O neurologista francês François L’Hermitte investigou várias pessoas com lesão nos lobos frontais ou com falta parcial dos lobos frontais, e todos, relata ele, têm uma coisa em comum: ao se defrontarem com algum indício que sugira que deveriam fazer alguma coisa, eles parecem compelidos a faze-lo. [...]
L’Hermitte batizou esse tipo de compulsão de “síndrome da dependência ambiental”. Em uma série criativa de experimentos realizados com dois pacientes submetidos à lobotomia frontal, ele demonstrou a que extremos pode chegar essa reverência automática a estímulos externos.
Em um dos experimentos, L’Hermitte convidou dois dos pacientes à sua casa e , sem explicação, conduziu o primeiro, um homem, a um quarto de dormir. A cama estava arrumada com o lençol de cima dobrado pronto para usar, como em um quarto de hotel. Quando viu isso, o paciente imediatamente se despiu (inclusive removendo seu topete postiço), subiu à cama e se preparou para dormir, mesmo sendo no meio dia.
Quando o paciente foi educadamente convencido a se levantar de novo, L’Hermitte conduziu o segundo paciente, uma mulher, para o quarto. Ao ver a cama (agora amarrotada, em desordem), a mulher, também foi direto até ela. Mas, em vez de se deitar, ela começou a arruma-la. Em nenhum dos casos, as ações dos pacientes tinham sido sugeridas por qualquer palavra de encorajamento ou instrução. As ações pareceram ser resultado de pré-programação. O fato do primeiro paciente ter deitado na cama enquanto a segunda paciente a arrumou presumivelmente refletiu algo sobre a representação do papel masculino/feminino e não uma diferença fundamental no processamento de informações!
Em outro estudo, L’Hermitte levou um dos pacientes para outro cômodo e , logo antes de abrir a porta, disse uma única palavra: “museu”. Assim que entrou, o paciente começou a examinar as pinturas na parede, exatamente como se estivesse em um museu. A meio caminho da parede, havia uma lacuna obvia, onde estava faltando um quadro. Perto, L’Hermitte tinha colocado um martelo, pregos e, encostado na parede embaixo, o quadro que estava faltando. O paciente, novamente sem nenhuma instrução, apanhou o martelo, bateu o prego e pendurou o quadro.
Páginas 397 e 400 de O LIVRO DE OURO DA MENTE