71. Para Pierre Duhem, “o físico nunca pode submeter ao controle da experiência uma hipótese isolada, mas somente todo um conjunto de hipóteses; quando a experiência está em desacordo com as suas previsões, ela lhe ensina que pelo menos uma das hipóteses que constituem esse conjunto está errada e deve ser modificada, mas ela não lhe mostra aquela que deve ser modificada”. Essa abordagem da confirmação empírica pode ser adequadamente caracterizada como
(A) dedutiva.
(B) narrativa.
(C) probabilista.
(D) reducionista.
(E) genealógica.
72. Em sua filosofia das ciências empíricas, Karl Popper sustenta que todas as proposições científicas são hipóteses refutáveis pela experiência. Desse ponto de vista, segue-se que
(A) o método científico é indutivo.
(B) as proposições científicas não são verdadeiras nem falsas.
(C) a certeza não é objetivo das ciências empíricas.
(D) as melhores teorias cientificas são apenas prováveis.
(E) as hipóteses científicas são simples convenções.
73. No livro Idéias para uma Fenomenologia Pura e para uma Filosofia Fenomenológica, de Husserl, podem ser distinguidas duas direções de investigação. Se uma delas pode ser chamada de orientação natural, a outra, em contrapartida, pode
ser nomeada como orientação fenomenológica. Segundo o autor, podemos associar as duas orientações, respectivamente,
(A) à ciência e à teologia.
(B) ao objeto puro e simples e ao objeto intencional.
(C) à lógica formal e à metafísica.
(D) à crítica do conhecimento e à psicologia.
(E) às ciências naturais e ao dogmatismo.
74. Nas Investigações Filosóficas, Wittgenstein considera uma linguagem que se refere apenas às experiências privadas de um falante, que só este pode conhecer. Em sua análise, Wittgenstein conclui que essa linguagem privada
(A) pode ser traduzida em uma linguagem pública.
(B) é a primeira linguagem que aprendemos.
(C) é inteligível apenas ao próprio falante.
(D) não é uma linguagem possível.
(E) é a linguagem das leis do pensamento.
75. “O homem está condenado a ser livre.” (Jean-Paul Sartre)
Assinale a alternativa que expressa a idéia dessa frase de Sartre.
(A) As ações humanas seguem um padrão de rigorosa necessidade.
(B) A liberdade humana é uma crença produzida pela imaginação.
(C) O homem é totalmente livre, e não pode deixar de sê-lo, porque não possui qualquer essência que o predetermine.
(D) O homem é livre em alguns de seus atos e determinado em outros.
(E) A natureza humana comporta um destino ao qual o homem não pode furtar-se.
76. “A metafísica não é uma construção de conceitos graças aos quais poderíamos tornar nossos paradoxos menos sensíveis – é a experiência que temos deles em todas as situações da história pessoal e coletiva e das ações que, ao assumi-los, os
transformaram em razão. É uma interrogação que não comporta respostas que a anulem, mas somente ações resolutas que a transladam sempre para mais longe. Não é o conhecimento que viria a terminar o edifício dos conhecimentos; é o
saber lúcido daquilo que os ameaça e a consciência aguda de seu preço.” (Maurice Merleau-Ponty, O Metafísico no Homem)
Assinale a alternativa que expressa a concepção de metafísica formulada por Merleau-Ponty no texto.
(A) A metafísica é uma ciência exata.
(B) A metafísica é impossível como conhecimento objetivo.
(C) A metafísica é o coroamento de todo o sistema do saber.
(D) A metafísica é um método para solucionar questões que estão além das fronteiras da ciência.
(E) A metafísica é uma constante interrogação pela qual o homem enfrenta os paradoxos que estão envolvidos no conhecimento e na ação.
77. A metafísica pode ser entendida, segundo Heidegger, como
(A) a história do esquecimento do ser.
(B) o estudo das categorias aristotélicas.
(C) a análise da língua grega.
(D) o desenvolvimento da física.
(E) a história do desvelamento do ser.
78. “Na época das técnicas de reprodução, o que é atingido na obra de arte é a sua aura”, escreve Benjamin, em A Obra de Arte na Era da Reprodutibilidade Técnica. Isso se dá, segundo o texto, porque a técnica de reprodução, entre outras coisas,
(A) deixa de captar todos os detalhes do objeto reproduzido.
(B) não respeita o material original da obra.
(C) promove um abalo da tradição, ao multiplicar as cópias do objeto ou evento.
(D) desvia-se das intenções do autor da obra.
(E) não universaliza suficientemente o objeto reproduzido.
79. “O mito converte-se em esclarecimento, e a natureza em mera objetividade. O preço que os homens pagam pelo aumento de seu poder é a alienação daquilo sobre que exercem o poder. O esclarecimento comporta-se com as coisas como o ditador se comporta com os homens. Este conhece-os na medida em que pode manipulá-los. O homem da ciência conhece as coisas na medida em que pode fazê-las.”
“A essência do esclarecimento é a alternativa que torna inevitável a dominação. Os homens sempre tiveram de escolher entre submeter-se à natureza ou submeter a natureza ao eu. Com a difusão da economia mercantil burguesa, o horizonte
sombrio do mito é aclarado pelo sol da razão calculadora, sob cujos raios gelados amadurece a sementeira da nova barbárie. Forçado pela dominação, o trabalho humano tendeu sempre a se afastar do mito, voltando a cair sob seu influxo, levado pela mesma dominação.” (Adorno e Horkheimer, Dialética do Esclarecimento)
Considerando esses dois trechos da Dialética do Esclarecimento, assinale a alternativa que expressa as idéias aí apresentadas.
(A) O esclarecimento resulta da ciência contemporânea.
(B) A economia mercantil burguesa é imune ao mito.
(C) O esclarecimento elimina a alienação.
(D) A dominação também mitifica.
(E) O domínio sobre a natureza não é objetivo do esclarecimento.
80. “A luta de classes, que um historiador educado por Marx jamais perde de vista, é uma luta pelas coisas brutas e materiais, sem as quais não existem as refinadas e espirituais.” Essa passagem é retirada da tese 4 de Sobre o Conceito da História,de Walter Benjamin. O tipo de historiador referido por Benjamin é
(A) um historiógrafo.
(B) um idealista transcendental.
(C) um historiador pluralista.
(D) um racionalista.
(E) um materialista histórico.
DISSERTATIVAS01. “A filosofia vai encontrar-se, pois, ao nascer, numa posição ambígua: em seus Métodos, em sua inspiração, aparentar-se-á ao mesmo tempo às iniciações dos mistérios e às controvérsias da ágora; flutuará entre o espírito de segredo próprio das seitas e a publicidade do debate contraditório que caracteriza a atividade política.” (Jean-Pierre Vernant, As Origens do Pensamento Grego)
Explique e comente a idéia central dessa passagem, com base nos seguintes tópicos:
a) o ideal de sabedoria mítico-religiosa que remete a uma verdade transcendente; e
b) a reflexão sobre critérios racionais relativos à vida individual e coletiva.
02. “A divindade me incita a ajudar os outros e conceber, porém impede que eu próprio conceba. Por isso mesmo não sou sábio, não havendo um só pensamento que eu possa apresentar como tendo sido invenção de minha alma e por ela dado à luz. Porém, os que
tratam comigo, mesmo se no começo alguns parecem totalmente ignorantes, com a Continuação de nossa convivência, aqueles favorecidos pela divindade progridem admiravelmente, tanto no seu próprio julgamento como no de estranhos. O que é fora de dúvida é que nunca aprenderam nada comigo: neles mesmos é que descobrem as coisas belas que põem no mundo, servindo, nisso tudo, eu e a divindade como parteiros.” (Platão, Teeteto)
Temos aqui a afirmação da célebre maiêutica socrática. Nela podemos perceber certa concepção de ensino. Desenvolva esse tema, do ponto de vista da relação entre Professor e aluno, enfocando os seguintes tópicos:
a) formação;
b) aquisição de conteúdos; e
c) capacidade criativa.
03. Nas Meditações, Descartes afirma ter sido criado por um Deus perfeito, benevolente e não enganador. Todavia, Descartes reconhece que está sujeito a uma infinidade de erros.
a) Como ele concilia essas duas afirmações aparentemente contraditórias?
b) O que deve fazer para evitar o erro e chegar ao conhecimento da verdade?
04. “O próprio Hegel confessa, no final de Filosofia da História, que ele ‘examina apenas o desenvolvimento do conceito’ e que ele expôs na história a ‘verdadeira teodicéia’ (p. 446). E agora podemos voltar aos produtores do ‘conceito’, aos teóricos, ideólogos e filósofos, para chegarmos à conclusão de que os filósofos, os pensadores como tais, dominaram na história por todo o tempo – isto é, chegarmos a uma conclusão que Hegel já havia expressado, como acabamos de ver”. “Ao contrário da filosofia alemã, que desce do céu para a terra, aqui é da terra que se sobe ao céu.” (Marx e Engels, A Ideologia Alemã)
A partir dessas duas passagens de A Ideologia Alemã, responda aos itens seguintes:
a) Em relação à concepção histórica aludida no primeiro trecho, qual é o novo modo de abordar a história do ponto de vista de Marx e Engels nesse livro?
b) A partir de sua resposta anterior, discorra sobre a relação da noção de ideologia com as bases históricas propostas pelos autores.
c) Em que medida uma ideologia corresponde à realidade? Em que medida ela é Necessária?
