Autor Tópico: [fsp] "Tirando os pecados do mundo"  (Lida 944 vezes)

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rizk

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[fsp] "Tirando os pecados do mundo"
« Online: 09 de Maio de 2007, 22:03:46 »
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Tirando os pecados do mundo
Do alto de uma estrutura centralizada, o papa adquire uma presença mais irreal
MARCELO COELHO


SOU DOS muitos que não se conformam com o conservadorismo do Vaticano em questões de sexo, saúde e vida familiar. Condenar o divórcio e o uso de preservativos, para citar casos mais extremos de intransigência, parece-me não só uma agressão ao bom senso, mas quase uma futilidade hoje em dia.
É como se os padres insistissem em andar de batina pelas ruas, ou fizessem questão de que ninguém coma carne na Semana Santa. Pontos como esses foram abandonados da pauta eclesiástica. Por que não flexibilizar um pouco o resto também?
Nestes últimos dias, contudo, fui mudando de opinião. Pode ser que a rigidez do papa nessas questões termine até trazendo algum efeito positivo. Pelo menos, a julgar pelo que acontece no Brasil.
A pesquisa que saiu domingo passado na Folha, sobre as atitudes religiosas da população, mostra como é pequena, afinal, a influência das doutrinas do Vaticano sobre os próprios católicos.
Em grande maioria, os católicos são favoráveis ao divórcio (74%) e defendem o uso da camisinha (94%). São mais tolerantes do que a média da população no que diz respeito à eutanásia e ao casamento gay. Mesmo numa questão muito mais polêmica como a do aborto, há 26% de católicos favoráveis à ampliação dos casos em que a prática deva ser permitida -porcentagem idêntica à do conjunto da população.
Nas questões de fé propriamente dita, as surpresas da pesquisa também são grandes. Belisco-me para ver se não estou sonhando, mas os dados permanecem claros na página do jornal. Só 62% dos católicos acreditam que existe vida após a morte, e é ainda menor a porcentagem dos que acreditam no inferno; 44% dos católicos crêem na reencarnação.
Se é assim, não há muito por que se escandalizar com as homilias do papa a respeito disso ou daquilo. É bastante reduzida, na prática, a influência do Vaticano sobre o comportamento e as crenças reais da população. O peso de uma condenação papal ao sexo antes do casamento ou ao uso da pílula, por mais que se insista nesses temas, tende a ser tão grande quanto o ibope dos programas da Rede Vida em comparação com as novelas da Globo. Não foi assim com tudo, aliás?
Afinal de contas, a igreja sempre condenou a avareza, a vaidade, o apego aos bens terrenos ou o espírito de vingança, enquanto seu vasto rebanho tratava, ao longo dos séculos, de pecar desvairadamente. Com culpa, na maioria das vezes.
Talvez seja nesse âmbito indireto de influência que a Igreja Católica, como qualquer outra religião, tenha um domínio mais efetivo. Mesmo assim, à medida que declina a crença no inferno, o poder das condenações doutrinárias ao sexo ou ao consumo tende a recalcar-se em uma gaveta longínqua do inconsciente. O que não significa, por certo, que todo passado pessoal e histórico de repressão ao sexo tenha se dissolvido no ar. Medo e culpa nessas questões fazem ainda parte de nossa cultura, e essas coisas não mudam rapidamente.
É nisso que o conservadorismo do papa acaba desempenhando um papel positivo. Sua clamorosa inatualidade serve para atrair, como um ímã, todas as pequenas aparas de ferro que ainda nos prendiam a um mundo de obscurantismo e repressão. Ficam com ele, e não conosco, o absurdo, o medo, o dogma e a culpa. Ele nos deixa mais leves, quanto mais pesado o seu passo.
Nesse sentido, o papa funciona de fato como um vigário de Cristo; claro que de uma forma paradoxal. Toma a si os pecados do mundo, enquanto os condena. É crucificado por seu atraso e dogmatismo, enquanto nos livra desses males; sacrifica o próprio bom senso e a inteligência, insistindo em crenças inviáveis. Enquanto isso, cada católico, como qualquer outra pessoa, decide mais ou menos por si mesmo no que é razoável acreditar.
Eis um bom antídoto contra o fanatismo. Uma excessiva proximidade entre a autoridade religiosa e o modo de vida de cada indivíduo seria, sem dúvida, mais perigosa.
Pequenos grupos magnetizados pelo exemplo pessoal de um líder entram com facilidade em transe e sinergia. Do alto de uma estrutura burocrática, centralizada e gigantesca, o papa adquire uma presença menos efetiva, mais simbólica e irreal.
Por isso mesmo, João Paulo 2º descobriu que tinha de viajar o tempo todo. Bento 16 parece obrigado a fazer o mesmo. Pobre homem.

Há que convir que o autor tem razão :)

Offline Antônio de Lima

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Re: [fsp] "Tirando os pecados do mundo"
« Resposta #1 Online: 09 de Maio de 2007, 22:54:10 »
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44% dos católicos crêem na reencarnação

   Essa pequena parte do texto me chamou a atenção... apesar desses 44% se vc for ver o número de pessoas que se declararam Espíritas ou seguidores de alguma outra religião que crê na reencarnação, não vai achar sequer uns 10%.  Isso porque normalmente a grande maioria dos brasileiros se declaram Católicos, embora também em sua grande maioria eles acreditem na reencarnação, em supertições, e muitas vezes recorram a ajuda de pais de santo e outros, chegando inclusive a fazer alguns "trabalhinhos"...rs.
   Não é de se estranhar... hoje, por exemplo, eu estava em uma auto-center fazendo alguns reparos em meu carro, então resolví aproveitar pra assistir a novela "O profeta", que é praticamente uma novela Espírita, quando de repente interromperam pra falar sobre a visita do papa...rsrsrs.  Isso é o retrato do nosso incoerente, porém democrático Brasil.
   Menos mal, pior se nego se matasse por causa de religião como em outros países.
   Abraços.
 
Antônio de Lima

Offline Rodion

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Re: [fsp] "Tirando os pecados do mundo"
« Resposta #2 Online: 10 de Maio de 2007, 02:25:37 »
bom..
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SOU DOS muitos que não se conformam com o conservadorismo do Vaticano em questões de sexo, saúde e vida familiar. Condenar o divórcio e o uso de preservativos, para citar casos mais extremos de intransigência, parece-me não só uma agressão ao bom senso, mas quase uma futilidade hoje em dia.
então é um dos que não entendem nada de religião. a igreja católica é uma... igreja. não é um thinkthank que está aí pra propôr soluções a alguns problemas.

uma coisa que não entendo é a sanha midiática em anunciar dizeres do papa que.. bem, só reafirmam a doutrina católica. ninguém noticia quando um rabino diz que judeus não podem comer carne de porco, porque, afinal, sabemos que judeus não podem comer carne de porco. sabemos também que a santa sé é contra a camisinha, o aborto, etc. não seria mais correto noticiar quando o vaticano se colocasse contra estas posições?
"Notai, vós homens de ação orgulhosos, não sois senão os instrumentos inconscientes dos homens de pensamento, que na quietude humilde traçaram freqüentemente vossos planos de ação mais definidos." heinrich heine

Offline FxF

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Re: [fsp] "Tirando os pecados do mundo"
« Resposta #3 Online: 10 de Maio de 2007, 10:43:14 »
Bem que o autor podia pensar na possibilidade que a Igreja fosse algo privado e não uma democracia livre... ou então que alguém responsável pela morte de milhares com essa questão da camisinha deveria ser preso.

Offline Mr."A"

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Re: [fsp] "Tirando os pecados do mundo"
« Resposta #4 Online: 10 de Maio de 2007, 13:53:25 »
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Belisco-me para ver se não estou sonhando, mas os dados permanecem claros na página do jornal. Só 62% dos católicos acreditam que existe vida após a morte [...] 44% dos católicos crêem na reencarnação.

Nesses dois pontos, há de se ver se esses indivíduos são católicos de fato ou apenas carregam esse rótulo por alguma, digamos assim, convenção cultural. No mais, não tenho dúvidas de que realmente no mundo católico não existe uma fidelidade 100% às opiniões e aos dogmas dos lá de cima, como é comum no islamismo, por exemplo.



8-)

Offline Rodion

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Re: [fsp] "Tirando os pecados do mundo"
« Resposta #5 Online: 10 de Maio de 2007, 17:00:48 »
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Belisco-me para ver se não estou sonhando, mas os dados permanecem claros na página do jornal. Só 62% dos católicos acreditam que existe vida após a morte […] 44% dos católicos crêem na reencarnação.

Nesses dois pontos, há de se ver se esses indivíduos são católicos de fato ou apenas carregam esse rótulo por alguma, digamos assim, convenção cultural. No mais, não tenho dúvidas de que realmente no mundo católico não existe uma fidelidade 100% às opiniões e aos dogmas dos lá de cima, como é comum no islamismo, por exemplo.





já notava sérgio buarque de holanda na década de 30 que o povo brasileiro nunca foi muito fervoroso/preocupado com as coisas espirituais, apesar de praticamente ser a população inteira religiosa...
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rizk

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Re: [fsp] "Tirando os pecados do mundo"
« Resposta #6 Online: 11 de Maio de 2007, 08:08:47 »
porra, esqueci de dar o link: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq0905200729.htm

Quando eu disse a minha mãe sobre este texto, que o papa devia ser o bode expiaório do nosso conservadorismo e tal, ela caiu animalmente na risada. Muito bom esse Marcelo Coelho.

Como diz o Bruno, católico brasileiro é assim mesmo, e é assim desde... bom, sempre. Mal de colônia. Muito longe do Vaticano.

 

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