Ele pode ir só para fazer as provas. Diria que muitos alunos brilhantes das faculdades brasileiras não gostam de freqüentar as aulas. Na verdade, o que realmente importa é conseguir aprender e estar capaz para demonstrar domínio do conteúdo. Se o indivíduo aprendeu freqüentando as aulas, lendo livros sozinho ou de qualquer outra maneira não interessa. Listas de presença, na minha opinião, são uma bobagem muito grande desprovida de sentido. Se a pessoa faltar em todas as aulas e conseguir ser aprovado nas provas, qual o problema?
Aliás, isso é só um pequeno pedaço de uma grande discussão sobre o peso do paternalismo no ensino brasileiro. Muita gente nestas terras que Cabral descobriu acredita que quanto maior o número de aulas, maior o aprendizado. A quantidade de horas em sala de aula nos cursos superiores por aqui é grande demais. O grosso do aprendizado deveria ser feito pelo próprio aluno, com os professores apenas orientando os estudos. Não deveriamos esperar de nenhum professor que mastigasse o conteúdo para os alunos. Espera-se que eles, ao menos, saibam ler sozinhos.
O problema é que, atualmente, a maioria das pessoas que fazem cursos a distância, especialmente de graduação, não são lá muito preparadas. Eu disse que se espera que um aluno ao menos saiba ler (e interpretar textos relativamente complexos!), mas talvez nem isso essas pessoas consigam direito. Daí, se as dificuldades já seriam grandes num curso presencial, provavelmente elas serão maiores ainda. Mas isso é um problema relacionado ao ensino básico que, infelizmente, está muito longe de ser resolvido. Como diz o professor Daniel Tausk, do IME/USP, alunos bons no Brasil são pouquíssimos, mesmo numa universidade seletiva como a USP. Imagine nas caça-níqueis. A educação brasileira, tanto a pública quanto a privada [1], está em desgraça há muito tempo e não há muitas esperanças.
[1] Falo das escolas privadas porque boa parte delas (especialmente aquelas ligadas aos grandes sistemas didático como o Objetivo, o Anglo, COC, Etapa, etc) se tornaram especializadas em criar máquinas de resolver questões de vestibular fantasiadas de aluno, acabando com qualquer pretensão de educar de verdade os estudantes. Parece ser mais fácil fazer o aluno decorar milhares de fórmulas e questões recorrentes nos vestibulares do que tentar criar uma mentalidade crítica fornecendo conhecimento real para os alunos. Mas, de qualquer forma, essas escolas oferecem aquilo que os pais desejam: ver os seus filhos nas melhores faculdades. Adquirir conhecimento para a vida não importa muito, parece.