Autor Tópico: Raio X de Tio Sam  (Lida 1232 vezes)

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Raio X de Tio Sam
« Online: 23 de Junho de 2007, 06:39:37 »
 Raio X de Tio Sam
Moniz Bandeira diz que 100 anos depois do nascimento, o império americano começa seu declínio

Há mais de 40 anos o professor Luiz Alberto Moniz Bandeira está mergulhado no estudo das relações entre os Estados Unidos e o Brasil. Desse trabalho nasceu uma obra profícua, que teve início com o hoje clássico Presença dos Estados Unidos no Brasil, de 1973, escrito quando o autor ainda estava na clandestinidade. O último rebento dessa prole saíra em 2004: As relações perigosas: Brasil-Estados Unidos (de Collor a Lula). Agora, Moniz Bandeira acaba de publicar Formação do Império Americano. Da guerra contra a Espanha à guerra do Iraque (Civilização Brasileira), uma análise da trajetória e dos mecanismos que fizeram, em pouco mais de 100 anos, os Estados Unidos se transformarem na maior potência de todos os tempos, período em que o “império da liberdade” dos Pais Fundadores da América metamorfoseou-se na “liberdade do império” para atuar no mundo. Doutor em ciência política pela USP, Moniz Bandeira está radicado há dez anos na Alemanha. Em sua passagem pelo Brasil para lançar o livro, ele concedeu esta entrevista a ISTOÉ, na qual afirma que, apesar da pujança de sua economia, o império americano está em declínio e é um gigante com pés de barro.

ISTOÉ – O sr. acredita que os EUA começaram a atuar como potência imperial já a partir da guerra hispano-americana de 1898?

Luiz Alberto Moniz Bandeira – Na verdade, a história dos Estados Unidos, desde 1783, quando terminou a guerra de independência contra a Inglaterra, é a história de sua expansão contínua, primeiro internamente, contra os índios e mexicanos, e depois externamente, como potência imperial. Sob o discurso do “império da liberdade” dos Pais Fundadores da América estava o espírito messiânico dos puritanos, que renovou a tradição judaica de “povo eleito” e “terra prometida” e marcou a formação e a cultura americanas. O período que vai da segunda metade do século XIX até a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), chamado “A Época dos Impérios”, marca a busca das potências industriais por espaços econômicos em outros continentes. E os Estados Unidos começaram a viver esta fase a partir da guerra contra a Espanha, em 1898. Tendo como pretexto – eles sempre têm um – o afundamento do navio Maine, supostamente por espanhóis, no porto de Havana, os EUA fizeram a guerra contra a Espanha para conquistar o que restava do império colonial espanhol. Naquele conflito, os americanos incorporaram Cuba, Filipinas, Guam e Samoa. Aí começou a formação do império americano, a fase da exportação de capitais. Hoje, depois da queda do comunismo e da ascensão de George W. Bush, os americanos proclamam abertamente sua condição de império. E são mesmo. Qual é a nação no mundo que tem bases militares e tropas em todos os continentes?

ISTOÉ – Mas pode-se falar de imperialismo na ausência formal de colônias, como as que integravam os impérios britânico ou francês?

Moniz Bandeira – Justamente, porque o imperialismo é uma coisa muito mais ampla do que o colonialismo. Onde estão as fronteiras dos Estados Unidos hoje? Onde estão as instalações petrolíferas da Standart Oil, onde estão os mercados Wal Mart, onde está qualquer investimento americano estão as fronteiras dos EUA. Para isso, para defender seus investimentos, eles têm que manter soldados em toda a parte. Não é um império igual aos outros do passado – o império romano, o império britânico, que têm características muito diversas. Na verdade, podemos falar, como Karl Kautsky (pensador marxista alemão, 1879-1938, dirigente da II Internacional), num superimperialismo, em que a luta entre os capitais financeiros nacionais dá lugar à solidariedade do capital financeiro globalizado. Este capital financeiro globalizado, sob a liderança dos EUA, se transformou num cartel, e os países industrializados deixaram de competir entre si através de conflitos bélicos. As guerras, para o consumo do material bélico, passam a ocorrer apenas na periferia, nos países do Terceiro Mundo. Isso não quer dizer que o capital financeiro internacional consiga impor uma ditadura global, porque ainda existe resistência. E as contradições entre as potências desse cartel, como entre os EUA e a União Européia, não cessaram de existir.

ISTOÉ – Nesse quadro, existe espaço de manobra para que países emergentes como o Brasil possam jogar com essas contradições e aumentar sua participação no cenário internacional?

Moniz Bandeira – Sempre é possível jogar com essas contradições de interesses no cenário internacional, embora o Brasil esteja inserido neste mesmo contexto da economia internacional. Mas o Brasil não pode afrontar abertamente esse sistema, como fez a Argentina. Como disse o Cristovam Buarque num artigo recente, não foi a Argentina quem fez o default (calote da dívida externa), foi o default que fez a Argentina. Já o Brasil não pode hoje simplesmente decretar uma moratória, pois nossa economia está globalizada. Mas nós podemos rejeitar a Área de Livre Comércio das Américas (Alca), como o fizemos. Isso está dentro da margem de manobra. Por quê? Porque a Alca não é uma área de livre comércio, é um sistema de regras que os EUA querem impor para abrir compras governamentais e investimentos. O Brasil não tem condições de investir muito nos EUA, mas eles querem investir muito aqui, só que nas melhores condições para eles. Mas nós resistimos e a Alca acabou. Apesar da hegemonia americana, algumas tendências multipolares permitem contrapontos – a emergência da China, as contradições EUA/União Européia. Na América do Sul há espaço para manobra, desde que os governos saibam se conduzir com autonomia, não com subserviência.

ISTOÉ – No caso do Iraque, não houve esse espaço de manobra...

Moniz Bandeira – Além das questões geoestratégicas – controle do petróleo e necessidade de reordenar o Oriente Médio –, o Iraque foi invadido porque os americanos sabiam que eles não tinham nenhum tipo de arma de destruição de massa, como foi apregoado. Senão, por que os EUA não invadiram a Coréia do Norte? Porque eles sabem que aquele país possui armas nucleares.

ISTOÉ – Mas os EUA ainda são a economia mais poderosa do globo...

Moniz Bandeira – Mas observe, os EUA, com toda sua pujança, não conseguem ter um domínio completo da economia global. A dívida externa dos americanos é mais de dois terços do PIB, US$ 7 trilhões, de um PIB de US$ 11 trilhões. Além disso, eles têm um enorme déficit comercial e fiscal. A China e a Europa estão cheios de dólares; no dia em que eles resolverem colocá-los em circulação, acaba a economia americana. É claro que isso não interessa nem a europeus nem a chineses, porque também prejudica seu comércio. Então, podemos dizer que o império americano, que há pouco vivia em seu apogeu, já apresenta sinais de declínio. Só que não podemos dizer quanto tempo esse declínio vai durar. Hoje, de qualquer forma, o império americano é um gigante com pés de barro.

ISTOÉ – Ainda assim, corre o risco de se tornar uma ditadura?

Moniz Bandeira – Existe esse perigo. Veja as violações dos direitos humanos em Guantánamo, em Abu Ghraib. Mas não há cultura política para um golpe militar nos EUA; pode haver uma evolução para um Estado autoritário, como na Alemanha. Hitler não precisou revogar sequer uma linha da Constituição de Weimar para implantar sua tirania.

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Offline Rodion

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Re: Raio X de Tio Sam
« Resposta #1 Online: 23 de Junho de 2007, 10:07:19 »
arre, moniz bandeira. anti-americano profissional.
"Notai, vós homens de ação orgulhosos, não sois senão os instrumentos inconscientes dos homens de pensamento, que na quietude humilde traçaram freqüentemente vossos planos de ação mais definidos." heinrich heine

Offline HSette

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Re: Raio X de Tio Sam
« Resposta #2 Online: 23 de Junho de 2007, 10:13:19 »
arre, moniz bandeira. anti-americano profissional.

Mas o Moniz tem um bom currículo, e penso que não se pode acusar que sua obra esteja contaminada pelo seu posicionamento ideológico.

De mais a mais a mais, os EUA têm sérios problemas com a gestão de seus imensos déficits, algo que eles mesmo reconhecem.
A sua política intervencionista está atrelada a uma tentativa de controle de mercados externos, pois sem isso, bye bye.

E usam a balela de estarem levando a liberdade e a democracia para os confins do mundo.  :(
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Chaves

Offline Rodion

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Re: Raio X de Tio Sam
« Resposta #3 Online: 23 de Junho de 2007, 10:20:42 »
arre, moniz bandeira. anti-americano profissional.

Mas o Moniz tem um bom currículo, e penso que não se pode acusar que sua obra esteja contaminada pelo seu posicionamento ideológico.
ah, sim, se pode. nas humanas parece que é assim. bastante gente entra na graduação com um posicionamento e está disposta a absorver somente aquilo que o corrobore. passa a graduação… no mestrado ou no doutorado se escolhe o tema… e pronto, se entrou um idiota, saiu um idiota só que cheio de títulos. o mais difícil é mudar.
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De mais a mais a mais, os EUA têm sérios problemas com a gestão de seus imensos déficits, algo que eles mesmo reconhecem.
A sua política intervencionista está atrelada a uma tentativa de controle de mercados externos, pois sem isso, bye bye.
já dizia hegel que lugar de profeta não é na academia.
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E usam a balela de estarem levando a liberdade e a democracia para os confins do mundo.  :(
raciocínio bastante simples. assim fica até fácil de acreditar.
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Offline HSette

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Re: Raio X de Tio Sam
« Resposta #4 Online: 23 de Junho de 2007, 10:28:11 »
arre, moniz bandeira. anti-americano profissional.

Mas o Moniz tem um bom currículo, e penso que não se pode acusar que sua obra esteja contaminada pelo seu posicionamento ideológico.
ah, sim, se pode. nas humanas parece que é assim. bastante gente entra na graduação com um posicionamento e está disposta a absorver somente aquilo que o corrobore. passa a graduação… no mestrado ou no doutorado se escolhe o tema… e pronto, se entrou um idiota, saiu um idiota só que cheio de títulos. o mais difícil é mudar.
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De mais a mais a mais, os EUA têm sérios problemas com a gestão de seus imensos déficits, algo que eles mesmo reconhecem.
A sua política intervencionista está atrelada a uma tentativa de controle de mercados externos, pois sem isso, bye bye.
já dizia hegel que lugar de profeta não é na academia.
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E usam a balela de estarem levando a liberdade e a democracia para os confins do mundo.  :(
raciocínio bastante simples. assim fica até fácil de acreditar.

Ok.

Moniz é um vermelho incorrigível.
A economia norte-americana não apresenta problemas.
Os EUA são os guardiões da liberdade e democracia e devem levar esses valores para todos os povos bárbaros do mundo.

 :stunned: :stunned: :stunned:
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Offline Rodion

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Re: Raio X de Tio Sam
« Resposta #5 Online: 23 de Junho de 2007, 10:38:43 »
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Moniz é um vermelho incorrigível.
moniz é vermelhinho, o que não deve invalidar, a priori, nenhum argumento que levante. da mesma forma, nem a sua titulação nem o fato de um livro seu estar na bibliografia obrigatória do instituto rio branco(obra do sr.samuel pinheiro de guimarães, que também é vermelhinho) devem imediatamente endossar o que fale.
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A economia norte-americana não apresenta problemas.
a economia norte-americana apresenta problemas, como a francesa, a alemã, a brasileira...
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Os EUA são os guardiões da liberdade e democracia e devem levar esses valores para todos os povos bárbaros do mundo.
síntese do pensamento neocon. mas isso de 'pensamentos' e 'idéias' é ridículo, porque, como todos sabemos, pelo menos no caso dos eua, tudo que os move são indústrias bélicas e petróleo.

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Offline HSette

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Re: Raio X de Tio Sam
« Resposta #6 Online: 23 de Junho de 2007, 11:04:08 »
Bruno, é bom que se reconheça que o posicionamento ideológico de um autor não invalida, e não contamina necessariamente, sua obra.

Sobre os problemas da economia dos EUA, eu penso que elas são incomparáveis com qualquer nação do mundo. O que se pode afirmar é que os problemas dos EUA, se saírem do controle, passarão a ser problemas (e que problemas) para todo mundo. Isso acaba sendo, de certa forma, uma espécie de seguro para os próprios EUA.
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Offline Dr. Manhattan

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Re: Raio X de Tio Sam
« Resposta #7 Online: 24 de Junho de 2007, 15:39:43 »
Eu só queria acrescentar que já vi análises semelhantes em vários outros lugares. É bom lembrar também que, em termos percentuais, a
economia dos EUA é hoje menor em relaçao ao resto do mundo do que a, digamos, 60 anos atrás. Aliás, os gastos militares dos EUA
estão num patamar que rivaliza o do período da Guerra Fria:
http://www.salon.com/opinion/feature/2007/06/15/war_budget/index_np.html

 
 
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Re: Raio X de Tio Sam
« Resposta #8 Online: 02 de Julho de 2007, 15:26:20 »
Eu só queria acrescentar que já vi análises semelhantes em vários outros lugares. É bom lembrar também que, em termos percentuais, a
economia dos EUA é hoje menor em relaçao ao resto do mundo do que a, digamos, 60 anos atrás. Aliás, os gastos militares dos EUA
estão num patamar que rivaliza o do período da Guerra Fria:
http://www.salon.com/opinion/feature/2007/06/15/war_budget/index_np.html

A ideia de certos tipos é levarem os EUA à ruína económica.
E o curioso é que poderão ser bem sucedidos, visto que esses tipos não têm quase gastos nenhuns ao contrário da antiga URSS.

No Iraque vemos material bélico de milhões dólares ser destruído por material de escassas centenas de dólares.

EUA erraram ao invadir o Iraque, deviam ter concentrado esforços no Afeganistão.
Tenho considerado que é nessa região que jogará o nosso futuro colectivo.
A ver vamos o que o Paquistão dará ao mundo...

 

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