Frankl foi o criador da Logoterapia, chamada, por vezes, de terapia do sentido da vida em função de sua idéia básica, a de que o ser humano vive motivado, fundamentalmente, pela vontade de realizar sentido na vida; para isso, o homem deve se empenhar na realização de valores na forma de criações, vivências e atitudes. A teorização de Frankl, historicamente situada no campo fenomenológico-existencial, é uma das que mais radicalmente se opôs a qualquer reducionismo no entendimento do ser humano.
Frankl (1986) desenvolveu sua visão de homem em oposição a qualquer reducionismo, o que significa
evitar a compreensão do ser humano a partir de uma dimensão inferior a sua própria. Frankl entende o homem como um ser tridimensional:
– a dimensão somática abrange os fenômenos corporais,
a fisiologia humana;
– a dimensão psicológica abrange os instintos, os
condicionamentos, as cognições;
– a dimensão noética (do grego nous, significando espírito) abrange todas as qualidades que diferenciam
o homem dos demais animais, por isso é a dimensão genuinamente humana; aqui estão os valores, a criatividade, a livre tomada de decisões, a consciência moral, etc.
As dimensões não são estanques, pelo contrário, interpenetram-se continuamente. O ser humano é uma
totalidade bio-psico-noética. Frankl, no entanto, coloca a dimensão noética num patamar superior: enquanto
as dimensões somática e psicológica interagem na forma de um paralelismo psicofísico, regido pela homeostase e passível de condicionamento, a dimensão noética é incondicionável, não homeostática, interagindo com as demais na forma de um antagonismo psicofísico (Frankl, 1986). Segundo Frankl (1989), o homem é unidade na diversidade.
O entendimento reducionista do homem tende a ignorar a dimensão noética ou reduzi-la à dimensão
psicológica. Referindo-se às teorizações freudianas, Frankl (1992), propõe que, tal como os processos instintivoinconscientes (dimensão psicológica), o homem apresenta fenômenos noético-inconscientes (dimensão noética). Para ele, a chamada psicologia profunda dirige-se prioritariamente ao id inconsciente, colocando em segundo plano o eu inconsciente, a pessoa propriamente dita. O eu (nous) em sua origem é inconsciente, assim como o olho que, vendo, não pode ver a si mesmo, ou seja, o eu não pode auto-observar-se (Frankl, 1992).
Contrapondo-se ao reducionismo psicodinâmico, Frankl (1986) considera que a existência se dá de maneira
noodinâmica (dinamismo noético). A noodinâmica é a tensão caracteristicamente humana, a dinâmica
existencial. Viver buscando redução de tensão ou homeostase opõe-se à autotranscendência humana.
Isso porque a noodinâmica é a tensão que se estabelece entre o homem e o sentido, entre o ser e o dever-ser.
E nela está presente a liberdade; os valores que nos atraem não o fazem de maneira irremediável (instintiva/
impulsiva), podemos optar por sua realização. Podemos escolher uma ou outra possibilidade agindo no
mundo, ao contrário da orientação para um equilíbrio interno instintivo.
Para finalizar esta síntese da teoria de Viktor Frankl, veja-se sua interessante posição quanto à busca
da felicidade. Para ele (1998), a felicidade não é algo que se busque ou que se persiga. A felicidade
deve ser uma resultante, um efeito colateral ou um subproduto da realização de sentido na vida. Não se
visa a felicidade, pois ela, por si mesma, não acontece.
Marcelo Vial Roehe – Psicólogo. Mestre em Psicologia.
http://www.pucrs.br/psico/revistapsico/volume36/P36-3p311-4.pdfAlguém conhece a noética?