Autor Tópico: Necrocombustíveis  (Lida 955 vezes)

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Offline Luiz Souto

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Necrocombustíveis
« Online: 21 de Agosto de 2007, 23:08:33 »
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NECROCOMBUSTÍVEIS

FREI BETTO*



O prefixo grego bio significa vida; necro, morte. O combustível extraído de plantas traz vida? No meu tempo de escola primária, a história do Brasil se dividia em ciclos: pau-brasil, ouro, cana, café etc. A classificação não é de todo insensata. Agora estamos em pleno ciclo dos agrocombustíveis, incorretamente chamados de biocombustíveis.
Este novo ciclo provoca o aumento dos preços dos alimentos, já denunciado por Fidel Castro. Estudo da OCDE e da FAO, divulgado a 4 de julho, indica que "os biocombustíveis terão forte impacto na agricultura entre 2007 e 2016." Os preços agrícolas ficarão acima da média dos últimos dez anos. Os grãos deverão custar de 20 a 50% mais. No Brasil, a população pagou três vezes mais pelos alimentos no primeiro semestre deste ano, se comparado ao mesmo período de 2006.

Vamos alimentar carros e desnutrir pessoas. Há 800 milhões de veículos automotores no mundo. O mesmo número de pessoas sobrevive em desnutrição crônica. O que inquieta é que nenhum dos governos entusiasmados com os agrocombustíveis questiona o modelo de transporte individual, como se os lucros da indústria automobilística fossem intocáveis.

Os preços dos alimentos já sobem em ritmo acelerado na Europa, na China, na Índia e nos EUA. A agflação - a inflação dos produtos agrícolas - deve chegar, este ano, a 4% nos EUA, comparada ao aumento de 2,5% em 2006. Lá, como o milho está quase todo destinado à produção de etanol, o preço do frango subiu 30% nos últimos doze meses. E o leite deve subir 14% este ano. Na Europa, a manteiga já está 40% mais cara. No México, houve mobilização popular contra o aumento de 60% no preço das tortillas, feitas de milho.

O etanol made in USA, produzido a partir do milho, fez dobrar o preço deste grão em um ano. Não que os ianques gostem tanto de milho (exceto pipoca). Porém, o milho é componente essencial na ração de suínos, bovinos e aves, o que eleva o custo de criação desses animais, encarecendo derivados como carne, leite, manteiga e ovos.

Como hoje quem manda é o mercado, acontece nos EUA o que se reproduz no Brasil com a cana: os produtores de soja, algodão e outros bens agrícolas abandonam seus cultivos tradicionais pelo novo "ouro" agrícola: o milho lá, a cana aqui. Isso repercute nos preços da soja, do algodão e de toda a cadeia alimentar, considerando que os EUA são responsáveis por metade da exportação mundial de grãos.

Nos EUA, já há lobbies de produtores de bovinos, suínos, caprinos e aves pressionando o Congresso para que se reduza o subsídio aos produtores de etanol. Preferem que se importe etanol do Brasil, à base de cana, de modo a se evitar ainda mais a alta do preço da ração.

A desnutrição ameaça, hoje, 52,4 milhões de latino-americanos e caribenhos, 10% da população do Continente. Com a expansão das áreas de cultivo voltadas à produção de etanol, corre-se o risco dele se transformar, de fato, em necrocombustível - predador de vidas humanas.

No Brasil, o governo já puniu, este ano, fazendas cujos canaviais dependiam de trabalho escravo. E tudo indica que a expansão dessa lavoura no Sudeste empurrará a produção de soja Amazônia adentro, provocando o desmatamento de uma região que já perdeu, em área florestal, o equivalente ao território de 14 estados de Alagoas.

A produção de cana no Brasil é historicamente conhecida pela superexploração do trabalho, destruição do meio ambiente e apropriação indevida de recursos públicos. As usinas se caracterizam pela concentração de terras para o monocultivo voltado à exportação. Utilizam em geral mão-de-obra migrante, os bóias-frias, sem direitos trabalhistas regulamentados. Os trabalhadores são (mal) remunerados pela quantidade de cana cortada, e não pelo número de horas trabalhadas. E ainda assim não têm controle sobre a pesagem do que produzem.

Alguns chegam a cortar, obrigados, 15 toneladas por dia. Tamanho esforço causa sérios problemas de saúde, como câimbras e tendinites, afetando a coluna e os pés. A maioria das contratações se dá por intermediários (trabalho terceirizado) ou "gatos", arregimentadores de trabalho escravo ou semi-escravo. Após 1850, um escravo costumava trabalhar no corte de cana por 15 a 20 anos. Hoje, o trabalho excessivo reduziu este tempo médio para 12 anos.

O entusiasmo de Bush e Lula pelo etanol faz com que usineiros alagoanos e paulistas disputem, palmo a palmo, cada pedaço de terra do Triângulo Mineiro. Segundo o repórter Amaury Ribeiro Jr, em menos de quatro anos, 300 mil hectares de cana foram plantados em antigas áreas de pastagens e de agricultura. A instalação de uma dezena de usinas novas, próximas a Uberaba, gerou a criação de 10 mil empregos e fez a produção de álcool em Minas saltar de 630 milhões de litros em 2003 para 1,7 bilhão este ano.

A migração de mão-de-obra desqualificada rumo aos canaviais - 20 mil bóias-frias por ano - produz, além do aumento de favelas, o de assassinatos, tráfico de drogas, comércio de crianças e de adolescentes destinados à prostituição.

O governo brasileiro precisa livrar-se da sua síndrome de Colosso (a famosa tela de Goya). Antes de transformar o país num imenso canavial e sonhar com a energia atômica, deveria priorizar fontes de energia alternativa abundantes no Brasil, como hidráulica, solar e eólica. E cuidar de alimentar os sofridos famintos, antes de enriquecer os "heróicos" usineiros.


* Frei Betto, é dominicano e autor de "Calendário do Poder", Rocco, entre outros livros


Fonte: Agência de Notícias da Améirca Latina e Caribe, Adital.
Se não queres que riam de teus argumentos , porque usas argumentos risíveis ?

A liberdade só para os que apóiam o governo,só para os membros de um partido (por mais numeroso que este seja) não é liberdade em absoluto.A liberdade é sempre e exclusivamente liberdade para quem pensa de maneira diferente. - Rosa Luxemburgo

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Offline Dodo

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Re: Necrocombustíveis
« Resposta #1 Online: 22 de Agosto de 2007, 22:45:01 »
Sinceramente eu não entendo certas coisas.. petróleo é ruim, causa poluição, poluição aumenta efeito estufa. bla bla bla
Alcool é ruim, aumenta o preço dos alimentos, alimentos mais caros, mais famintos..

Então la vai minha contribuição:

Você é único, assim como todos os outros.
Alfred E. Newman

Offline Arcanjo Lúcifer

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Re: Necrocombustíveis
« Resposta #2 Online: 22 de Agosto de 2007, 23:58:16 »
Mais dificil de entender é que Frei Beto,um fervoroso defensor de Fidel e seus canaviais em que se corta cana com facão nas mesmas condições  que ele critica no texto, ache que só as condições de trabalho dos cortadores de cana Brasileiros sejam péssimas.. e que a cana plantada em Cuba não prejudique a alimentação dos Cubanos  forçados a racionar comida há 50 anos....

As plantações de cana em Cuba não ocupam áreas que devem ser usadas para plantar alimentos, ou isso só acontece  nos países que ameaçam os interesses desses ditadores que a esquerda Brasileira adora?

Offline Rodion

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Re: Necrocombustíveis
« Resposta #3 Online: 23 de Agosto de 2007, 02:48:43 »
alguém explica pro frei betto que os ciclos do café, borracha, pau brasil etc foram épocas em que o cultivo/extrativismo destas variedades era a principal atividade econômica e não meramente a principal atividade agrícola?
"Notai, vós homens de ação orgulhosos, não sois senão os instrumentos inconscientes dos homens de pensamento, que na quietude humilde traçaram freqüentemente vossos planos de ação mais definidos." heinrich heine

rizk

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Re: Necrocombustíveis
« Resposta #4 Online: 26 de Agosto de 2007, 23:59:57 »
E a gente vai continuar dependendo de agricultura até quando? Quando é que se vai começar a investir em tecnologia e tal?

Eu cá sou pró andar a pé, mas dizem que andar a pé polui mais porque a gente vai ter que comer e a carne polui porque as vacas peidam. Aí vai saber, né?

Offline Rodion

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Re: Necrocombustíveis
« Resposta #5 Online: 27 de Agosto de 2007, 09:52:20 »
E a gente vai continuar dependendo de agricultura até quando? Quando é que se vai começar a investir em tecnologia e tal?

Eu cá sou pró andar a pé, mas dizem que andar a pé polui mais porque a gente vai ter que comer e a carne polui porque as vacas peidam. Aí vai saber, né?

salvo engano, a agricultura já não é mais a principal atividade econômica do país...
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Offline Pregador

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Re: Necrocombustíveis
« Resposta #6 Online: 27 de Agosto de 2007, 12:20:13 »
E a gente vai continuar dependendo de agricultura até quando? Quando é que se vai começar a investir em tecnologia e tal?

Eu cá sou pró andar a pé, mas dizem que andar a pé polui mais porque a gente vai ter que comer e a carne polui porque as vacas peidam. Aí vai saber, né?

salvo engano, a agricultura já não é mais a principal atividade econômica do país...

É o setor de serviços, seguido da industria.

Faz tempo que o Brasil é um pais amplamente industrializado. A agricultura é importante por que temos muita terra agriculturável boa. É um setor muito importante, mas não dependemos exclusivamente dele.
"O crime é contagioso. Se o governo quebra a lei, o povo passa a menosprezar a lei". (Lois D. Brandeis).

 

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