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Offline Adriano

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Ocidente X Oriente
« Online: 12 de Agosto de 2007, 00:11:41 »
Ocidente X Oriente por Vattimo 
 
 
Já se gastou muito tempo, muita tinta e muitos pensamentos para tentar explicar as relações entre Oriente e Ocidente. A história do Ocidente e do Oriente está profundamente entrelaçada. São inúmeros os exemplos: o cristianismo de matriz judaica, a influência da cultura árabe no Ocidente e sua retransmissão de pensadores gregos no período medieval, como Aristóteles, por exemplo. Desde filósofos como Voltaire, Montesquieu e Hegel, o Oriente virou tema de discussão no Ocidente, quer seja para criticar, elogiar ou até mesmo para admirar como algo exótico.

Na atual e complexa situação na qual vivemos, o tema parece obrigatório. Afinal, quem de nós nunca se deparou com notícias sobre a guerra promovida pelos EUA no Iraque? Quem de nós nunca se deparou com as ameaças terroristas de grupos islâmicos extremistas? Quem de nós nunca se preocupou com as teocracias invadindo a esfera política? Quem de nós nunca lamentou as infelizes e inoportunas declarações de certos pontífices?

Penso que, apesar do desalento, ainda temos boas notícias. Uma delas é a existência de um sujeito que atende pelo nome de Gianni Vattimo. Trata-se de um grande filósofo italiano contemporâneo, ex-membro do Parlamento Europeu e professor da Universidade de Turim. Vattimo, que é um especialista na obra de Heidegger e de Nietzsche, tem devotado boa parte de sua energia e capacidade intelectual para discutir questões relacionadas com a religião no mundo atual e a busca por uma cultura de paz.

Tanto no seu mais recente trabalho publicado no Brasil (O futuro da religião, em parceria e diálogo com o filósofo norte-americano Richard Rorty) como em textos anteriores (como Depois da cristandade), as teses do pensador italiano são extremamente instigantes. Agora, no justo momento onde estamos preocupados com a relação entre Oriente e Ocidente, penso que podemos colher boas coisas em suas reflexões.

Vattimo advoga um pensamento fraco ou pós-metafísico. Sua meta é exatamente ter a absoluta clareza de que tudo não deixa de ser interpretação e que tudo aquilo que tomamos por real pode não ser a verdade definitiva sobre as coisas. Logo, o pensamento pós-moderno só pode se afirmar enquanto um pensamento fraco. Ainda nessa esteira, em recente reportagem do jornal O Estado de São Paulo (17.09.2006), o filósofo afirma temer pelo interesse do Papa Bento XVI pelas ciências e pelas doutrinas criacionistas, pela criação de um fundamentalismo católico e reacionário e pelas guerras de religião. No seu entender, as guerras religiosas não ficam, como é sabido, apenas na religião, mas trazem, por trás de si, todo um confronto pré-estabelecido. Sua proposta é secularizar a fé, isto é, ao contrário do que talvez se possa supor, a secularização é muito melhor do que o dogmatismo, que estreita as mentes e aumenta o fundamentalismo e o ódio entre os homens. Outra proposta de Vattimo é a caridade, isto é, o acolhimento do outro, aquele que é diferente de nós. Dessa maneira, penso que a contribuição do pensador italiano não é uma resolução acabada para os nossos difíceis problemas, mas apontam para interessantes pistas. Afinal, a mesma Europa que agora treme diante da ameaça islâmica fundamentalista nunca deixou de explorar suas colônias em todo mundo. Tanto a Europa como os EUA sempre humilharam seus imigrantes e tiveram um certo asco dos estrangeiros e seus diferentes costumes.

Por outro lado, o Oriente, com diversas teocracias, também já foi berço da civilização e da cultura, trazendo importantes contribuições nas mais diversas áreas. Para os que ainda não acreditam nisso, experimentem assistir a beleza existencial de muitos filmes iranianos. Portanto, não se trata aqui de absolver o terrorismo ou o fundamentalismo, onde quer que ele se encontre ou mesmo de interpretá-lo como uma vingança dos explorados (nem de Alá e nem de Deus), mas sim de pensar que, de fato, precisamos avançar no tratamento dos homens e mulheres do nosso tempo. A grande virtude de Vattimo é nos mostrar que não existe caminho pronto ou fácil.

Marcio Gimenes de Paula é professor de Filosofia da Universidade Federal de Sergipe

http://www.revistapronto.com.br/Noticia.asp?ID=377

Uma bela abordagem de Vattimo e Richard Rorty entrelaçando aspectos políticos, culturais e religiosos de maneira impar.
Princípio da descrença.        Nem o idealismo de Goswami e nem o relativismo de Vieira. Realismo monista.

Offline Quereu

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Re: Ocidente X Oriente
« Resposta #1 Online: 12 de Agosto de 2007, 11:25:49 »
Por mais aspectos negativos que haja em algo é sempre possível destacar um positivo, como se isso equilibrasse as coisas.

Citar
experimentem assistir a beleza existencial de muitos filmes iranianos.

O texto prega a tolerância e todos os seus argumentos são muito manjados. Filósofo adora uma utopia e a da moda agora é a tolerância. É claro que devemos ser sempre tolerantes, mas quando o outro lado não quer o que devemos fazer? Dar a outra face? Quanto a solução da caridade; bem, não é algo necessariamente novo e ainda não deu muito certo. Um sujeito, há dois mil anos atrás, escreveu uma epístola sobre ela.

Citar as belezas do passado é incrível. Pena que o passado passou e o que resta são ruínas. Não há maneira de matar esse clichê.

Sobre os EUA humilharem os seu imigrantes eu me pergunto onde no mundo eles mais prosperam. Certamente não nos seus países originais. Mas citar esse aspecto negativo da grande nação do norte cala a alma dos ressentidos e mostra a hipocrisia dos críticos que ressaltam os aspectos negativos e positivos quando bem lhe interessam.

Assuma um tom sereno e combata pelos bons sentimentos, o seu discurso tocará principalmente àqueles que pensam com o coração e adoram as soluções fáceis das utopias.
A Irlanda é uma porca gorda que come toda a sua cria - James Joyce em O Retrato do Artista Quando Jovem

 

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