas. Toda espécie de macaco tem seu próprio protocolo de reconciliação após brigas, descobriu Waal. Se dois machos não fazem as pazes, as fêmeas freqüentemente aproximam os rivais, como se sentissem que a discórdia tornasse a comunidade pior e mais vulnerável a ataques de vizinhos. Ou então elas evitam uma briga tirando pedras das mãos dos machos.
Waal acredita que essas ações sejam tomadas para o bem maior da comunidade, de forma distinta das relações de pessoa a pessoa, e que são precursoras significativas da moralidade em sociedades humanas.

Macacos e chimpanzés têm um sentido de ordem social e regras sobre o comportamento esperado, a maior parte relacionada à natureza hierárquica de suas sociedades, na qual cada membro reconhece seu próprio lugar. Macacos rhesus jovens aprendem rapidamente a se comportar e ocasionalmente têm um dedo do pé ou da mão arrancados por uma mordida como punição.

Outros primatas também têm um sentido de reciprocidade e justiça. Eles se lembram de quem lhes fez favores e quem lhes fez mal. Chimpanzés têm maior probabilidade de dividir a comida com os que limparam os pelos deles. Macacos-prego mostram seu desprazer ao receberem recompensa menor do que um parceiro por alguma tarefa, como um pedaço de pepino em vez de uma uva.

Esses quatro tipos de comportamento - empatia, capacidade de aprender e seguir regras sociais, reciprocidade e fazer as pazes - são a base da sociabilidade. Waal acredita que a moralidade humana nasceu da sociabilidade primata, mas com dois níveis extra de sofisticação. As pessoas impõem seus códigos morais com muito mais rigor, pelo uso de recompensas, punições e fama. Elas também aplicam um grau de julgamento e razão, para o qual não há paralelos nos animais.

A religião pode ser vista como outro ingrediente especial das sociedades humanas, apesar de ter emergido milhares de anos após a moral, na opinião de Waal. Há precursores claros de moralidade em primatas não-humanos, mas não há precursores da religião. Então parece razoável assumir que, quando os humanos evoluíram a partir dos chimpanzés, a moralidade emergiu primeiro, seguida pela religião. "Vejo as religiões como adições recentes", diz ele. "Sua função pode estar relacionada com a vida social e a imposição de regras com narrativas, que é o que as religiões de fato fazem."

Waal acredita que a moral humana pode ser severamente limitada pelo fato de ter evoluído como forma de união contra adversários, com as restrições morais sendo observadas somente para o grupo interno, não para os de fora. "A ironia profunda é que nossa conquista mais nobre - a moral - tem laços evolucionários com nosso comportamento mais básico - a guerra", escreve. "O sentido de comunidade requerido pela primeira foi fornecido pela última."

Waal enfrentou muitos críticos na biologia evolucionária e na psicologia. O biólogo evolucionário George Williams negou a moralidade como um mero subproduto acidental da evolução, e os psicólogos fizeram objeções à atribuição de estados emocionais aos animais. Waal convenceu seus colegas, depois de muitos anos, que proibir a inferência de estados emocionais era pouco razoável pela continuidade evolucionária esperada entre humanos e outros primatas.

Seu público mais recente são os filósofos morais, muitos interessados em seu trabalho e de outros biólogos. "Nos departamentos de filosofia, um número crescente de pessoas são influenciadas pelo que têm a dizer", disse Gilbert Harman, filósofo de Princeton.

Philip Kitcher, filósofo de Columbia, gosta da abordagem empírica de Waal. "Não tenho dúvidas de que há padrões de comportamento que compartilhamos com nossos parentes primatas e que são relevantes às nossas decisões éticas", disse ele. "Os filósofos sempre foram seduzidos pelo sonho de um sistema de ética completo e acabado, como a matemática. Não acredito que seja assim, de forma alguma."

Mas a ética humana é consideravelmente mais complicada do que a empatia que Waal descreveu nos chimpanzés. "Empatia é a matéria prima da qual um conjunto ético mais complicado pode ser formulado", disse ele. "No mundo, somos confrontados com diferentes pessoas que podem ser alvos de nossa empatia. Ética é decidir quem ajudar, por que e quando."

Muitos filósofos acreditam que o raciocínio consciente tem grande papel no controle do comportamento ético e, portanto, não acreditam que tudo nasça das emoções, como a empatia, evidente nos chimpanzés. O elemento imparcial da moralidade vem da capacidade de raciocinar, escreve Peter Singer, filósofo de Princeton, em "Primates and Philosophers" (primatas e filósofos). Ele diz: "A razão é como uma escada rolante - quando entramos, não podemos descer até que tenhamos chegado aonde nos leva."

Era essa a opinião de Immanuel Kant, observou Singer, que acreditava que a moral deve ser baseada na razão, enquanto o filósofo escocês David Hume seguido de Waal, argumentou que os julgamentos morais nascem das emoções.

Biólogos como Waal acreditam que a razão é usada apenas depois de se chegar a uma decisão moral. Eles argumentam que a moral evoluiu em uma época em que as pessoas viviam em pequenas sociedades e freqüentemente tinham que tomar decisões instantâneas de vida ou morte, sem tempo para uma avaliação consciente de escolhas morais. O raciocínio vinha depois, como justificativa post hoc. "O comportamento humano deriva, acima de tudo, de julgamentos rápidos, automatizados e emocionais e apenas secundariamente de processos conscientes mais lentos", escreve Waal.

Por mais que celebremos a racionalidade, as emoções são nosso compasso, provavelmente porque foram moldadas pela evolução, na opinião de Waal. Por exemplo, diz ele: "As pessoas são contra soluções morais que envolvem fazer dano ao outro com as mãos. Isso pode ser porque a violência feita com a mão foi sujeita à seleção natural, enquanto deliberações utilitárias não."

Filósofos têm outro argumento para justificar por que os biólogos não podem, em sua opinião, chegar ao cerne da moralidade: é que as análises biológicas não conseguem cruzar o vão entre o que "é" e o que "deveria ser", entre a descrição dos comportamentos e a questão de porque são certos ou errados. "Talvez você identifique algum valor e conte uma história evolucionária para explicar porque o mantemos, mas sempre há aquela questão radicalmente diferente: se deveríamos mantê-lo", diz Sharon Street, filósofa da Universidade de Nova York. "Isso não é para minimizar a importância do que fazem os biólogos, mas mostra por que séculos de filosofia moral são também incrivelmente relevantes."

Jessé Prinz, filósofo da Universidade da Carolina do Norte, dá aos biólogos ainda menos campo. Ele acredita que a moralidade foi desenvolvida após o término da evolução humana e que os sentimentos morais são moldados pela cultura, não pela genética. "Seria uma falácia assumir que uma verdadeira moralidade seria um comportamento instintivo e não guiado pelo que devemos fazer", disse ele. "Um dos princípios que podem guiar a moralidade pode ser o reconhecimento de igual dignidade para todos os seres humanos, e isso parece não ter precedentes no mundo animal."

Waal não aceita a opinião dos filósofos que biólogos não podem passar do que "é" para o que "deve ser". "Não tenho certeza de quão realista é essa distinção", disse ele. "Animais têm aquilo que 'deve ser' feito. Se uma jovem entra em uma briga, a mãe deve se levantar e defendê-la. No compartilhamento de comida, animais pressionam os outros - o primeiro tipo de situação de qual é o comportamento 'devido'."

A definição de moralidade de Waal é ainda mais terrena do que a de Prinz. Moralidade, escreve, é "um sentido de certo e errado, nascido de sistemas grupais para administração de conflitos, baseado em valores compartilhados." As bases da moralidade não são bons comportamentos, mas capacidades mentais e sociais para construir sociedades "nas quais valores compartilhados restringem o comportamento individual, por um sistema de aprovação e reprovação".

Por essa definição, os chimpanzés, em sua opinião, realmente possuem algumas capacidades de comportamento inseridas em nossos sistemas morais. "A moral é tão firmemente enraizada na neurobiologia quanto tudo o mais que fazemos ou somos", escreveu Waal em seu livro de 1996 "Good Natured" (de boa natureza). Biólogos ignoraram essa possibilidade por muitos anos, acreditando que, como a seleção natural é cruel e sem misericórdia, somente poderia produzir pessoas com as mesmas qualidades. Mas essa é uma falácia, na opinião de Waal. A seleção natural favorece organismos que sobrevivem e reproduzem-se, por qualquer meio. E deu às pessoas um "compasso que leva em consideração os interesses de toda a comunidade, que é a essência da moralidade humana", escreve em "Primates and Philosophers".

Tradução: Deborah Weinberg


Fonte: http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/nytimes/2007/03/20/ult574u7339.jhtm




Bem foristas, eu gostei muito do texto e gostaria de saber vossas opiniões!  :ok:  :)
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Offline Adriano

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Re: Cientistas encontram os primórdios da moralidade no comportamento de primata
« Resposta #1 Online: 29 de Abril de 2007, 15:06:32 »
Que falta de caráter desses especialistas, todos querendo atribuir para sua área a responsabilidade do conhecimendo da moral. :biglol:  E onde fica a interdiciplinaridade?  :)
Princípio da descrença.        Nem o idealismo de Goswami e nem o relativismo de Vieira. Realismo monista.

Offline Adriano

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Re: Cientistas encontram os primórdios da moralidade no comportamento de primata
« Resposta #2 Online: 29 de Abril de 2007, 15:57:47 »
Tem um tópico com o mesmo texto mas com outro nome: Senso moral em humanos = existência de deus?
Princípio da descrença.        Nem o idealismo de Goswami e nem o relativismo de Vieira. Realismo monista.

Offline Herf

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Re: Cientistas encontram os primórdios da moralidade no comportamento de primatas
« Resposta #3 Online: 29 de Abril de 2007, 18:51:38 »
Será que mais uma área está se separando da filosofia e entrando nos domínios da ciência?

Offline Herf

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Re: Cientistas encontram os primórdios da moralidade no comportamento de primata
« Resposta #4 Online: 29 de Abril de 2007, 19:16:06 »
Aliás, o texto deveria ser lido por muitos crentes que pensam ser a religião a origem de toda a moral humana, e que abdicar dela seria deixar o ser humano desnorteado eticamente.

A religião é, na verdade, apenas uma manifstação mais elaborada, "enfeitada" de formas diferentes por diferentes culturas, destes princípios que já estão em nossos genes.

Offline Galthaar

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Re: Cientistas encontram os primórdios da moralidade no comportamento de primatas
« Resposta #5 Online: 30 de Abril de 2007, 02:34:40 »
Não há nada de místico na moralidade, ela certamente independe da existência de religiões, pois é geradora delas. A moral não existe por si mesma, não é boa nem má, é uma ferramenta e não um fim.

A Moral, antes de tudo, existe porque foi e ainda é útil para a propagação genética de seres morais, e os primórdios dela podem ser encontrados não só em primatas, mas em quaisquer organismos sociais, pois estes primórdios são os próprios elos que permitem que um grupo qualquer de indivíduos sobreviva e se reproduza sem dizimar-se, como por exemplo: não matar seus próprios filhos, dormir juntos para manter-se aquecidos, compartilhar alimentos, etc...

A Moral tem origens genéticas e sofreu mutações genéticas, mas passou a sofrer mutações culturais em determinado ponto, que poderíamos chamar de "ponto de início da retroalimentação moral".
"A dominação social no capitalismo, no seu nível mais fundamental, não consiste na dominação das pessoas por outras pessoas, mas na dominação das pessoas por estruturas sociais abstratas constituídas pelas próprias pessoas."

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Offline Vito

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Re: Cientistas encontram os primórdios da moralidade no comportamento de primata
« Resposta #6 Online: 30 de Abril de 2007, 03:08:20 »
<a href="http://www.youtube.com/v/6JOcNifptEc" target="_blank" class="new_win">http://www.youtube.com/v/6JOcNifptEc</a>

Offline Spitfire

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Re: Cientistas encontram os primórdios da moralidade no comportamento de primatas
« Resposta #7 Online: 30 de Abril de 2007, 04:17:00 »
Bacana o vídeo, Vito.

Aqui no sul existe uma espécie de macaco que é popularmente conhecida como bugio.


 Bugio, Guariba, Barbado
(Alouatta fusca)
Ordem Primates
Família Cebidae

Caçadores daqui (sim, a caça em algumas épocas do ano é permitida por lei aqui no sul) contam que quando vão caçar e se deparam com uma fêmea do bugio, esta estica os braços em mostra o filhote ao caçador... como se estivesse mostrando-o para que o caçador poupe a vida da mãe e do filhote, suplicando pela vida (não é habito de caçadores matarem o bugio... embora alguns, por pura maldade e vandalhismo, o façam). Meu tio é caçador (cria até cães perdigueiros ensinados) e me confirmou esta história... tenho como possivelmente verdadeira, já ouvi isto de várias fontes diversas, mas nunca vi (nunca cacei) para comprovar o fato.

Narkus

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Re: Cientistas encontram os primórdios da moralidade no comportamento de primatas
« Resposta #8 Online: 30 de Abril de 2007, 05:15:23 »
Bom, eu sonho em ser filósofo, mas tenho que admitir que pra mim a base de todo o conhecimento acerca do comportamento humano, das sociedades, da política etc está na biologia!

Nós temos impulsos individuais que podem favorecer um grupo. Eu considero os seres humanos bastante irracionais quanto à isso. O instindo à coletividade têm raízes muito primitivas. Um dos maiores exemplos disso foi a época de Hitler. Mesmo sob ideais que você não acredita inteiramente, vc faz concessões em prol do grupo e isso pode chegar a proporções imensas, como uma bola de neve.

O ser humano pra se tornar maior que o homo sapiens precisa dispor de uns 50 anos de estudo para cada indivíduo, ou tentar evoluir por seleção natural por mais alguns milhares de anos, ou, ainda, desenvolver uma ciência capaz de produzir eugenia em nossa espécie, acelerando (ou dando um salto) na evolução da inteligência em seres vivos.

Offline FxF

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Re: Cientistas encontram os primórdios da moralidade no comportamento de primatas
« Resposta #9 Online: 30 de Abril de 2007, 06:15:18 »
Bacana o vídeo, Vito.

Aqui no sul existe uma espécie de macaco que é popularmente conhecida como bugio.


 Bugio, Guariba, Barbado
(Alouatta fusca)
Ordem Primates
Família Cebidae

Caçadores daqui (sim, a caça em algumas épocas do ano é permitida por lei aqui no sul) contam que quando vão caçar e se deparam com uma fêmea do bugio, esta estica os braços em mostra o filhote ao caçador… como se estivesse mostrando-o para que o caçador poupe a vida da mãe e do filhote, suplicando pela vida (não é habito de caçadores matarem o bugio… embora alguns, por pura maldade e vandalhismo, o façam). Meu tio é caçador (cria até cães perdigueiros ensinados) e me confirmou esta história… tenho como possivelmente verdadeira, já ouvi isto de várias fontes diversas, mas nunca vi (nunca cacei) para comprovar o fato.
Ainda sim é preciso comprovar o motivo dessa ação de demonstrar o filhote, se realmente é para poupar a vida ou se é uma linguagem de ações entre eles.

Offline Alegra

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Re: Cientistas encontram os primórdios da moralidade no comportamento de primatas
« Resposta #10 Online: 30 de Abril de 2007, 07:37:44 »
Mesmo sob ideais que você não acredita inteiramente, vc faz concessões em prol do grupo e isso pode chegar a proporções imensas, como uma bola de neve.

Menino! Sabe que foi isso mesmo que eu percebi quando estava lendo esse texto!  :ok:
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Offline Alegra

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Re: Cientistas encontram os primórdios da moralidade no comportamento de primata
« Resposta #11 Online: 30 de Abril de 2007, 07:41:07 »
<a href="http://www.youtube.com/v/6JOcNifptEc" target="_blank" class="new_win">http://www.youtube.com/v/6JOcNifptEc</a>

Eu já tinha visto esse vídeo. É mesmo impressionante!!  :susto:  :ok:
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Offline Alegra

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Re: Cientistas encontram os primórdios da moralidade no comportamento de primata
« Resposta #12 Online: 30 de Abril de 2007, 07:42:04 »
Tem um tópico com o mesmo texto mas com outro nome: Senso moral em humanos = existência de deus?

Então…é só juntar uai… :)

Mas não é por nada não… o meu está mais bacana… :P
« Última modificação: 30 de Abril de 2007, 07:44:30 por Alegra »
Já sinto sua falta. Vá em paz meu lindo!

Offline Herf

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Re: Cientistas encontram os primórdios da moralidade no comportamento de primata
« Resposta #13 Online: 30 de Abril de 2007, 15:10:39 »
Muito interessante o vídeo!

Tenho um livro que mostra casos de animais que adotam filhotes de outras espécies: mostram uma galinha adotando dois gatinhos, uma ave tentando chocar um ovo bem maior que ela, ovo que pertencia a uma ave de outra espécie, um pássaro alimentando um peixe, entre outros. Depois o livro compara casos como este com o trivial fato de nós, seres humanos, adotarmos animais de outras espécies para criá-los como se fossem nossos "filhotes" (cães, gatos, etc).

Offline Buckaroo Banzai

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Re: Cientistas encontram os primórdios da moralidade no comportamento de primatas
« Resposta #14 Online: 30 de Abril de 2007, 17:33:23 »
Pergunta para os defensores da "moralidade genética":

 - Encontraremos o gene ou conjuntos de genes que fazem que algumas tribos de índios cometam infanticídio no caso de nascimento de gêmeos? E coisas do tipo. Essas variações na moralidade, coincidente à diversas culturas, teriam bases genéticas?

 - encontraremos nos católicos e outros religiosos genes, por exemplo, para acharem algumas coisas relacionadas a sexo imorais?

 - conversões de moralidade em itens como esse seriam causadas por mutações somáticas? Ou nesses casos seria uma plasticidade fenotípica em que os mesmos genes permitem distintas moraliades?

 - Seria possível através de eugenia e/ou engenharia genética melhorar a moralidade de uma sociedade? Ou haveriam alternativas não-genéticas?

Offline Galthaar

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Re: Cientistas encontram os primórdios da moralidade no comportamento de primata
« Resposta #15 Online: 30 de Abril de 2007, 17:58:43 »
Não sei se posso ser considerado "defensor da moralidade genética", pois sou defensor da evolução Buckaroo, mas é muito simples:

A moralidade sofreu evolução cultural é claro, mas os primórdios do comportamento é que são genéticos. Os exemplos que você forneceu estão relacionados a memes e não a genes.

A moralidade está sujeita a evolução, seja ela genética ou cultural, mas toda moral que irá manter-se no futuro terá que promover a replicação e sobrevivência dos indivíduos que a mantém, ou sobreviver como um parasita; ou sucumbirá tornando-se no máximo um meme fossilizado.

Resumindo: A moralidade não é apenas genética, mas teve a genética como ponto de partida, e ainda é influenciada por ela.
« Última modificação: 30 de Abril de 2007, 18:07:23 por Galthaar »
"A dominação social no capitalismo, no seu nível mais fundamental, não consiste na dominação das pessoas por outras pessoas, mas na dominação das pessoas por estruturas sociais abstratas constituídas pelas próprias pessoas."

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Atheist

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Re: Cientistas encontram os primórdios da moralidade no comportamento de primatas
« Resposta #16 Online: 30 de Abril de 2007, 20:25:42 »
Pergunta para os defensores da "moralidade genética":

 - Encontraremos o gene ou conjuntos de genes que fazem que algumas tribos de índios cometam infanticídio no caso de nascimento de gêmeos? E coisas do tipo. Essas variações na moralidade, coincidente à diversas culturas, teriam bases genéticas?

 - encontraremos nos católicos e outros religiosos genes, por exemplo, para acharem algumas coisas relacionadas a sexo imorais?

 - conversões de moralidade em itens como esse seriam causadas por mutações somáticas? Ou nesses casos seria uma plasticidade fenotípica em que os mesmos genes permitem distintas moraliades?

 - Seria possível através de eugenia e/ou engenharia genética melhorar a moralidade de uma sociedade? Ou haveriam alternativas não-genéticas?

Danniel, não há um único determinista genético que ache que cada nova ação que o homem faz existe um gene por trás. Existe um problema e nosso organismo dá um jeito de resolvê-lo. Pode-se resolver de diversas maneiras e é aí que se inventa e reproduz culturas diferenciadas, quando se trata de comportamento. Não se pode ver um comportamento específico e esperar encontrar o gene responsável para isso, mas analisar de forma mais abrangente e ver o todo, e então buscar o gene.

Nosso comportamento pessoal é uma ferramenta utilizada com um fim. É este fim que se deve analisar, não a ferramenta que utilizamos para chegar até ele. É isso que a psicologia evolutiva faz, não como os espantalhos que rodam por aí.

Offline Herf

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Re: Cientistas encontram os primórdios da moralidade no comportamento de primata
« Resposta #17 Online: 30 de Abril de 2007, 20:27:48 »
Seria tomar muito ao pé da letra a idéia da moralidade genética querer encontrar genes específicos para tais comportamentos.

Todos sabemos que há padrões de comportamento que se repetem em muitas culturas, por mais distantes e sem contato que sejam elas. Coisas da natureza humana, que independem da sociedade. O problema é que não há só os genes envolvidos, também os memes, como falou o Galthaar. Mas a ação dos memes está, de modo geral, restrita a aquilo que os genes "permitem". Por exemplo, uma moral (memes) que afirmasse que "é moralmente certo casar-se e ter filhos com parentes próximos" não teria muito sucesso, já que há um sentimento natural de repugnância pelo ato sexual com pessoas que consideramos da nossa família. Não sei se ficou claro o que quis dizer...

Os casos que você citou, Buckaroo Banzai, são um pouco mais complicados mas nem por isso não-explicáveis pela moralidade genética, acredito eu. Eu ainda não li sobre estes indígenas, você até poderia me passar um link depois, mas posso apostar que não se trata de uma questão "moral" este infanticídio. Quer dizer, acho que é engano afirmar que estes índios acham "eticamente correto" matar bebês gêmeos. Está mais para um ritual, um costume de caráter religioso. E a religiosidade parece ser uma característica genética, inata do ser humano. Seria este um caso em que o efeito de um grupo de genes ("os genes da religiosidade") se sobrepõe, por questões culturais, ao efeito de outro grupo de genes, aqueles que determinam que é "ruim matar crianças" (por óbvios motivos evolutivos).

O mesmo poderia ser aplicado ao canibalismo. Tribos que o praticam certamente o fazem por questões religiosas e não por acharem moralmente correto alimentar-se de humanos.

Atheist

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Re: Cientistas encontram os primórdios da moralidade no comportamento de primatas
« Resposta #18 Online: 30 de Abril de 2007, 20:33:40 »
Citar
Tribos que o praticam certamente o fazem por questões religiosas e não por acharem moralmente correto alimentar-se de humanos.

Acho que no fim é a mesma coisa.

Offline Herf

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Re: Cientistas encontram os primórdios da moralidade no comportamento de primatas
« Resposta #19 Online: 30 de Abril de 2007, 21:06:23 »
Será? Digo, quando tribos matam pessoas para oferecerem a deuses em rituais religiosos, seria isso o mesmo que considerar "moralmente correto matar pessoas" do ponto de vista da tribo?

Atheist

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Re: Cientistas encontram os primórdios da moralidade no comportamento de primatas
« Resposta #20 Online: 30 de Abril de 2007, 21:30:55 »
Será? Digo, quando tribos matam pessoas para oferecerem a deuses em rituais religiosos, seria isso o mesmo que considerar "moralmente correto matar pessoas" do ponto de vista da tribo?

Acredito que sim. Os valores morais mudam com o avanço da cultura. Um tipo de retroalimentação, talvez...

Offline Galthaar

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Re: Cientistas encontram os primórdios da moralidade no comportamento de primatas
« Resposta #21 Online: 01 de Maio de 2007, 03:41:58 »
Concordo, foi o que eu quis dizer com "ponto de início da retroalimentação moral".

Para a moralidade existir, foi necessário o substrato genético que moldou as principais características e objetivos dos seres humanos como por exemplo:

- Vontade de Potência, ou seja, a luta eterna por poder e posição social.
- Vontade de Sobrevivência, o medo, a subsistência antes da prevalência.

Após a moral já estar estabelecida, ela sofreu uma retroalimentação positiva no sentido de que a própria moral passou a fazer parte do ambiente e da pressão de seleção.
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Moishe Postone, Tempo, trabalho e dominação social

Offline Alegra

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Re: Cientistas encontram os primórdios da moralidade no comportamento de primatas
« Resposta #22 Online: 01 de Maio de 2007, 12:58:56 »
Concordo, foi o que eu quis dizer com "ponto de início da retroalimentação moral".

Para a moralidade existir, foi necessário o substrato genético que moldou as principais características e objetivos dos seres humanos como por exemplo:

- Vontade de Potência, ou seja, a luta eterna por poder e posição social.
- Vontade de Sobrevivência, o medo, a subsistência antes da prevalência.

Após a moral já estar estabelecida, ela sofreu uma retroalimentação positiva no sentido de que a própria moral passou a fazer parte do ambiente e da pressão de seleção.

Isto quer dizer que o sentido de moral ainda está em evolução (?).  :umm:
Já sinto sua falta. Vá em paz meu lindo!

Atheist

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Re: Cientistas encontram os primórdios da moralidade no comportamento de primatas
« Resposta #23 Online: 01 de Maio de 2007, 13:35:07 »
Concordo, foi o que eu quis dizer com "ponto de início da retroalimentação moral".

Para a moralidade existir, foi necessário o substrato genético que moldou as principais características e objetivos dos seres humanos como por exemplo:

- Vontade de Potência, ou seja, a luta eterna por poder e posição social.
- Vontade de Sobrevivência, o medo, a subsistência antes da prevalência.

Após a moral já estar estabelecida, ela sofreu uma retroalimentação positiva no sentido de que a própria moral passou a fazer parte do ambiente e da pressão de seleção.

Isto quer dizer que o sentido de moral ainda está em evolução (?).  :umm:

Tudo está em evolução. Não existe ponto final.

É talvez mais fácil entender uma moral como estabelecida, mas os valores morais como algo mutável. Sabemos discernir certo do errado, mas a definição do que é certo e o que é errado depende de vários fatores culturais.

Offline Alegra

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Re: Cientistas encontram os primórdios da moralidade no comportamento de primatas
« Resposta #24 Online: 01 de Maio de 2007, 14:18:45 »

Isto quer dizer que o sentido de moral ainda está em evolução (?).  :umm:

Tudo está em evolução. Não existe ponto final.

É talvez mais fácil entender uma moral como estabelecida, mas os valores morais como algo mutável. Sabemos discernir certo do errado, mas a definição do que é certo e o que é errado depende de vários fatores culturais.

E ainda bem... :?
Já sinto sua falta. Vá em paz meu lindo!

 

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