Liderança é conversa fiada
| 10/02/2006
Em sua última entrevista à imprensa americana, Peter Drucker questiona a fixação do mundo dos negócios com a formação de líderes Publicidade
Em sua última longa entrevista à imprensa americana, concedida à Rádio Pública Nacional, Peter Drucker -- o mais respeitado pensador dos negócios --, morto em novembro do ano passado, refletiu sobre os temas que consumiram a maior parte de sua existência de 95 anos. Discorreu sobre as vantagens da democracia, enveredou pelo futuro do capitalismo mundial e pela necessidade de haver equilíbrio entre os interesses de acionistas e consumidores. Uma de suas declarações, porém, revelou-se particularmen te surpreendente. Inquirido sobre a necessidade de as escolas de negócios formarem futuros líderes, afirmou não ser essa sua missão. "Toda essa conversa sobre líderes é uma bobagem muito perigosa", disse. "É tudo conversa fiada." EXAME publica com exclusividade, a seguir, os melhores trechos da entrevista:
Desde a publicação de seu livro A Prática da Administração, há 50 anos, o senhor vem formando administradores. Qual seria sua mensagem fundamental para o homem de negócios do século 21? Sempre faço três perguntas, não im porta se o interlocutor representa uma empresa, igreja ou universidade. Também não importa se ele é americano, alemão ou japonês. A primeira é: qual é o seu negócio? O que você está tentando fazer? O que o diferencia dos demais? Segunda: qual a sua definição de resultado? Terceira: quais são suas principais competências? E o que elas têm a ver com os resultados? É só isso. Não há diferença significativa entre o século atual e o último, exceto que hoje o número de empresas é muito maior.
Existem hoje inúmeras escolas de negócios incumbidas de formar novos líderes. Elas estão dando conta dessa tarefa? É um erro afirmar que as escolas de negócios formam líderes. Sua tarefa consiste em formar medíocres competen tes para que realizem um trabalho competente. Pode-se dizer o mesmo das faculdades de medicina. Sua função não é formar líderes, mas médicos que matem o menor número possível de pacientes. Permita-me dizer com toda a sinceridade: não acredito em líderes. Toda essa conversa sobre líderes é uma bobagem muito perigosa. É tudo conversa fiada. Entristece-me constatar que, encerrado o século 20, com líderes como Hitler, Stálin e Mao, as pessoas ainda estejam em busca de quem as comande, apesar de todo esse mau exemplo. Acho que tivemos carisma demais nos últimos 100 anos.
http://portalexame.abril.com.br/degustacao/secure/degustacao.do?COD_SITE=35&COD_RECURSO=211&URL_RETORNO=http://portalexame.abril.com.br/revista/exame/edicoes/0861/gestao/m0080578.html