Costumo dizer que às vezes tenho vontade de socraticamente parar as pessoas na rua e perguntar: “E se o Brasil perdesse a Amazônia, que diferença isso faria na sua vida?” Porque eu não consigo pensar em nenhuma. Exceto que se algum povo menos burocrático a ocupasse talvez eu pudesse comprar alguns produtos novos.
Essa postura em relação à Amazônia é só um sintoma de um condicionamento geral muito fácil de observar aqui:
o brasileiro, por mais pobre e impotente que seja, sempre discute qualquer assunto do ponto de vista do governante, nunca do governado. É o que eu chamo “mentalidade imperial”. Se você vai escrever um poema, fazer um espetáculo de dança ou mesmo fritar uns pastéis é tudo pelo Brasil,
é sempre em função de um suposto projeto de país. E ninguém parece perceber que nada faria mais bem ao Brasil do que parar de tratá-lo como um projeto e começar a tratá-lo como um dado. O Brasil não é um sonho. É um aglomerado político de cidades. A famosa “realidade” não é necessariamente desdentada; realidade é o que quer que esteja à sua volta. É melhor fritar um bom pastel porque ele é um bem, e não porque o bom pastel é bom para o Brasil. Ele é bom para quem vai comê-lo e bom para o artista que o fez. Não existe nenhuma maneira de um aglomerado político se beneficiar de um pastel.
É por isso também que não acho apropriado fazer a oposição entre individualismo e coletivismo. O bem feito ao indivíduo é tangível, real, seja ele feito a si mesmo ou a outro. Mas o bem feito “ao Brasil” não é um bem feito ao coletivo: é um ato vazio feito em nome de uma pura abstração e portanto não é bem nenhum. Chamar o Brasil de “coletivo” é um truque retórico que perverte a natureza do altruísmo. E não é possível dizer que o Brasil é cada um dos indivíduos sem querer lhes impor algo que é meramente convencional.
http://www.oindividuo.com/2007/09/04/chega-de-contribuir-para-um-brasil-melhor/(Grifo meu)