Isso me lembra de algo que estive pensando hoje:
As idéias de moral e a justiça, se transportadas em excesso da vida cotidiana para a vida pública (no caso, relativa ao Estado) deixam o ser humano em completo desamparo moral, talvez até existencial. Ora, se a lei moral vira lei do Estado - e não estou nem falando em heteronomia: falo duma dissociação entre as idéias criadas pelo homem (os costumes) e seu criador - passam a vigorar, concretamente, em uma instuituição extremamente distante da vida cotidiana. O que era comum e objetivo (pois todos compartilham de muitas idéias semelhantes), vira formal e distante - dando margem ao aparecimento de profetas (no nosso caso, magistrados), legisladores eruditos, gente que fica pensando abobrinha pra justificar ações e impôr leis distantes do senso comum e dos costumes.
O formalismo é tal que o legislador e o grupo de magistrados representantes do Estado podem obrigar qualquer um a aceitar qualquer lei contrária ao senso comum, unicamente pela autoridade de que gozam. Expulsar um cidadão de um tribunal é só um exemplo desse excesso de autoridade e sua distância em relação aos cidadãos. Também exemplifica que tal juíz imagina ter posse do tribunal por julgar os outros dentro dele, posse das leis por impô-las, e posse da Justiça por ter autoridade para "criá-la" durante o julgamento de um processo. Quanto mais demorada a gestação dessa "Justiça", mais paternal é a relação do juíz com ela e com os símbolos que a exprimem, no mundo real; mais o sentimento de posse se expande, menos pública ela se torna, pior para quem precisa dela, melhor para quem dela se aproveita.
Em suma: justiça muito solene, moral "estatizada" em códigos intermináveis e pesados (no sentido de obterem para si boa parte da força coercitiva do Estado, este naturalmente distante), e autoridade excessiva acabam gerando tanto esse ato do juíz do post acima, quanto uma nova espécie de homem: o homem-legal, desprovido de autonomia (em outras palavras: desamparado), cuja moral e cujos costumes passam a ser dependentes de um legislador e de um modelo político - ou seja, dependentes dos homens-públicos, e nós os conhecemos muito bem…