Ministro da Saúde diz que aborto é 'tendência mundial'20/08/2007
08h35-O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, disse que o aborto é uma 'tendência mundial', mas que caberá à sociedade brasileira 'flexibilizar ou manter' a legislação em vigor no país. A declaração foi feita em Buenos Aires, na Argentina, onde Temporão participou da Conferência Internacional da Saúde para o Desenvolvimento ("De Alma Ata à Declaração do Milênio").
"Portugal demorou 12 anos entre um plebiscito e outro (para adotar a nova legislação). A Europa inteira, com exceção da Irlanda, já tem legislação especifica sobre essa questão. É uma tendência mundial", disse. "Mas em que momento a sociedade brasileira vai decidir pela flexibilização do que a lei determina hoje é uma interrogação. Pode ser que a população decida manter a legislação atual", afirmou Temporão.
O ministro conta que conversou sobre o assunto com seu colega de Portugal em um jantar nesta semana, em Buenos Aires. "Em Portugal, já foram instaladas 38 clínicas (de aborto) desde a aprovação da lei", disse. A interrupção da gravidez passou a ser autorizada em Portugal em março, após a realização de um plebiscito popular que aprovou a iniciativa, em fevereiro.
Temporão comenta que, no país europeu, a legislação definiu que o aborto é possível durante as dez primeiras semanas de gestação e que em outros países este limite chega a 12 semanas. "Mas o Brasil é o Brasil e Portugal é Portugal."
Saúde pública
Para Temporão, o importante é que foi aberto o debate no Brasil. "Tiramos o véu que cobria uma questão importante, e a sociedade está discutindo, de maneira madura, os prós e contras da questão", disse. O ministro afirma ainda que o governo brasileiro não vai intervir neste processo, que está sendo analisado no Congresso Nacional.
Quando questionado se acredita que o aborto será adotado no Brasil, o ministro responde: "Pode ser que sim e pode ser que não". Ele acredita que ‘ninguém é a favor do aborto, mas que ninguém pode negar que trata-se de um problema de saúde pública’.
"Se nós todos concordarmos que é problema de saúde pública, o governo pode adotar medidas de planejamento (familiar), e é evidente que isso vai reduzir o número de gravidez indesejada", disse. "As mulheres ricas e de classe média resolvem isso (aborto ou prevenção) da melhor maneira. As pobres se colocam em situação de risco e podem ficar estéreis ou acabar morrendo. E essa é a questão que deve ser discutida."
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