A derrota da liberdade
A mais antiga e mais importante das emissoras de televisão da Venezuela encerra suas atividades neste fim de semana sucumbindo à decisão arbitrária do presidente Hugo Chávez. Uma das poucas vozes oposicionistas do país é, assim, calada, mesmo que a maioria da população rejeite essa atitude. Trata-se de uma notícia triste, que remete a tempos de autoritarismo, aponta para a escalada antidemocrática de Chávez e é claramente uma derrota da liberdade de opinião. A Rádio Caracas Televisión (RCTV), independentemente da sua posição editorial - que é contrária ao presidente - e até de seu apoio ao golpe contra Chávez em 2002, acabou por constituir-se, em sua resistência e por seus mais de 50 anos de atividade contínua, numa voz que simboliza a própria liberdade de opinião. Por ter veiculado reportagens críticas contra a gestão da empresa venezuelana de petróleo, a emissora foi absurdamente acusada de sabotagem.
A prepotência revelada pelo presidente Chávez contra meios de comunicação que não se subordinam a seus interesses e que apontam sua incapacidade de conviver com a crítica e a oposição, características dos regimes autoritários, faz com que às 23h59min deste domingo saia do ar uma emissora tradicional. A tropelia antidemocrática do presidente tem a oposoção de sete em cada dez venezuelanos, muitos deles partidários do próprio Chávez. Entidades e organizações, ligadas ou não aos meios de comunicações e à defesa de sua liberdade, formam uma voz cada vez mais poderosa de alerta contra o ato de Chávez. Até o Parlamento Europeu, organismo insuspeito, manifestou-se pesaroso e preocupado com o "precedente alarmante" que se consuma neste domingo na Venezuela.
A marcha chavista, da qual o fechamento do mais importante canal de TV é uma das etapas, passa por uma Constituinte que faculta reeleições indefinidas do presidente por uma esdrúxula Lei Habilitante, que lhe permite governar o país por decreto durante um ano e meio.
A democracia venezuelana, como se vê, está em retirada.
--------------------------
Editorial do jornal gaúcho Zero Hora, de 27/05/2007