Joseph K, um belo dia, acordou com a notícia de que estava sendo processado. Procurando se defender entrou numa repartição pública repleta de labirínticos corredores que o conduziu a uma sala onde estranha assembléia se reunia. Perante ela se defendeu. A ala esquerda aplaudiu enquanto a direita reprovou. Mudou o tom do discurso para agradar a ala direita, mas ao fazê-lo a ala esquerda se empertigou. Mudou novamente o discurso o que provocou agrado e desagrado espalhados impossíveis de localizar. Joseph K calou-se, espantado ante o fracasso de seu discurso. No plano do mundo, Joseph K tinha um problema: queria agradar a todos. Mas Joseph K era também uma representação, uma mente. No plano da mente, Joseph K também tinha um problema: queria conformar todos os seus eus. Então veio a culpa.
Joseph K gostava de uma garota, mas essa garota não lhe prestava a mínima atenção. Por mais que tentasse agradá-la não conseguia. Ao contrário de outra que apaixonou por ele e se entregou no chão mesmo de uma das inúmeras salas que atravessou em busca de defesa. No plano do mundo, Joseph K tinha um problema: queria uma mulher que não podia e a que podia, não queria. No plano da mente, Joseph também tinha um problema: as mulheres eram as mesmas, projeções do seu desejo dividido, santas e prostitutas. Então veio a culpa.
Joseph K relevava demais o seu status. Era um bancário bem sucedido de privilegiada posição que não podia ser acusado ou desprezado pelo seu amor. No plano do mundo, Joseph K tinha um problema: acreditava que seu status o livraria das mazelas da vida. No plano da mente, Joseph K também tinha um problema: a vastidão do seu ego. Então veio a culpa.
O problema de Joseph K é que ele não era um, mas qualquer um.