"Exquerda"
*Paulo Odone Ribeiro
"Exquerda". Este neologismo me ocorreu ao ouvir e ler o discurso de representantes de partidos políticos que se autodenominam de esquerda.
Ao longo de minha vida, desde o tempo de estudante, me acostumei a ver os representantes da esquerda à frente de mudanças e reivindicações que representassem o avanço da sociedade e fazendo alianças que trouxessem vitórias não apenas estratégicas, mas também táticas.
Foi assim na luta pelo petróleo, pela Vale do Rio Doce e, também, na luta pela paz.
Os partidos de esquerda apoiaram Getúlio Vargas, apesar dos 15 anos de ditadura e de repressão que haviam enfrentado durante o seu governo; perceberam que, naquele momento, tal posição representava avanço. Apoiaram, também, o plano de reformas de João Goulart e estiveram na vanguarda da luta contra o regime militar que se instalou após março de 1964.
Já nos anos 80, a esquerda passou a dar sinais de que estava se tornando apenas "do contra". Votou contra a "Lei da Anistia" e não votou em Tancredo Neves que, na época, representava o fim do regime militar. Negou-se a assinar a Constituição Federal em 1988, foi contra o parlamentarismo e, hoje, em nível nacional, combate a nova LDB, além de qualquer reforma que o governo apresente como proposta. No entanto, não apresenta alternativas para negociar.
A esquerda de hoje, tanto em nível federal como estadual, não admite alianças, a não ser com ela mesma. Não faz oposição, apenas se limita a ser contra. Não aceita nenhuma mudança, nenhuma reforma. Limita-se a defender o que já existe, embora toda a sociedade reconheça a necessidade de enxugamento do Estado brasileiro que, com o passar do tempo, tornou-se inchado e ineficiente.
O tamanho do Estado é a grande discussão política do nosso tempo, pois, de um lado, temos os liberais, defendendo o Estado mínimo, e, de outro, os "nacionalistas", que pretendem continuar com um aparato estatal que gasta mais do que arrecada e a manter privilégios para um grupo restrito, em detrimento da maioria. O caminho, nos parece, é a reforma do Estado, para dar-lhe a devida dimensão.
Desde a década de 50, o Rio Grande do Sul não recebe tantos investimentos. Há muito não tínhamos tantas empresas decididas a aplicar aqui o seu capital e a criar, dentro de pouco tempo, um número muito grande de empregos. E o que a "Exquerda" faz? É contra. Assume a típica posição perversa: não é contra o governo, é contra o Estado.
Um ensinamento dado pela própria esquerda, no passado, é o de que, para ser oposição, não basta dizer não. É necessário ter propostas alternativas que possibilitem avançar nas discussões. É preciso negociar e fazer alianças.
Em função disso, não tenho dúvidas: o que ontem foi a vanguarda, hoje é o atraso. Por isso, pode ser chamada de "Ex".
* Paulo Odone é deputado pelo PMDB e líder do governo na Assembléia
https://www.al.rs.gov.br/diario/diarios_anteriores/da970527.htm