Autor Tópico: Quebrar Paradigmas  (Lida 515 vezes)

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Offline Eleitor de Mário Oliveira

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Quebrar Paradigmas
« Online: 24 de Agosto de 2007, 16:59:36 »

 
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De Waldemar Setzer, professor aposentando da USP
 
Há algum tempo recebi um convite de um colega para servir de árbitro
na revisão de uma prova. Tratava-se de avaliar uma questão de Física
que recebera nota zero. O aluno contestava tal conceito, alegando que
merecia nota máxima pela resposta, a não ser que houvesse uma
"conspiração do sistema" contra ele. Professor e aluno concordaram em
submeter o problema a um juiz imparcial, e eu fui o escolhido.
 
Chegando à sala de meu colega, li a questão da prova, que dizia:
"Mostre como pode-se determinar a altura de um edifício bem alto com o
auxilio de um barômetro. " A resposta do estudante foi a seguinte:
 
"Leve o barômetro ao alto do edifício e amarre uma corda nele; baixe o
barômetro até a calçada e em seguida levante, medindo o comprimento da
corda; este comprimento será igual à altura do edifício."
 
Sem dúvida era uma resposta interessante, e de alguma forma correta,
pois satisfazia o enunciado. Por instantes vacilei quanto ao
veredicto.
 
Recompondo-me rapidamente, disse ao estudante que ele tinha forte
razão para ter nota máxima, já que havia respondido a questão completa
e corretamente.
 
Entretanto, se ele tirasse nota máxima, estaria caracterizada uma
aprovação em um curso de física, mas a resposta não confirmava isso.
 
Sugeri então que fizesse uma outra tentativa para responder a questão.
 
Não me surpreendi quando meu colega concordou, mas sim quando o
estudante resolveu encarar aquilo que eu imaginei lhe seria um bom
desafio.
 
Segundo o acordo, ele teria seis minutos para responder à questão,
isto após ter sido prevenido de que sua resposta deveria mostrar,
necessariamente, algum conhecimento de física. Passados cinco minutos,
ele não havia escrito nada, apenas olhava pensativamente para o forro
da sala.
 
Perguntei-lhe então se desejava desistir, pois eu tinha um compromisso
logo em seguida, e não tinha tempo a perder. Mais surpreso ainda
fiquei quando o estudante anunciou que não havia desistido. Na
realidade tinha muitas respostas, e estava justamente escolhendo a
melhor.
 
Desculpei-me pela interrupção e solicitei que continuasse.
 
No momento seguinte ele escreveu esta resposta:
 
"Vá ao alto do edifico, incline-se numa ponta do telhado e solte o
barômetro, medindo o tempo t de queda desde a largada até o toque com
o solo. Depois, empregando a fórmula h = (1/2)gt^2 , calcule a altura
do edifício."
 
Perguntei então ao meu colega se ele estava satisfeito com a nova
resposta, e se concordava com a minha disposição em conferir
praticamente a nota máxima à prova. Concordou, embora sentisse nele
uma expressão de descontentamento, talvez inconformismo.
 
Ao sair da sala lembrei-me que o estudante havia dito ter outras
respostas para o problema. Embora já sem tempo, não resisti à
curiosidade e perguntei-lhe quais eram essas respostas.
 
"Ah, sim!" - disse ele - "há muitas maneiras de se achar a altura de
um edifício com a ajuda de um barômetro." Perante a minha curiosidade
e a já perplexidade de meu colega, o estudante desfilou as seguintes
explicações.
 
"Por exemplo, num belo dia de sol pode-se medir a altura do barômetro
e o comprimento de sua sombra projetada no solo, bem como a do
edifício".
 
Depois, usando-se uma simples regra de três, determina-se à altura do
edifício. "Um outro método básico de medida, aliás bastante simples e
direto, é subir as escadas do edifício fazendo marcas na parede,
espaçadas da altura do barômetro. Contando o número de marcas ter-se-á
a altura do edifício em unidades barométricas".
 
Um método mais complexo seria amarrar o barômetro na ponta de uma
corda e balançá-lo como um pêndulo, o que permite a determinação da
aceleração da gravidade (g). Repetindo a operação ao nível da rua e no
topo do edifício, tem-se dois g's, e a altura do edifício pode, a
princípio, ser calculada com base nessa diferença.
 
"Finalmente", - concluiu, - "se não for cobrada uma solução física
para o problema, existem outras respostas. Por exemplo, pode-se ir até
o edifício e bater à porta do síndico. Quando ele aparecer diz-se:
"Caro Sr. síndico, trago aqui um ótimo barômetro; se o senhor me
disser a altura deste edifício, eu lhe darei o barômetro de presente."
 
A esta altura, perguntei ao estudante se ele não sabia qual era a
resposta 'esperada' para o problema. Ele admitiu que sabia, mas estava
tão farto com as tentativas dos professores de controlar o seu
raciocínio e cobrar respostas prontas com base em informações
mecanicamente arroladas, que ele resolveu contestar aquilo que
considerava, principalmente, uma farsa.
 
"Não basta ensinar ao homem uma especialidade, porque se tornará assim
uma máquina utilizável e não uma personalidade. É necessário que
adquira um sentimento, um senso prático daquilo que vale a pena ser
empreendido, daquilo que é belo, do que é moralmente correto."
(Albert Einstein)

Offline Alenônimo

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Re: Quebrar Paradigmas
« Resposta #1 Online: 24 de Agosto de 2007, 20:10:54 »
Olha… o texto até que é interessante… Mas o problema é que a imensa maioria das vezes em que alguém tenta quebrar um paradigma é justamente para falar merda.

Nesse caso a prova tem como objetivo avaliar as capacidades do aluno quanto à Física e, portanto, qualquer resposta que use a Física para chegar ao objetivo pode (em teoria) ser aceita, mesmo que seja uma resposta ortodoxa. Perceba que a resposta ainda está dentro dos paradigmas, pois neste caso o paradigma é que a resposta seja obtida por meio da Física. O problema é quando se tenta responder uma questão de Física com uma resposta de História ou Geografia só porque o mané quer mudar os paradigmas.

Tinha uma discussão a pouco tempo atrás sobre Matemática e a capacidade das pessoas de usá-las. Falava-se das mudanças dos enunciados que começaram a dar a resposta de maneira fácil ou de enunciados que tratavam mais de responsabilidade social do que de Matemática em sí. Justificam isso como "mudar os paradigmas" e isso faz um belo desserviço para a população.

Todas as vezes que eu ler que se deve mudar os paradigmas, vou assumir como algo no nível da pseudociência porque quando se tenta mudar os paradigmas de maneira genuína, as pessoas não comentam que estão tentando mudar os paradigmas. E quando se "fala" em mudar os paradigmas, provavelmente é alguém tentando fazer merda.
“A ciência não explica tudo. A religião não explica nada.”

Offline Eleitor de Mário Oliveira

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Re: Quebrar Paradigmas
« Resposta #2 Online: 24 de Agosto de 2007, 22:09:42 »
Tem razão, Alê! Mas não fui eu que dei o título do texto.

Offline Thufir Hawat

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Re: Quebrar Paradigmas
« Resposta #3 Online: 25 de Agosto de 2007, 00:29:14 »
 :histeria:
Aliás, o título do tópico ficou perfeito na área em que está!
Na maioria das vezes em que alguém fala em "Quebrar paradigmas" hoje em dia, não passa de "Papo Furado"
 :histeria:

Falando sério agora: Parece ser mais uma daquelas histórias inventadas pra mostrar que pessoas "verdadeiramenete criativas" driblam o vestibular... como as da redação sobre o lápis e a borracaha ("O que o lápis escreveu a borracha apagou.") ou sobre o computador ("delete") que quem conta diz que tiveram nota máxima, ou aquela Qual o comprimento do segmento de reta? ("o dobro da metade"). O que ninguém explica é que professor cretino escreve questões com enunciados tão toscos ("Mostre como pode-se determinar a altura de um edifício bem alto com o
auxilio de um barômetro. "  ::)), ou sugere temas tão amplos para redações.
Sempre surge uma dessas, nem que seja repetida ou variação da anterior, para "provar" que o vestibular é falho, não mede a verdadeira inteligência/capacidade/criatividade do aluno...blábláblá...exclusão...indústria do cursinho...blábláblá...

Sem contar que o texto não fala porra nenhuma de quebra de paradigma. Que paradigma(s) que o tal aluno quebrou? Só o que ele fez foi arranjar um monte de maneiras estúpidas de se desperdiçar um bom barômetro.
« Última modificação: 25 de Agosto de 2007, 02:22:07 por Thufir Hawat »
Archimedes will be remembered when Aeschylus is forgotten, because languages die and mathematical ideas do not. "Immortality" may be a silly word, but probably a mathematician has the best chance of whatever it may mean.
G. H. Hardy, in "A Mathematician's Apology"

 

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