Repórteres sem Fronteiras critica ataque do PT à mídia
A maior organização não-governamental de defesa da liberdade de imprensa do mundo, a Repórteres Sem Fronteiras (RSF), divulgou ontem, em Paris, uma carta aberta ao presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e ao presidente do Partido dos Trabalhadores (PT), Ricardo Berzoini, na qual critica a postura beligerante de líderes da sigla contra a imprensa do País.
A ONG classifica o documento do partido como "inoportuno e infundado". A manifestação da entidade, assinada por seu secretário-geral, Robert Ménard, veio a público dois dias após a reunião da Executiva do PT na qual seus dirigentes denunciaram o que, em seu entender, é um "aproveitamento indevido" do acidente do vôo 3054 da TAM, em São Paulo, que fez 199 vítimas no dia 17 de julho. Segundo Valter Pomar, secretário de Relações Internacionais do PT, há uma tentativa da oposição de rearticular ataques ao governo" e a "grande imprensa" estaria abordando o acidente de acordo com os interesses dessa oposição.
O texto do PT também se solidariza com o assessor especial da Presidência, Marco Aurélio Garcia, criticado pelos gestos obscenos que fez - e que foram filmados por um jornalista - ao ouvir uma informação que, em tese, absolveria o governo de culpa na tragédia da TAM.
Na sua nota, a RSF se mostrou preocupada com as conseqüências da resolução petista, que "vem a público após o grande eco midiático dado às manifestações que se seguiram à catástrofe aérea no Aeroporto de Congonhas e às vaias endereçadas ao presidente Lula quando da abertura dos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro", afirma o autor, que depois pergunta: "Este eco deve ser entendido como uma crítica sistemática ao governo? A mídia deveria deixar esses eventos passarem despercebidos?".
O texto pede calma ao presidente Lula e a Berzoini e diz contar com "a sabedoria" de ambos. "A resolução do PT é um mau sinal, indigno de um partido democrático. Ela não faz nada além de alimentar os rancores. Ela deve ser reconsiderada." À noite, o diretor do Escritório para Américas da RSF, Benoît Hervieu, reforçou a posição apartidária da ONG e lembrou ao Estado a responsabilidade do Brasil na manutenção da liberdade de imprensa na América Latina. "O Brasil é um exemplo importante no continente, mas que enfrenta tensão entre o poder político e a imprensa. Depois do acidente, vive-se um momento de calor emocional, e os meios de comunicação ecoam as preocupações públicas sobre o fato", ressaltou.
Para Hervieu, a resolução "não é uma boa idéia se falamos de um partido que está no poder". E acrescentou: "Um país não pode se apresentar como democrático e livre se pedir à imprensa que não reverbere os problemas do País."