EUA e Rússia estudam novo acordo de desarmamento
Hillary afirmou que EUA querem 'reiniciar' relações com a RússiaA secretária de Estado americana, Hillary Clinton, e o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, concordaram nesta sexta-feira em tentar alcançar até o final do ano um novo acordo para a redução de armamentos estratégicos, entre eles armas nucleares (o acordo é conhecido pela sigla inglesa Start).
"Esta é a maior prioridade de nossos governos", afirmou Hillary Clinton após um encontro de duas horas de duração com Lavrov, em Genebra, na Suíça.
Já o chanceler russo, descreveu o atual acordo para o desarmamento - que expira no próximo mês de dezembro - como "obsoleto".
Pelo Start I, assinado em 1991 pela então União Soviética e os EUA, os dois países se comprometeram a limitar em 6 mil o número de ogivas nucleares para cada um dos lados, assim como em 1.600 o número de mísseis e bombardeiros.
O acordo foi seguido pelo Start II, que, no entanto, nunca foi colocado em prática.
DivergênciasApós a reunião em Genebra, Hillary e Lavrov também afirmaram que os dois países concordaram em trabalhar juntos em outras questões de interesse comum, como a Guerra no Afeganistão, o Oriente Médio, Irã, a Coreia do Norte e a redução de armas nucleares.
Mesmo assim, os dois representantes afirmaram que as diferenças nas posições dos dois países continuam.
"Eu estou convencido de que a secretária de Estado (Hillary Clinton) vai concordar que estas prioridades coincidem em sua maioria. (Mas) seria um exagero afirmar que concordamos em tudo. Chegamos a um consenso de que em todas as questões, incluindo aquelas em que temos diferenças, nós trabalharemos como parceiros, de modo honesto e aberto", disse Lavrov após a reunião.
Já Hillary afirmou que as relações entre os dois países precisam de "mais confiança, previsibilidade e progresso".
TraduçãoDurante o encontro entre os dois diplomatas, Hillary fez uma brincadeira com Lavrov, presenteando-o com uma pequena caixa com um botão vermelho com a palavra "reset" (reiniciar, em tradução livre), um símbolo da vontade de Washington de começar uma nova relação com Moscou.
A brincadeira, no entanto, não foi totalmente bem sucedida.
Ao entregar o presente a Lavrov, Hillary perguntou se a tradução estava correta, afirmando que "trabalhamos duro para achar a palavra certa em russo".
Presente dado por Hillary a Lavrov tinha erro de tradução"Você acha que acertamos?", perguntou Hillary.
Lavrov, no entanto, afirmou que a tradução estava errada.
Ele se referia ao fato de o botão trazer a palavra russa "Peregruzka", que significa algo como "sobrecarregado", e não "Perezagruzka", que seria a tradução correta para o russo.
Mesmo assim, o chanceler afirmou que guardaria o presente em sua mesa de trabalho.
DivergênciasAntes do encontro, em uma entrevista à BBC em Bruxelas, Hillary afirmou que o desejo do presidente dos EUA, Barack Obama, de renovar as relações com Rússia não quer dizer que Washington esteja desistindo de apoiar seus aliados.
"Existem áreas em que nós simplesmente discordamos completamente, e não vamos colocar isso debaixo do tapete", afirmou Hillary, em entrevista à BBC.
"Não vamos reconhecer as zonas separatistas da Geórgia, não vamos reconhecer qualquer esfera de influência por parte da Rússia ou nenhuma possibilidade de eles terem algum poder de veto sobre quem pode se juntar à União Europeia ou à Otan", acrescentou.
As relações entre russos e americanos se deterioraram nos últimos anos. O papel da Rússia na guerra na Geórgia e o apoio dos Estados Unidos à entrada da Geórgia e da Ucrânia na Otan contribuíram para isso.
Outro tema que provoca atrito na relação entre Estados Unidos e Rússia são os planos americanos de instalar um sistema de defesa antimísseis nos territórios da Polônia e da República Checa. A iniciativa não conta com a aprovação de Moscou.
O correspondente da BBC em Moscou, Rupert Wingfield-Hayes, no entanto, afirma que a situação agora está diferente, com a Rússia sinalizando com uma postura menos beligerante.
Segundo ele, a crise financeira atingiu fortemente a economia russa, e o país agora precisa de parceiros e investimentos, e não de uma nova Guerra Fria.
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2009/03/090306_hillarylavrov_cq.shtml