Bediuzzaman Said Nursi nasceu no leste da Turquia em 1877 e morreu em 1960, após 83 anos de sacrifício e luta exemplar pela a causa do Islam. Ele era um erudito do mais elevado grau por ter estudado não somente todas as ciências teológicas das religiões tradicionais, mas também ciências modernas. Assim ele mereceu o nome Bediuzzaman, Maravilha Inigualável dos Tempos, quando ainda era um jovem estudante, como resultado de sua extraordinária habilidade e aprendizagem, terminando os estudos religiosos que normalmente levam anos em somente três meses.
Bediuzzaman viveu durante as décadas finais do Califado e do Império Otomano, o colapso e a divisão deste império após a primeira Guerra Mundial, e depois de sua proclamação em 1923, os primeiros trinta e sete anos da República da Turquia, a qual é famosa pelas políticas repressivas contra o Islam e qualquer outra religião.
Até os anos que se seguem à primeira Guerra Mundial, as lutas de Bediuzzaman para a causa do Islam foram ativas no domínio público. Ele não somente ensinou a muitos alunos e se envolveu em debates e discussões com os eruditos mais importantes do mundo islâmico, mas também comandou e liderou pessoalmente um regimento de voluntários contra os exércitos de invasão dos russos no leste da Turquia em 1914 por quase dois anos, até que foi feito prisioneiro. Além do mais, até aquele tempo, ele procurou defender os interesses do Islam envolvendo-se ativamente na vida pública. Contudo, os anos que viram a transição do império para a república também viram a transformação do “Velho Said” para o “Novo Said”. O “Novo Said” era caracterizado por seu afastamento da vida pública e concentração em estudos, preces e reflexões, pois o que era então preciso era uma luta diferente.
Após um período de quase dois anos, em 1925, Bediuzzaman foi exilado para o oeste da Anatólia[1] e, pelos próximos vinte e cinco anos, apesar de ser de menor intensidade nos últimos dez anos da sua vida, ele não sofreu nada além de exílio, prisão, assédio e perseguição das autoridades. Estes anos de exílio e isolamento, porém, viram os Risâle-i Nur[2] serem escritos, e a disseminação destes na Turquia toda. Citando Bediuzzaman com as suas palavras, “Agora posso ver claramente que a maioria da minha vida foi encaminhada de tal forma, sem a minha própria vontade, habilidades, compreensão e previsão, de forma que ela pudesse produzir estes livretes para servir às causas do Alcorão. É como se minha vida toda como um estudioso fosse dedicada às preliminares destas escrituras que demonstram a miraculosidade do Alcorão”.
Bediuzzaman entendeu que uma das causas essenciais do declínio do mundo islâmico é o enfraquecimento das fundações da fé. Este enfraquecimento, junto com os ataques sem precedentes à estas fundações nos séculos 19 e 20 pelos materialistas, ateus e outros, em nome da ciência e progresso, levaram-no a perceber que a necessidade urgente e prioritária era fortalecer, e até salvar a fé. O necessário era fazer todo esforço possível para reconstruir o edifício do Islam desde suas fundações com a fé e responder aqueles fortes ataques com uma jihad[3] da palavra.
Por esta razão, Bediuzzaman escreveu uma série de livretes, os Risâle-i Nur, durante seu exílio, para que pudesse explicar os princípios básicos da fé e as verdades do Alcorão para o homem moderno. Seu método era analisar a fé e a falta de fé, demonstrando através de argumentos claramente lógicos que não somente é possível provar logicamente todas as verdades da fé, como a existência e unicidade de Deus, a profecia e ressurreição corporal através dos métodos do Alcorão, como também provar que estas verdades são as únicas explicações lógicas da existência do homem e do universo.
Assim, Bediuzzaman demonstrou através de estórias que podem ser entendidas facilmente, comparações, explicações e comprovações, que não são as verdades da religião que são incompatíveis com as descobertas da ciência moderna, mas que a interpretação materialista destas descobertas são irracionais e absurdas. Bediuzzaman provou nos Risâle-i Nur que as descobertas da ciência de tirar o fôlego sobre o funcionamento do universo de fato corroboram e reforçam as verdades da religião.
A importância dos Risâle-i Nur não deve ser superestimada, mas mesmo assim, através destes livretes Bediuzzaman Said Nursi teve um papel importante em preservar e revitalizar a fé islâmica na Turquia, nos dias mais escuros de sua história. E de fato este papel continua aumentando sua importância até os dias de hoje. Além disso, os Risâle-i Nur não são somente sob medida para todos os muçulmanos, mas para toda humanidade por várias razões. Em primeiro lugar, estes livros são escritos de acordo com a mentalidade do homem moderno, uma mentalidade que, sendo de muçulmanos ou não, foi profundamente impregnada com filosofia materialista. Estes livretes respondem específicamente a todas as questões, dúvidas e confusões que esta filosofia materialista causa. Eles trazem a resposta para todos os porquês que marcam a mente questionadora do homem moderno.
Mais ainda, estes livretes explicam os assuntos mais profundos da fé, que antigamente somente os estudiosos mais avançados tão detalhadamente estudavam, de tal maneira que todos, mesmo aqueles para quem este assunto é novo, podem entender facilmente e ganhar algo sem causar dificuldade ou dano algum.
Uma outra razão é que explicando a verdadeira natureza e propósito do homem e do universo, os Risâle-i Nur mostram que a felicidade verdadeira somente pode ser encontrada na fé e no conhecimento de Deus, neste mundo e no Além. Eles também mostram a grave dor e a infelicidade que a falta de fé, que geralmente é originada da tentativa sem rumo de bloquear a mente por escapismo e falta de discernimento, causa no espírito e na consciência do homem, para que qualquer pessoa, com algum sentimento, possa procurar abrigo na fé.
O Sagrado Alcorão fala com o intelecto assim como com outras faculdades internas do homem. O Alcorão leva o homem a considerar o universo e seu funcionamento para que ele possa apreender sua verdadeira natureza e seus propósitos como criação e através disso compreender os Atributos de seu Único Criador e suas próprias tarefas como criatura. Este, então, é o método que Bediuzzaman usou nos Risâle-i Nur. Ele explicou a verdadeira natureza do universo como sinais de seu Criador e demonstrou através de argumentos claros que quando estes livros são lidos com este objetivo, todos os fundamentos da fé podem ser racional e logicamente provados.
Seguindo este método, uma pessoa alcança a fé verdadeira, que será bastante forte e firme para resistir a quaisquer dúvidas que possam aparecer durante os ataques súbitos do materialismo[4], naturalismo[5] e ateísmo[6], ou a interpretação materialista dos avanços científicos. Todos os avanços tecnológicos e científicos não fazem nada além de desvendar as obras do universo. Quando o universo é visto como um vasto e infinitamente complexo e significativo livro unificado, que descreve seu Único Criador, todas estas descobertas e avanços, em vez de causarem dúvidas e perplexidades, reforçam, aprofundam e expandem a fé.
A mais fundamental necessidade do homem é a necessidade de religião, a necessidade de reconhecer e venerar Deus Todo-Poderoso com todos os seus Mais Belos Nomes e Atributos e obedecer Suas leis; aquelas leis que estão manifestadas no universo e aquelas que foram reveladas através dos Seus profetas.Bediuzzaman Said Nursi, explicando a mensagem do Alcorão, que é o último Livro Revelado de Deus Todo-Poderoso e que é trazido e perfeitamente exposto pelo Seu último profeta, Mohammed (que a paz de Deus esteja com ele), e o Islam, que é a completa e aperfeiçoada religião para a humanidade, demonstrou nos Risâle-i Nur que não há contradição ou dicotomia[7] entre ciência e religião, mas pelo contrário, que o verdadeiro progresso e felicidade para a humanidade pode ser e será alcançada seguindo somente este caminho, o caminho do Alcorão.