Autor Tópico: Queda-de-braço com Deus (Revista Veja)  (Lida 2170 vezes)

0 Membros e 1 Visitante estão vendo este tópico.

Offline Vito

  • Webmaster
  • Nível 37
  • *
  • Mensagens: 3.554
  • Sexo: Masculino
    • Realidade
Queda-de-braço com Deus (Revista Veja)
« Online: 25 de Junho de 2007, 21:09:52 »
Queda-de-braço com Deus

Os ateus fazem sua propaganda em livros que provocam os fiéis e afirmam que pode existir sentido em uma vida sem religião

Jerônimo Teixeira

Quando o astrônomo e matemático francês Pierre-Simon de Laplace apresentou seu Tratado de Mecânica Celeste a Napoleão Bonaparte, o imperador estranhou uma ausência naquela laboriosa aplicação da física de Isaac Newton ao movimento de planetas e estrelas. Por que, quis saber napoleão, Laplace não mencionava Deus? "Eu não precisei dessa hipótese", foi a resposta do astrônomo. Deus saía de cena na ordem celeste - e mais ou menos sessenta anos depois, com a publicação de A Origem das Espécies, de Charles Darwin, em 1859, a hipótese divina também era dispensada para explicar a vida sobre a Terra. Deus não cedeu espaço na moral, na cultura, na sociedade, nem mesmo na política. Mas a ambição de expulsá-lo de vez - e com Ele, padres, pastores, imãs e rabinos - de todos os recessos da existência vem ganhando expressão em vários livros recentes. O proselitismo ateu anda forte nas livrarias, com um elenco preeminente e variado de autores abrindo fogo contra os fiéis: o biólogo inglês Richard Dawkins, o filósofo americano Daniel Dennett, o jornalista inglês Christopher Hitchens e o filósofo francês Michael Onfray. Os livros de Hitchens e Dawkins vêm freqüentando listas dos mais vendidos nos Estados Unidos, e Onfray vendeu 200.000 exemplares de seu Tratado de Ateologia (tradução de Monica Stahel; Martins Fontes; 214 páginas; 39,80 reais) na França. Esses livros são sobretudo uma reação - às vezes exagerada, alarmista até - a um certo recrudescimento da religião em suas versões mais fanáticas, no mundo pós-11 de Setembro.

O caráter reativo dessas obras se revela no tom. Distintas na forma e nos pressupostos, todas têm uma tendência um tanto infantil à provocação. Em uma resenha do livro Quebrando o Encanto (tradução de Helena Londres; Globo; 456 página; 39 reais), de Daniel Denett, publicada no The Washington Post, o teólogo Jack Miles, autor de Deus, uma Biografia, observou que às vezes o filósofo darwinista parece estar puxando os crentes para a briga, como quem diz "vamos acertar isso lá fora". E o livro de Dennett é o menos exaltado - chega até a propor um diálogo com os religiosos moderados. Amigo de Dennett, Richard Dawkings mostra-se mais virulento já no título, The God Dilusion (Deus, um delírio, a ser lançado no Brasil em agosto, pela Companhia das Letras). Radical, ele não aceita nenhuma divisão de terreno, na linha "a ciência trata do mundo físico, a religião, do esiritual. Argumenta que a religião nunca se contenta nos limites do mundo espiritual. Todas as igrejas fazem afirmações sobre o mundo físico, postulando a existência de milagres e intervenções divinas (quando foi baleado em um atentado, o papa João Paulo II afirmou que a mão de Nossa Senhora de Fátima o salvou. Dawkins prefere o crédito ao tme de cirurgiões que operou o sumo pontífice). Christopher Hitchens, em God is Not Great (Deus Não É Grande, a sair em outubro, pela Ediouro), leva um argumento semelhante ao campo político: seria ilusório imaginar que a pregação de padres, rabinos e imãs só se estende aos fiéis, que não se interfere em nada no dia-a-dia das sociedades seculares. As religiões estão sempre tentando influenciar políticas públicas, especialmente quando questões morais e sexuais estão em jogo. Aliás, Hitchens, com sua peculiar ironia, se refestela ao tratar da obsessão religiosa por pureza sexual: "Os lunáticos homicidas do 11 de Setembro foram talvez tentados pelas virgens do Paraíso islâmico, mas o mais vevoltante é que, como muitos de seus camaradas de jihad, eles mesmos eram virgens".

A questão fundamental levantada pelo ateísmo, porém, está além dos embates entre cientistas e sacerdotes ou da tensão entre a Igreja e a sociedade laica. É um território minado da filosofia: a existência de Deus não pode ser comprovada, mas tampouco há como negá-la. O filósofo americano Richard Rorty (morto no início de junho), em um ensaio de O Futuro da Religião (Relume-Dumará) - livro em co-autoria com o italiano Gianni Vattimo -, chega a dizer que essa é uma "questão ruim": não pode ser decidida e, portanto, deve ser abandonada. Rorty preferia declarar-se anticlerical, e não ateu, pois "o anticlericalismo é uma perspectiva política, e não epistemológica ou metafísica." Dawkins arrisca-se nessa área de indecisões: sim, ele admite, é impossível negar Deus, mas nem por isso ateísmo e teísmo são hipóteses equivalentes. A evolução parte de elementos simples para chegar a formas complexas como o olho ou o cérebro humano. A hipótese teísta seria uma inversão dessa lógica: coloca uma inteligência complexa como origem de todo o universo. Não se trata, portanto, de dizer que Deus não existe: ele seria apenas muito, muito improvável.

Darwin é a referência fundamental de Dawkins, e Dennett também recorre ao filósofo escocês David Hume. Hitchens às vezes cita O Futuro de uma Ilusão, a crítica de Sigmund Freud às religiões. Friedrich Nietzsche, o alemão que se propôs a derrubar a moral judaico-cristã com seu martelo filosófico, só aparece marginalmente nesses autores - mas é fundamental para Michael Onfray. O francês contesta o famoso slogan de Assim Falou Zaratustra. "Deus está morto". "Não se mata uma ficção", diz Onfray. Mas Ofray reconhece em Nitzsche a fundação para "uma outra moral, uma nova ética, valores inéditos". Ao contráriodos outros livros, Tratado de Ateologia traz um antiquado ardor utópico, ainda que de contornos vagos. A crítica ao islamismo é um ponto forte - e polêmico - do livro. "O Corão não permite a religião à la carte", diz Onfray. Ou seja, o mulçumano não pode fazer como os cristãos e judeus modernos, que tendem a escolher os preceitos que vão ou não seguir nos textos sagrados. O islã seria "estruturalmente arcaico" e totalitário.

Onfray recupera figuras obscuras da história das idéias, como Jean Meslier (1644-1729), um abade que rompeu com a Igreja para escrever panfletos anti-religiosos que estariam entre as primeiras obras de franco ateísmo da história. A palavra "ateu" sempre foi usada para caracterizar heresias ou crenças desviantes. A negação efetiva de Deus, porém, era uma impossibilidade teórica no mundo imerso em religião anterior ao Iluminismo. A historiadora da religião Karen Armstrong diz que os ateus de fato só começam a surgir no fim do século XVIII. Não é de estranhar que o recente ensaísmo de propaganda atéia busque uma certa coloração heróica: o ateu, afinal, é uma criatura relativamente recente sobre a face da Terra, e como tal ainda tem de se afirmar.

Dawkins, Onfray e Hitchens deixam a sugestão temerária de que o mundo seria melhor sem religião. Eis outra hipótese que simplesmente não pode ser testada. O que se pode afirmar, porém, é que a crença em Deus não é necessária para uma vida correta. A moral não é, como Nitzsche sugeria, uma impostura do cristianismo: o senso do certo e do errado, do justo e do injusto, transcende as religiões e, em certa medida, está impresso na natureza humana. Dennett observa que, mesmo um ateu pode e deve cultivar valores sagrados, como a verdade, o amor, a democracia. Uma vida sem Deus tampouco precisa ser vazia de sentido, como bem demostrou o filósofo galês Bertrand Russell: "Eu acredito que, quando eu morrer, irei apodrecer, e nada do meu ego sobreviverá. Mas me recuso a tremer de temor diante daminha aniquilação. A felicidade não é menos felicidade porque deve chegar a um fim, nem o pensamento e o amor perdem seu valor porque não são eternos".

Fonte: Veja, ed. 2014, ano 40, nº 25, 27/06/07
Source BB by Christiano: http://porissocri.forumportal.us/viewtopic.php?t=1188

Offline Daniboy

  • Nível 21
  • *
  • Mensagens: 707
  • Sexo: Masculino
  • "Penso, logo, sou ateu."
    • The Richard Dawkins Foundation for Reason and Science
Re: Queda-de-braço com Deus (Revista Veja)
« Resposta #1 Online: 25 de Junho de 2007, 21:48:23 »
Eu li a matéria hoje mesmo enquanto estava defecando em meu vaso sanitário.

Interessante, a galera da Abril é bem cética, dão bastante valor ao evolucionismo e colocam bastante matérias sobre ceticismo, claro que há o lado popular, precisam muito ser imparciais.

Não gosto de nada da globo por saber do histórico tendencioso de todos meios de comunicação, Época e O Globo são o maior lixo escrito do Brasil, somente pelo fato de não terem feito UMA matéria esculhachando o Lula mostra como são descaradamente tendenciosos.
"Afirmar que "Deus fez isso" não é nada mais do que uma admissão de ignorância vestida enganadoramente como uma explicação."
Peter Atkins

"Sou ateu apenas porque Deus não existe. Se existisse e fosse como dizem as religiões, eu o odiaria!"

"Os teístas distorcem seus conhecimentos devido a suas crenças, os ateus distorcem suas crenças devido a seus conhecimentos."

Offline Oceanos

  • Nível Máximo
  • *
  • Mensagens: 8.924
  • Sexo: Masculino
Re: Queda-de-braço com Deus (Revista Veja)
« Resposta #2 Online: 26 de Junho de 2007, 00:53:19 »
Nada que eu já não saiba e nada que alguém se interesse em saber. Matéria ruim. Pelo subtítulo pensei que falariam de moral e essas coisas, mas encheram lingüiça o texto inteiro.

Offline Fernando Silva

  • Conselheiros
  • Nível Máximo
  • *
  • Mensagens: 7.505
Re: Queda-de-braço com Deus (Revista Veja)
« Resposta #3 Online: 26 de Junho de 2007, 07:36:54 »
Não gosto de nada da globo por saber do histórico tendencioso de todos meios de comunicação, Época e O Globo são o maior lixo escrito do Brasil, somente pelo fato de não terem feito UMA matéria esculhachando o Lula mostra como são descaradamente tendenciosos.
O PT pode não concordar com você. Não sei se existe uma opinião oficial de "O Globo", mas seus colunistas já criticaram o Lula e seu governo de tudo o que é jeito e um deles está sendo processado por isto.

De qualquer modo, quem critica é chamado de tendencioso por um dos lados e quem não critica é chamado de tendencioso pelo outro. Não é fácil ser imprensa.

Offline Fernando Silva

  • Conselheiros
  • Nível Máximo
  • *
  • Mensagens: 7.505
Re: Queda-de-braço com Deus (Revista Veja)
« Resposta #4 Online: 26 de Junho de 2007, 07:43:38 »
Nada que eu já não saiba e nada que alguém se interesse em saber. Matéria ruim. Pelo subtítulo pensei que falariam de moral e essas coisas, mas encheram lingüiça o texto inteiro.
Num fórum como este, é difícil encontrar alguém que já não tenha pensado no assunto, mas pode ser uma novidade absoluta para o grande público.
Declarar-se ateu ou constestar a historicidade de Jesus causam fortes reações em muita gente.

Este tipo de artigo, por mais limitado que nos pareça, serve para divulgar alguns conceitos que ainda são tabu e levar as pessoas a, pelo menos, pensar. Não se pode pensar naquilo que nunca nos passou pela cabeça.

Acredite: fiquei chocado quando, lá pelos 10 anos, li no jornal um comentário sobre a teoria de que os judeus teriam roubado o corpo de Jesus para dar a impressão de que ele teria ressuscitado. É uma coisa que está na Bíblia, inclusive, mas que nunca tinha me ocorrido.
Pareceu-me um absurdo que alguém sequer levantasse a hipótese.

Offline Daniboy

  • Nível 21
  • *
  • Mensagens: 707
  • Sexo: Masculino
  • "Penso, logo, sou ateu."
    • The Richard Dawkins Foundation for Reason and Science
Re: Queda-de-braço com Deus (Revista Veja)
« Resposta #5 Online: 26 de Junho de 2007, 08:05:58 »
Não gosto de nada da globo por saber do histórico tendencioso de todos meios de comunicação, Época e O Globo são o maior lixo escrito do Brasil, somente pelo fato de não terem feito UMA matéria esculhachando o Lula mostra como são descaradamente tendenciosos.
O PT pode não concordar com você. Não sei se existe uma opinião oficial de "O Globo", mas seus colunistas já criticaram o Lula e seu governo de tudo o que é jeito e um deles está sendo processado por isto.

De qualquer modo, quem critica é chamado de tendencioso por um dos lados e quem não critica é chamado de tendencioso pelo outro. Não é fácil ser imprensa.
O PT não concorda com nada que é correto, no O Globo nunca vi matérias criticando o governo, não sou do Rio mas assino também, na Época então nem se fala, se falam do Lula são matérias neutras, somente informam sobre as coisas que ele iria fazer, censurando grande parte.
"Afirmar que "Deus fez isso" não é nada mais do que uma admissão de ignorância vestida enganadoramente como uma explicação."
Peter Atkins

"Sou ateu apenas porque Deus não existe. Se existisse e fosse como dizem as religiões, eu o odiaria!"

"Os teístas distorcem seus conhecimentos devido a suas crenças, os ateus distorcem suas crenças devido a seus conhecimentos."

Offline Mussain!

  • Contas Excluídas
  • Nível Máximo
  • *
  • Mensagens: 8.228
  • Sexo: Masculino
Re: Queda-de-braço com Deus (Revista Veja)
« Resposta #6 Online: 26 de Junho de 2007, 09:12:43 »
Darwin é Satanista! Aquele cão!  :lol:

















Vcs viram a capa da Super interessante desse mÊs?  :biglol:

« Última modificação: 26 de Junho de 2007, 10:07:56 por Mussolim Bucetê »

Offline Daniboy

  • Nível 21
  • *
  • Mensagens: 707
  • Sexo: Masculino
  • "Penso, logo, sou ateu."
    • The Richard Dawkins Foundation for Reason and Science
Re: Queda-de-braço com Deus (Revista Veja)
« Resposta #7 Online: 26 de Junho de 2007, 10:29:41 »
Darwin é Satanista! Aquele cão!  :lol:

















Vcs viram a capa da Super interessante desse mÊs?  :biglol:


Você fala do "O Homem que matou deus?"
"Afirmar que "Deus fez isso" não é nada mais do que uma admissão de ignorância vestida enganadoramente como uma explicação."
Peter Atkins

"Sou ateu apenas porque Deus não existe. Se existisse e fosse como dizem as religiões, eu o odiaria!"

"Os teístas distorcem seus conhecimentos devido a suas crenças, os ateus distorcem suas crenças devido a seus conhecimentos."

Offline Oceanos

  • Nível Máximo
  • *
  • Mensagens: 8.924
  • Sexo: Masculino
Re: Queda-de-braço com Deus (Revista Veja)
« Resposta #8 Online: 26 de Junho de 2007, 12:24:12 »
Num fórum como este, é difícil encontrar alguém que já não tenha pensado no assunto, mas pode ser uma novidade absoluta para o grande público.
Declarar-se ateu ou constestar a historicidade de Jesus causam fortes reações em muita gente.

Este tipo de artigo, por mais limitado que nos pareça, serve para divulgar alguns conceitos que ainda são tabu e levar as pessoas a, pelo menos, pensar. Não se pode pensar naquilo que nunca nos passou pela cabeça.

Acredite: fiquei chocado quando, lá pelos 10 anos, li no jornal um comentário sobre a teoria de que os judeus teriam roubado o corpo de Jesus para dar a impressão de que ele teria ressuscitado. É uma coisa que está na Bíblia, inclusive, mas que nunca tinha me ocorrido.
Pareceu-me um absurdo que alguém sequer levantasse a hipótese.
A teoria de que judeus roubaram o corpo de Jesus é algo que ainda vai... Esse artigo não falou nada para ninguém - ninguém quer saber o nome dos ateus que lutam "como crianças" contra deus - exceto no último parágrafo, que é um tema bastante relevante. Se o conteúdo do texto fosse o que o subtítulo propõe, com certeza seria muito melhor. Matéria superficial e fraca, até para quem nunca pensou no assunto.

Offline Oceanos

  • Nível Máximo
  • *
  • Mensagens: 8.924
  • Sexo: Masculino
Re: Queda-de-braço com Deus (Revista Veja)
« Resposta #9 Online: 26 de Junho de 2007, 12:24:44 »
Darwin é Satanista! Aquele cão!  :lol:

Vcs viram a capa da Super interessante desse mÊs?  :biglol:
Outro título sensacionalista...

Offline Mussain!

  • Contas Excluídas
  • Nível Máximo
  • *
  • Mensagens: 8.228
  • Sexo: Masculino
Re: Queda-de-braço com Deus (Revista Veja)
« Resposta #10 Online: 26 de Junho de 2007, 18:18:36 »
Esse mesmo, Daniboy.  :hihi:

 

Do NOT follow this link or you will be banned from the site!