Autor Tópico: A evolução e a fé  (Lida 843 vezes)

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Offline Galthaar

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A evolução e a fé
« Online: 07 de Maio de 2007, 16:54:11 »

A evolução fez um belo trabalho selecionando qualidades que fazem os seres sobreviverem. Uma das mais poderosas destas qualidades e que origina várias outras é a Vontade de Sobrevivência, um instrumento que torna um indivíduo propenso a evitar o perigo, a agir cutelosamente diante do desconhecido e se postar como personagem principal em todos os atos de sua realidade.

Minha teoria é a que segue:

A manutenção da religiosidade está ligada a esta emoção básica dos seres humanos: o medo; a vontade de existir, não importa o que aconteça, a não ser que lhe falte o amor-próprio ou que possua uma forma de coragem derivada da ciência, pois mesmo a coragem científica nada mais é que o desejo de prevalecer. Uma ferramenta que ampliasse o sentimento de amor-próprio de um indivíduo, quando sua vida parecesse sem sentido, seria largamente selecionada e propagada, pois influenciaria no seu poder de sobrevivência de forma positiva: o ser consciente necessita ter a sua importância comprovada e posta em nível superior, pois de outra forma não se importaria de ser aniquilado.

A origem da religiosidade pode estar intrinsecamente conectada ao surgimento do módulo que permitiu ao ser humano avaliar a realidade e preparar-se diante dela, ou seja, a consciência; seria um contra-veneno ao efeito colateral desta que o tornaria suscetível ao temor da percepção de sua própria mortalidade e de sua inevitabilidade. O sentimento religioso é o medo da morte combinado ao amor-próprio, uma fórmula que embora embotasse a percepção da realidade do ser humano, não o fazia de forma a prejudicar sua capacidade de sobrevivência e reprodução, e portanto persistiu.

Isto me leva a concluir que a fé só deverá morrer completamente no dia em que (e se) o ser humano conseguir manter sua consciência eternamente, pois este é um desejo fundamental da natureza humana, ou então, se conseguirmos manipular a nossa própria evolução.

OBS: Ressalto que a fé não é genética; apenas a tendência de possuí-la é.

Pretendo complementar este tópico posteriormente, mas gostaria desde já de submetê-lo a críticas e sugestões.
"A dominação social no capitalismo, no seu nível mais fundamental, não consiste na dominação das pessoas por outras pessoas, mas na dominação das pessoas por estruturas sociais abstratas constituídas pelas próprias pessoas."

Moishe Postone, Tempo, trabalho e dominação social

Offline Mancha Negra

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Re: A evolução e a fé
« Resposta #1 Online: 07 de Maio de 2007, 17:19:39 »

A evolução fez um belo trabalho selecionando qualidades que fazem os seres sobreviverem. Uma das mais poderosas destas qualidades e que origina várias outras é a Vontade de Sobrevivência, um instrumento que torna um indivíduo propenso a evitar o perigo, a agir cutelosamente diante do desconhecido e se postar como personagem principal em todos os atos de sua realidade.

Minha teoria é a que segue:

A manutenção da religiosidade está ligada a esta emoção básica dos seres humanos: o medo; a vontade de existir, não importa o que aconteça, a não ser que lhe falte o amor-próprio ou que possua uma forma de coragem derivada da ciência, pois mesmo a coragem científica nada mais é que o desejo de prevalecer. Uma ferramenta que ampliasse o sentimento de amor-próprio de um indivíduo, quando sua vida parecesse sem sentido, seria largamente selecionada e propagada, pois influenciaria no seu poder de sobrevivência de forma positiva: o ser consciente necessita ter a sua importância comprovada e posta em nível superior, pois de outra forma não se importaria de ser aniquilado.

A origem da religiosidade pode estar intrinsecamente conectada ao surgimento do módulo que permitiu ao ser humano avaliar a realidade e preparar-se diante dela, ou seja, a consciência; seria um contra-veneno ao efeito colateral desta que o tornaria suscetível ao temor da percepção de sua própria mortalidade e de sua inevitabilidade. O sentimento religioso é o medo da morte combinado ao amor-próprio, uma fórmula que embora embotasse a percepção da realidade do ser humano, não o fazia de forma a prejudicar sua capacidade de sobrevivência e reprodução, e portanto persistiu.

Isto me leva a concluir que a fé só deverá morrer completamente no dia em que (e se) o ser humano conseguir manter sua consciência eternamente, pois este é um desejo fundamental da natureza humana, ou então, se conseguirmos manipular a nossa própria evolução.

OBS: Ressalto que a fé não é genética; apenas a tendência de possuí-la é.

Pretendo complementar este tópico posteriormente, mas gostaria desde já de submetê-lo a críticas e sugestões.
Hum...
Vamos pensar hipoteticamente.
Se um dia, a humanidade tiver o poder de viver para sempre, haverá um novo conceito a ser explorado. O desejo da não existência.
Parece loucura, mas está no fato do "cansaço" existencial. O cérebro não suportar mais as informações do meio e manifestar o desejo de "morrer".
Mesmo que tenha recursos para "apagar" a memória, a idéia da individualidade do ser deve ser mantida para evitar um caos social, então o indivíduo deve existir independente do seu desejo, por uma imposição social. Daí o desejo do não-existir. A Morte como uma resposta à não-existência.
E... Os humanos devem ser um tanto loucos...  :o
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Offline Galthaar

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Re: A evolução e a fé
« Resposta #2 Online: 08 de Maio de 2007, 14:13:14 »

O desejo de morte pode ocorrer como exceção, não como regra, cao contrário não seria selecionado;e nunca é eterno, pois o desejo de morte é simplesmente a percepção da ausência de poder e da imutabilidade futura desta situação. No eterno, este tipo de percepção perde o sentido, pois a eternidade é insondável e creio que a esperança suplantaria em um ser racional o desejo de extinguir-se.

Quero salientar que no momento em que o ser humano pudesse transferir sua consciência para uma máquina ou um melhor corpo biológico, poderia também aumentar seu poder de processamento e armazenamento, tornando plausível uma existência se não eterna, muito longa.
"A dominação social no capitalismo, no seu nível mais fundamental, não consiste na dominação das pessoas por outras pessoas, mas na dominação das pessoas por estruturas sociais abstratas constituídas pelas próprias pessoas."

Moishe Postone, Tempo, trabalho e dominação social

Offline PedroAC

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Re: A evolução e a fé
« Resposta #3 Online: 12 de Maio de 2007, 15:08:25 »
Galthaar, as suas ideias são muito interessantes e acho que deviam ser exploradas. Se os animais têm a tendência de desejar a sobrevivência, a religião pode ser um caso extremo que surgiu como efeito secundário. Pode ter surgido com a consciência da própria morte inevitável.
Também concordo com a conclusão, e não tinha pensado nela. A possibilidade da imortalidade como realidade pode ser um substituto da religião (ou formar uma religião com características diferentes, talvez tecnocrata, num "Admirável Mundo Novo").

Mancha Negra, procura informações sobre os savant. Eles acumulam informação de forma extraordinária, por exemplo decorando livros palavra a palavra, inclusivé a numeração das páginas, e fazem cálculos com uma rapidez e velocidade surpreendentes. Se o que dizes é verdade, então eles deveriam desejar a morte por acumulação de informação. Mas, afinal, eles parecem ter gosto pela vida, apreciam as novidades e os desafios constantes.

Sobre a ideias de transferir a consciência para uma máquina, já tinha pensado nisso e expôs a ideia a Espíritas. Até já imaginei uma estória do género DC e Marvel, onde um cientista coloca a informação do seu cérebro numa máquina. Essa máquina começa a sentir-se confusa, pois pensa ser o criador, e desenvolve uma personalidade diferente. Com a morte do cientista, passa a usar a sua identidade, num mundo cyber-punk, onde a tecnocracia e teocracia colidem. Essa máquina constroi diversas máquinas, que servem como extensão e tornam-se independentes, com diversos poderes sobrehumanos. São melhores que os humanos, na visão, audição, velocidade de processamento, força, rapidez. As cabeças podem destacar-se do corpo, voar, transformar-se e a morte de um é notificada por um servidor para construir uma nova máquina. Na prática, são imortais. Alguém quer ajudar numa HQ?
Pedro Amaral Couto
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"Tudo o que podemos fazer é pesquisar a falsidade do conteúdo da nossa melhor teoria" -- Karl Popper
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Offline Luis Dantas

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Re: A evolução e a fé
« Resposta #4 Online: 12 de Maio de 2007, 15:11:45 »
Se um dia, a humanidade tiver o poder de viver para sempre, haverá um novo conceito a ser explorado. O desejo da não existência.
Parece loucura, mas está no fato do "cansaço" existencial. O cérebro não suportar mais as informações do meio e manifestar o desejo de "morrer".

Não, não parece loucura.  Isso já acontece com muita gente; não é preciso esperar por imortalidade.

Citar
Mesmo que tenha recursos para "apagar" a memória, a idéia da individualidade do ser deve ser mantida para evitar um caos social,

Não entendi.  De onde viria esse caos social?

Citar
então o indivíduo deve existir independente do seu desejo, por uma imposição social. Daí o desejo do não-existir. A Morte como uma resposta à não-existência.
E… Os humanos devem ser um tanto loucos…  :o

Não entendi esse cenário.  Por que haveria tal imposição social?
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Em 18 de janeiro de 2010, ainda não vejo motivo para postar aqui. Estou nos fóruns Ateus do Brasil, Realidade, RV.  Se a Moderação reconquistar meu respeito, eu volto.  Questão de coerência.

Offline Luis Dantas

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Re: A evolução e a fé
« Resposta #5 Online: 12 de Maio de 2007, 15:25:42 »
Isto me leva a concluir que a fé só deverá morrer completamente no dia em que (e se) o ser humano conseguir manter sua consciência eternamente, pois este é um desejo fundamental da natureza humana, ou então, se conseguirmos manipular a nossa própria evolução.

O Mancha Negra tem um ponto, e o motivo na minha opinião é o que você cita por último: o ser humano tem meios tecnológicos de influenciar sua própria evolução - inclusive meios de tecnologia cultural.  Na minha opinião a psiquiatria já está fazendo esse ajuste em bipolares e borderlines, por exemplo.  Não vejo com total aprovação, mas acho que é o que acontece.

Um futuro que acho mais provável e mais saudável envolve o uso de tecnologia cultural (variantes de psicanálise, basicamente) para criar substitutos à crença em "outra vida", que no meu entender tem ligação com a religião PRIMITIVA, quase como um acidente de nascimento, mas não é a essência da religião em si.  Religião corretamente praticada cuida da qualidade da vida que se sabe que existe, não da que se quer crer que existirá...
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