Sempre achei interessantes e às vezes realmente fascinantes alguns sistemas
esotéricos e ocultistas, apesar de não ter um pingo de fé em nenhum deles…
interessantes pelo lado cultural, pelos desejos, arquétipos e ideário
humanos que representam e pelo lado ficcional, uma espécie de "ficção da
vida real", fantasias pelas quais muitas pessoas REALMENTE pautavam suas
vidas.
Mas, por algum motivo que não consigo racionalmente explicar, tenho MEDO de
me aprofundar nos estudos e no contato com pessoas ligadas a esses sistemas,
rituais e sociedades. Essa irracionalidade me incomoda muito: se não
acredito, por quê tenho medo? Seria o mesmo medo que eu sentia quando
criança dos filmes de terror e do escuro (filmes esses responsáveis em boa
parte por eu achar o ocultismo interessante)?
Por exemplo, vejamos a Ordo Templi Orientis, tradicional e famosa sociedade
esotérica e "mágica" cujo expoente mais popular foi Aleister Crowley: se não
acredito em nada daquilo que eles pregam e vejo tudo como auto-satisfação
embelezada e arrogância patológica aliada ao desejo de mistério e da
sensação de poder, o que me impediria de enviar uma correspondência a eles
pra me filiar e aprender sobre o que se faz e no que se acredita lá? Nada.
Mas embora eu tenha curiosidade e certa fascinação, tenho MEDO.
Um dos motivos que já me aventurei cogitar seria uma possibilidade de
consideração particular minha de que, TALVEZ, rituais e práticas ocultistas
poderiam, através da sugestão aplicada pelos seus dirigentes e ambientes de
celebração e pela impressionabilidade dos participantes, ter consequências
"reais" na psiquê humana, os quais poderiam gerar efeitos no equilíbrio
psicológico ou até somático.
Um exemplo só pra ilustrar seria a cena arrepiante descrita por Paulo Coelho
em "As Valkírias": em certa tarde em seu apartamento, teria ele começado a
se sentir mal e a enxergar, formando-se no meio de sua sala, um vórtice
negro no ar do qual saíam vozes berrando e rindo, objetos sendo quebrados e
sons de um ambiente degradado e assustador. No livro, Paulo Coelho atribui a
visão ao fato de ter sido frequentador de ritos místicos thelemitas (de
Thelema, a doutrina esotérica e filosofia de vida criada por Aleister
Crowley), e a experiência também ocorre simultaneamente com sua namorada,
que já chega da rua com os mesmos sintomas e a uma amiga que lhe faz um
telefonema naquele exato momento pedindo socorro por estar sofrendo o mesmo
mal-estar. A terrível sensação só era aliviada quando as vítimas iniciavam
uma distração mental sequencial como contar objetos, tais como livros,
discos, talheres, etc., o que mais tarde se torna também ineficiente. A
maneira pela qual a experiência é finda não vale a pena mencionar.
(OBS.: li "As Valkírias" na distante época em que desconhecia a plagiação
salafrária e a mediocridade da literatura de Paulo Coelho.)
Fico me perguntando: sugestão administrada em rituais e práticas ocultistas
podem realmente causar efeitos tão drásticos na normalidade psicológica de
uma pessoa, mesmo não sendo de uma maneira tão assustadora quanto colocada por Paulo Coelho? (Sem contar o fato de que me parece impossível que uma
sugestão nesses moldes possa causar o MESMO EFEITO em mais de uma pessoa AO MESMO TEMPO e em LOCAIS DIFERENTES, o que trabalha contra a veracidade razoável da historieta de Paulo Coelho, hehehehe. A não ser talvez um caso
de hipnose coletiva, seria possível?)
Gostaria de saber de vocês, em resumo:
1 - Você também se sente assim, irracionalmente impulsionado a repelir a
prática do ocultismo mesmo não partilhando de fé alguma em uma doutrina
ocultista?
E, por reflexo:
2 - Você já participou de alguma sociedade secreta ou de práticas ou rituais
ocultistas?