Autor Tópico: O laboratório de Nietzsche.  (Lida 837 vezes)

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Offline Quereu

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  • Evoé Baco
O laboratório de Nietzsche.
« Online: 24 de Junho de 2007, 14:04:17 »
Como sou ateu confesso, muitos amigos evangélicos se sentem desafiados pela minha condição, o que causa intermináveis discussões. Isso não me aborrece, gosto de discutir. Sempre que cito as atrocidades da bíblia, massacres de mulheres, crianças e até de animais, a resposta invariável é que eles não mereciam viver, pois deus sabia que seus corações estavam conspurcados e eram irrecuperáveis. “Até as crianças?” – indago sempre. “Até as crianças”, é a resposta. Curiosamente, Javé, que criara a lei, cansou-se do morticínio e a modificou com o advento de Cristo. “Por que?” “Agora os homens estavam preparados para a mensagem”. Estranha criatura essa que deus criou. Precisa ser purificada pela morte e tormento de muitos para que um punhado muito seleto seja salvo.

Discussão eu estimulo, pregação não suporto. Um colega meu, evangélico, todo dia me cumprimentava: “Jesus tem uma grande obra na sua vida”. Comecei a me aborrecer. Um dia respondi: “De fato preciso ir à igreja”. E acrescentava que tinha muita irmã gostosa e não resisto a mulher bonita. “Será que tenho chances”? Isso foi umas três ou quatro vezes até que ele desistiu. A salvação de minha alma imortal estava aquém do respeito às mulheres evangélicas. Não foi uma saída muito elegante, mas ele parou a pregação. Na certa me considera um cínico irrecuperável.

Outro colega também se cansou de discutir comigo e veio com esta: “Você para deus não fede nem cheira”. Como se eu quisesse alguma coisa com o nariz de um ente imaginário... Não resisti e lhe devolvi: “E você”? “Ah, eu sou especial para deus”. De início duvidei que falasse sério. Depois dei uma boa olhada e compreendi. O sujeito era um simples operário que labutava duramente para ganhar a vida. Seu status era muito baixo. Mas ser especial para uma criatura tão poderosa que iria julgar ricos e pobres representava um considerável reforço ao seu ego. Tive o privilégio de estar no laboratório de Nietzsche.

Outro ensinamento que tive em discussões com evangélicos é que a verdade sozinha, sem comunicar-se é como um fantasma, não existe. E que a mentira compartilhada torna-se verdade. Não é coisa nova claro. Mas o laboratório reforça a conclusão. É muito difícil abraçar uma verdade que ninguém aceita. Por isso, mesmo nós, ateus, temos a necessidade de discutir, de provar que estamos certo. Ninguém suporta a solidão. E os crentes de qualquer religião precisam de companhia vociferante e numerosa para que suas crenças falsas adquiram aura de verdade.

Aprendi ainda outra coisa. Toda discussão é inútil a não ser que apele as emoções. Deus, Jesus, Javé, Alá, Maomé, Buda moram naquela parte da mente que sente. Até ateus podem ser dogmáticos e firmar suas suposições nessa parte. O verdadeiro ateu é totalmente racional e existe tanto quanto um anjo. Não passamos de ratos de laboratório, todos nós. Por isso esse tópico é sem sentido e não tem objetivo outro que expor o seu autor – e seu íntimo – à avaliação pública. Como dizia o Mário de Andrade, se um escritor publica seus escritos é por vaidade e se não publica é por vaidade também. Agora, o rato no laboratório sou eu.
A Irlanda é uma porca gorda que come toda a sua cria - James Joyce em O Retrato do Artista Quando Jovem

Offline uiliníli

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Re: O laboratório de Nietzsche.
« Resposta #1 Online: 24 de Junho de 2007, 23:06:18 »
"Vaidade de vaidades, diz o pregador, vaidade de vaidades, É tudo vaidade.." Eclesiastes 1:1 e 2.   :hihi:

Todo mundo tem necessidade de se sentir especial, somos animais sociais, vivemos em grupos. Nem sempre se consegue ser apreciado pelos seus pares, por isso um Deus imaginário que te ama incondicionalmente (ou talvez um cachorro, dá no mesmo) é muito conveniente.

Nós ateus não temos um Deus para nos fazer sentir especiais, mas não somos diferentes do resto da humanidade. Por que outra razão nos reunimos virtualmente aqui neste fórum se não para nos sentirmos dentro de um grupo? Não somos muito diferentes de um rebanho de bodes, pastamos juntos, ficamos contentes com a companhia um do outro, mas de vez em quando batemos cabeça para subir na hierarquia social :lol:

Offline Shinigami-Ateu

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Re: O laboratório de Nietzsche.
« Resposta #2 Online: 06 de Julho de 2007, 17:27:07 »
No meu ponto de vista, penso que todos os ateus deveriam ser militantes, estamos a todo tempo sobre ataque e, o pior de tudo, tentam a todo custo nos impor conceitos religiosos.
Semana passada mesmo fui obrigado a ir em uma missa e um culto, devido a formatura do cursos pos médio onde ministro aula.
A pedido dos outros professores e alunos fui obrigado a ir, mesmo me declarando ateu, tive que ficar lá de frente com o padre de braços cruzados, todos me olhando torto, como se eu fosse uma aberração da natureza, passei maus momentos, quase que acenderam-se as tochas.....
Mas o pior estava por vir, o culto evangélico foi horrível..... não acabava nunca,  pessoas gritando aleluia e cantando sem parar, e no final um pastor começou a fazer a oração, começou a falar palavras sem nexo rapidamente, só falava merd*
Eu pensava comigo, como pode alguém participar de um troço desse, não consigo entender essas coisas.


Tristeza

"Por que temer a morte? Enquanto eu sou, a morte não é; e, quando ela for, eu já não serei. Por que deveria temer o que não pode ser enquanto sou?”.

Offline Luis Dantas

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Re: O laboratório de Nietzsche.
« Resposta #3 Online: 06 de Julho de 2007, 22:59:02 »
Isso de assistir cultos por obrigação realmente é dose.  Mas não sei se "estar sob ataque" é uma forma justa de descrever a situação.
Wiki experimental | http://luisdantas.zip.net
The stanza uttered by a teacher is reborn in the scholar who repeats the word

Em 18 de janeiro de 2010, ainda não vejo motivo para postar aqui. Estou nos fóruns Ateus do Brasil, Realidade, RV.  Se a Moderação reconquistar meu respeito, eu volto.  Questão de coerência.

One

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Re: O laboratório de Nietzsche.
« Resposta #4 Online: 07 de Julho de 2007, 03:06:58 »
Pode-se ir num funeral e actuar do nosso modo.
Se me deparasse com ritos estranhos como os descritos talvez ficasse apenas   :umm:

Já se o rito, o funeral propriamente dito não se encaixar na nossa forma de estar, então não iria.
Aliás, ainda não fui a nenhum.

One

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Re: O laboratório de Nietzsche.
« Resposta #5 Online: 07 de Julho de 2007, 03:09:09 »
No meu ponto de vista, penso que todos os ateus deveriam ser militantes, estamos a todo tempo sobre ataque e, o pior de tudo, tentam a todo custo nos impor conceitos religiosos.
Semana passada mesmo fui obrigado a ir em uma missa e um culto, devido a formatura do cursos pos médio onde ministro aula.
A pedido dos outros professores e alunos fui obrigado a ir, mesmo me declarando ateu, tive que ficar lá de frente com o padre de braços cruzados, todos me olhando torto, como se eu fosse uma aberração da natureza, passei maus momentos, quase que acenderam-se as tochas…
Mas o pior estava por vir, o culto evangélico foi horrível… não acabava nunca,  pessoas gritando aleluia e cantando sem parar, e no final um pastor começou a fazer a oração, começou a falar palavras sem nexo rapidamente, só falava merd*
Eu pensava comigo, como pode alguém participar de um troço desse, não consigo entender essas coisas.


Tristeza


Pode-se ir num funeral e actuar do nosso modo.
Se me deparasse com ritos estranhos como os descritos talvez ficasse apenas   :umm:

Já se o rito, o funeral propriamente dito não se encaixar na nossa forma de estar, então não iria.
Aliás, ainda não fui a nenhum.

 

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