Tópico: Vamos interpretar poemas

[Mr."A"]

Proponho o seguinte: vamos postando poemas adversos e cada um vai dando sua própria interpretação de cada poema - como entendeu, se ele lembra algo vivenciado ou presenciado, etc. Eu acho um barato a diversidade de significados que um texto pode ter.

Vou começar com um de Fernando Pessoa que me foi apresentado em aula:

No fundo do pensamento

No fundo do pensamento
Tenho por sono um cantar,
Um cantar velado e lento,
Sem palavras a falar.
 
Se eu pudesse tornar
Em palavras de dizer
Todos haviam de achar
O que eu tenho a esconder.
 
Todos haviam de ter
No fundo do pensamento
A novidade de haver
Um cantar velado e lento.
 
E cada um, desatento
Da vida que tem que achar,
teria o contentamento
De ouvir esse meu cantar.

Depois eu exponho minha própria interpretação. Por enquanto, digo que a pessoa que apresentou o poema em sala revelou que o utilizou para se declarar como admiradora secreta.

[Quereu]

Que cantar é esse, velado e lento? Uma alegria, uma paixão, uma descoberta?

Por que está escondido? Porque não traduzido em palavras. Porque se tivesse palavras seria comunicado.

E se transmitido a outros estes teriam contentamento. Seria uma coisa sublime, alvissareira, auspiciosa que só causaria alegria. O que será?

Um sentimento, um sentimento bom. Uma coisa que está nascendo - música ao longe, música que percebemos mas não distinguimos.

Mas deve ser algo muito pessoal, único - porque os outros estão desatentos. Talvez uma forma de acordá-los do usual da vida. Coisa do íntimo do poeta que só ele pode transmitir.

Eu não sei o que é. Mas o poeta conseguiu.Transmitiu um cantar velado e lento sem palavras a falar...

[Maicon Susseky]

Os poemas de Fernando Pessoa são bem internos,ele escreve o que ele sente,então fica difícil saber ao certo o que ele quer realmente dizer,parece que é algo que ele sente, ou algo que o perturba, ou que ele tem em mente...
E que ninguém vai saber oque é....

Bom eu acho que é isso!

Ah Fernando Pessoa é muito bom!

[Dr. Manhattan]

O Fernando Pessoal é (era) um fingidor .

Alguem sabe interpretar esse poema do Bocage?:

Não lamentes, oh Nise, o teu estado;
Puta tem sido muita gente boa;
Putíssimas fidalgas tem Lisboa,
Milhões de vezes putas têm reinado:
 
Dido foi puta, e puta dum soldado;
Cleópatra por puta alcança a c'roa;
Tu, Lucrécia, com toda a tua proa,
O teu cono não passa por honrado:
 
Essa da Rússia imperatriz famosa,
Que inda há pouco morreu (diz a Gazeta)
Entre mil porras expirou vaidosa:
 
Todas no mundo dão a sua greta:
Não fiques, pois, oh Nise, duvidosa
Que isto de virgo e honra é tudo peta.

(detalhe: muitas vezes estrangeiros me pediam para "dizer alguma coisa em português", para ter uma amostra da língua.
Daí eu declamava esse poema para eles (agindo como se ele fosse algo profundamente lírico e comovente).
Uma moça uma vez disse: "Que lindo! Do que se trata?"
Respondi: o poeta está consolando uma mulher triste. )

[Quereu]

Eu acho que essa poesia é muito direta e não precisa interpretação.