Uma sessão para discutir barras de cereal e promoções
Diante do presidente da Gol, deputados esqueceram investigação de CPI e apresentaram suas próprias queixas
Brasília http://zh.clicrbs.com.br Criada para investigar o acidente que resultou na morte dos 154 passageiros de um Boeing da Gol, no ano passado, a CPI do Apagão Aéreo da Câmara dedicou parte da sessão de ontem a discutir as barras de cereal distribuídas aos passageiros da companhia aérea e a dificuldade dos deputados de comprar passagens promocionais a R$ 50.
A sessão de lamentações foi motivada pela presença na comissão do presidente da Gol, Constantino de Oliveira. Além de aproveitar a presença do empresário para reclamar das barrinhas de cereal, os parlamentares chegaram a pôr em dúvida a existência da promoção do bilhete a R$ 50.
- Será que não daria para mudar a filosofia da empresa e dar outra coisa que não barrinha de cereal? - indagou o deputado Vic Pires Franco (Democratas-PA), que há dois dias chegou a duvidar que o Boeing tenha se chocado com o Legacy.
Educado, Constantino - considerado pela revista norte-americana Forbes um dos homens mais ricos do mundo - sorriu.
- Dá para ser umas barrinhas de cupuaçu, que é uma fruta típica do Pará. Podemos servir isso como opção - emendou o democrata.
- A barra de cereal faz parte da filosofia da empresa - disse Constantino, explicando que a Gol não encontrou outro alimento que não fosse perecível e tivesse valor nutritivo para substituir a barra de cereal.
Não satisfeito, Vic apresentou outra reclamação. Ele relatou que sua filha passou uma noite inteira acordada tentando comprar passagem a R$ 50 para o namorado ir a Belém.
- Ela não conseguiu comprar a passagem a R$ 50. Eu é que tive de comprar uma passagem a preço normal. Mas só de vingança, comprei a passagem pela TAM - disse.
- Vingança contra quem? Contra o garoto? - brincou Constantino.
Segundo Constantino, este ano 1,2 milhão de pessoas conseguiram comprar passagens a R$ 50. No ano passado, 1,8 milhão de passageiros compraram bilhetes a R$ 1.
O presidente da CPI da Câmara, deputado Marcelo Castro (PMDB-PI), fez questão de corroborar as informações dadas por Constantino. Disse que, no Dia das Mães, sua sogra e mais cinco familiares puderam vir de Teresina para Brasília graças às passagens promocionais da Gol.
Logo no início do depoimento de Constantino, que durou cerca de três horas, o relator da CPI, deputado Marco Maia (PT), quis saber por que o seu vôo de volta para Porto Alegre, nas quintas-feiras à tarde, vem atrasando quase duas horas.
- Por que meu vôo atrasa sempre? Na Gol parece que é mais evidente o despreparado das pessoas que estão atendendo - comentou o relator.
Constrangido, Constantino afirmou que a Gol foi a "companhia aérea mais pontual do país no ano passado" e que a equipe é "motivada e experiente".
Outro que aproveitou a presença de Constantino para reclamar foi o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Ele disse que, na Europa, as passagens compradas no aeroporto praticamente no momento do embarque têm tarifas baixíssimas.
- Mas aqui no Brasil, a tarifa fica até cinco vezes mais cara do que se a passagem tivesse sido comprada um dia antes, por exemplo - afirmou.
O empresário disse que desconhecia essa política de tarifas praticada na Europa e afirmou que a política da Gol "é estimular o mercado de tarifas mais baixas".