Linhagem quebrada Agência FAPESP – A evolução humana nos últimos dois milhões de anos é descrita como uma sucessão de espécies: do 
Homo habilis ao 
Homo erectus e desse para o 
Homo sapiens. Fim de uma, começo da outra. Costumava ser assim, mas um novo estudo coloca seriamente em dúvida essa linhagem evolutiva. 
A análise de fósseis encontrados em 2000 no Lago Turkana, no Quênia, indica que as espécies 
Homo habilis e 
Homo erectus coexistiram no leste da África. E não por pouco tempo, mas por quase 500 mil anos. A descoberta está descrita na edição de 9 de agosto da revista 
Nature. 
“A coexistência faz com que seja improvável que uma tenha evoluído a partir da outra”, disse Meave Leakey, uma das líderes do estudo. Segundo a paleontóloga, as duas espécies teriam surgido entre 2 milhões e 3 milhões de anos atrás, período do qual apenas poucos fósseis foram encontrados até o momento. 
Os pesquisadores apontam que, como as duas se mantiveram como espécies separadas por tanto tempo, elas provavelmente tiveram seus próprios nichos ecológicos e evitaram competição direta. 
Até então, o 
H. erectus era considerado o primeiro ancestral a compartilhar muitas similaridades com o homem moderno. Mas, de acordo com os pesquisadores responsáveis pela descoberta, o fóssil do 
H. erectus, o menor até hoje encontrado, sugere que a espécie não era tão humana como se imaginava. 
Os fragmentos fósseis encontrados do 
H. habilis têm idade estimada em 1,44 milhão de anos, o que o torna muito mais “jovem” do que seria de se esperar. O especialmente bem preservado crânio do 
H. erectus é mais velho: tem 1,55 milhão de anos. A análise também indicou que as espécies apresentavam dimorfismo sexual, com os machos sendo muito maiores do que as fêmeas – como nos gorilas atuais. 
O estudo foi liderado por Meave Leakey e por sua filha, Louise. Nascida no Quênia, Louise é filha de Richard Leakey, que por sua vez tem como pais Louis e Mary, todos antropólogos renomados e com importantes descobertas em seus currículos. A dupla Louise e Meave descobriu, em 1999, o 
Kenyanthropus platyops, o “homem de rosto achatado do Quênia”, que teria vivido há cerca de 3,5 milhões de anos e que seria um ancestral do Homo sapiens. 
O artigo 
Implications of new early Homo fossils from Ileret, east of Lake Turkana, Kenya, de Louise Leakey e outros, pode ser lido por assinantes da Nature em 
www.nature.com.
http://www.agencia.fapesp.br/boletim_dentro.php?data[id_materia_boletim]=7570