A América em rota de colisão com o Islam
por Daniel Pipes em 14 de setembro de 2007 Como vai a “Guerra contra o terror”? Alguém poderia pensar que a ausência de bem-sucedidas e dramáticas operações terroristas contra ocidentais desde os bombardeios de Londres em 2005 seria animadora. Mas uma atmosfera de abatimento predomina. Uma recente e muito divulgada pesquisa da Foreign Policy magazine, conduzida entre 108 especialistas americanos, incluindo a mim, descobriu que meros 6% concordavam com a idéia de que “os Estados Unidos estão vencendo a guerra contra o terror”. Acachapantes 84% dos entrevistados discordaram.
Este negativismo reflete duas realidades gêmeas: o islamismo (fora do Irã) está crescendo por toda parte, enquanto o mundo civilizado está cometendo erros profundos – culpa-se a si mesmo pelo ódio muçulmano, subestima e apazigua o inimigo. Várias tendências se revelam:
- Governos negociam com organizações terroristas islâmicas, tais como o Hezbollah e o Hamas.
- Instituições influentes (imprensa, universidades, etc.) aceitam islâmicos não-violentos como parte da solução.
- A esquerda faz causa comum com o islamismo contra seus oponentes capitalistas/judaico-cristãos.
Mas na guerra também há boas notícias, e elas dizem respeito ao aprofundamento da educação e à difusão da atenção e percepção do problema entre um número crescente de ocidentais, especialmente entre a direita, quanto à natureza da guerra e do inimigo. Os americanos estão lendo livros, assistindo documentários, mantendo-se a par das notícias e envolvendo-se de maneira ativa.
Por exemplo, a expressão “Guerra contra terror”, amplamente aceita seis anos atrás, hoje é geralmente vista como obsoleta porque confunde uma tática com o inimigo (apesar de continuar a ser usada por falta de consenso quanto a outra que a substitua).
Tampouco algum alto-funcionário americano repetiria hoje qualquer coisa semelhante à análise do então Secretário de Estado Colin Powell um dia após os atentados de 11 de setembro de 2001, na qual ele dizia que os ataques terroristas “não deveriam ser vistos como algo feito pelos árabes ou islâmicos; foi algo feito por terroristas”.
Em vez de refutar uma tolice como essa, os conservadores debatem uma questão que mal existia no pré-11/09, mas que conduz a uma observação atenta por suas implicações na formulação de políticas. De um lado se colocam aqueles de nós que vemos o mundo muçulmano atravessando uma crise temporária e buscamos meios para ajudar a modernizar a sua religião, a fim de que os muçulmanos possam florescer. Do outro lado, colocam-se aqueles que vêem o Islam como um irredimível culto da morte e daí buscam proibir o Islam e desembaraçar-se dos muçulmanos.
De maneira mais ampla, o contínuo e intenso debate público sobre o Islam criou um conjunto de cidadãos muito mais informados. Antes do 11/09, poucos americanos conheciam termos tais como jihad e fatwa, e muito menos ijtihad, dhimmitude, ou burqa.
- Ainda menos eram os capazes de discutir versos corânicos ab-rogados ou de ter opiniões a respeito da natureza islâmica dos “assassinatos de honra”. Todavia, esses assuntos são agora discutidos com propriedade por bloggers, apresentadores de talk-shows e até mesmo nos departamentos de polícia.
No mês passado, o Departamento de Polícia da Cidade de Nova York (NYPD) divulgou um relatório impressionante, "Radicalização no Ocidente: A Ameaça Doméstica," demonstrando que o terrorismo tem origem nos arautos intelectuais. De acordo com o NYPD, de onde vem o processo de radicalização? A "ideologia jihadista ou jihadi-Salafi é a força condutora que motiva" muçulmanos jovens e nascidos no Ocidente a se engajarem em terrorismo contra seus próprios países de origem.
Seis anos atrás, nenhum departamento de polícia faria tal afirmativa – e muito menos usaria termos tais como “ideologia jihadi-Salafi”. De maneira interessante, o NYPD reconhece que precisou de tempo para alcançar este nível de sofisticação: “No processo onde antes nós definíamos o indicador inicial da ameaça no ponto em que um grupo terrorista iria realmente planejar um ataque, nós agora mudamos nosso foco para um ponto muito anterior”, i.e., para o começo do processo de radicalização.
Mas a despeito desses avanços, os comentaristas esquerdistas repetem afirmações incorretas e inexatas sobre “todos os americanos” sofrerem de “uma imensa e profunda ignorância a respeito do Islam” (tal como colocou, de forma irônica, o Rabino Eric Yoffie, presidente da Union for Reform Judaism, enquanto falava em uma convenção islâmica).
Eu sustento a tese de que o resultado da “guerra contra o terror” terá menos a ver com avanços na aviônica ou com bem-sucedidas ações de inteligência e mais com o grau de entendimento com que pessoas civilizadas percebam a natureza do seu inimigo. Isto implica os esquerdistas lembrarem, tal como assinalou o jornalista canadense Salim Mansur: “A democracia liberal é uma ideologia não menos munida de armas que a ideologia islâmica”. O que nos reserva o futuro: o slogan de 2001, “United We Stand”, ou mais das atuais rupturas profundas?
A resposta pode bem ser decisiva. A história me dá alguma razão para o otimismo, pois até agora as democracias ocidentais prevaleceram. Para que isso ocorra novamente, aprender sobre o Islam será parte da preparação exigida.
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