O dever do artista não pode nunca passar pela política. O artista que se mete em política se trumbica.
O povo está sendo oprimido? Há uma ditadura nas ruas? Que chato. Mas arte não tem nada a ver com isso.
A política, quando bem feita, quando não descamba em ditadura, é composta por compromissos e concessões que visam chegar a um consenso.
A arte não é um consenso. A arte não pode ter compromissos. A arte não pode fazer concessões. O bom artista só tem compromisso consigo mesmo, não respeita consensos e não faz concessões.
Se o artista acha que o povo está sendo oprimido, ele que lute contra isso como cidadão. Funde uma ONG, vote nos melhores candidatos, escreva artigos para jornais, tente se eleger deputado.
Máximo Górki (1868-1936)
Mas não me escreva um romance para denunciar a opressão da burguesia. Pelo amor de deus, não crie um número musical em homenagem às vítimas do imperialistmo. Por tudo o que é mais sagrado, não faça uma pintura abstrata onde o vermelho representa a ditadura que esmaga o povo, as duas linhas paralelas representam homens e mulheres caminhando juntos, mas sem nunca se encontrar, rumo ao infinito, e a mancha marrom representa o café que respingou na tela.
Mikhail Cholokhov, ganhador do Nobel, (1905-1984)Não há regras para o papel do artista. O compromisso dele é com ele mesmo. Contanto que ele não se deixe aprisionar, ele pode tudo.
O Chico Caruso estava relembrando a primeira charge que fez com o Lula. Foi um escândalo no partido. Veio o Henfil falar com ele: "Chico, você fez tudo que a ditadura não conseguiu: pintou nosso companheiro de ridículo!" Sabiamente, o Chico mandou o Henfil tomar no cu.
Essa é o problema do artista engajado. O artista engajado não faria a caricatura do Lula para não prejudicar o movimento. O artista engajado se torna menos artista a cada concessão que faz a elementos extra-artísticos.
Já o artista de verdade só se importa com a própria arte e com mais nada. Disse Faulkner:
A única responsabilidade do escritor é para com sua arte. Será inteiramente desapiedado se for um bom escritor. (...) O resto vai por água abaixo: honra, orgulho, decência, segurança, felicidade, tudo. (...) Se um escritor tiver que roubar sua mãe, não hesitará; a "Ode a uma Urna Grega," de Keats, vale mais do que qualquer punhado de velhas.Fonte:
http://www.sobresites.com/alexcastro/artigos/dostoievski.htm