Autor Tópico: Cérebros e genomas como suportes de informação  (Lida 498 vezes)

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Offline Buckaroo Banzai

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Cérebros e genomas como suportes de informação
« Online: 26 de Setembro de 2007, 02:47:20 »
  • Em algum lugar nas selvas escaldantes do Período Carbonífero emergiu um organismo que, pela primeira na história do mundo, possuía mais informação em seu cérebro do que em seus genes.

    - Carl Sagan, em Os Dragões do Éden


Um réptil do Carbonífero, ilustração de John Sibbick.


Temos cerca de 25.000 genes, com uma similaridade de algo próximo de 99-94% com os genes dos chimpanzés. Camundongos tem também aproximadamente esse número de genes, e a similaridade genética conostco é de aproximadamente 85%. Também compartilhamos aproximadamente metade dos nossos genes com seres variados como moscas, vermes e bananas.

Esses fatos me fazem pender para o lado do cérebro, vivência e aprendizagem nas questões de psicologia humana, em oposição a algo mais fortemente moldado por variações genéticas determinando variações não-anômalas significativas, seja entre indivíduos, populações, ou entre os sexos.

Isso de forma alguma significa que a evolução não tem papel na determinação do comportamento humano. Inegavelmente tem, não só no desenvolvimento da cultura, mas também atuando sobre os genes. Mas na medida em que a capacidade de armazenamento de informação, de aprendizado, de flexibilidade comportamental cresce nos cérebros no decorrer da evolução, mais difícil se torna para a seleção atuar sobre genes de maneira signficativa, principalmente alterando o comportamento.

Talvez, especulo, uma evidência disso seja que, segundo análises estatísticas recentes, os chimpanzés sofreram mais efeito da seleção natural sobre os genes do que nós desde que as linhagens se separaram, há algo entre 10 e 5 milhões de anos, apesar de termos tido o potencial populacional para ter sofrido muito mais seleção por nos reproduzirmos muito mais rapidamente, termos populações maiores, tudo isso representando mais variação genética, fornecendo uma maior quantidade de matéria-prima (potencial) para a seleção natural.

O motivo é bastante compreendido quando o assunto é medicina: freqüentemente se vê em fóruns de discussão tópicos sobre se o homem estaria a salvo da seleção natural por causa dos avanços da medicina nos últimos tempos. Mas isso não vale apenas para essa seleção negativa, que eliminaria os "genes ruins", relacionados à deformidades e etc, mas algo similar também ocorre para características que dessem vantagem reprodutiva.

Se um indivíduo pode aprender a reproduzir um comportamento que observa, seja adaptativo ou não, ele não precisa de genes determinando esse comportamento. Se esse comportamento é adaptativo, indivíduos portadores dos genes que o determinam não tem maior vantagem reprodutiva do que indivíduos que simplesmente aprenderam o mesmo hábito. E a transmissão genética do comportamento/hábito está em desvantagem imensurável em comparação à transmissão não-genética (que Dawkins chamaria de memética) numa espécie como a nossa. O gene depende da reprodução dos indivíduos portadores; inicialmente, surge sozinho, e em heterozigose. O meme se reproduz independentemente do indivíduo, e pode se espalhar pela população durante a mesma geração, e ser passado para as próximas. A fixação de um gene benéfico na população (isso é, o gene se tornar presente em todos ou praticamente todos os indivíduos da população), em estimativas otimistas, favoráveis a essa fixação (mas sem considerável declínio populacional), leva cerca de 300 gerações. Mais genes sob seleção ao mesmo tempo, podem tornar isso ainda mais lento.

Por outro lado, os memes não são grandes competidores dos genes quando o assunto são características não-comportamentais. Evolução de idéias, na maior parte da história da espécie humana, não adiantou muito para salvar os seres humanos de vírus, bactérias e outros parasitas, tendo apenas um papel menor, na medida em que os humanos intuiam como evitar infecções, sobre hábitos saudáveis. E esse tipo de situação, bem como outras, de natureza muito mais fisiológica, provavelmente foi bastante significativa na maior parte da história da espécie humana, e ainda é, mais notavelmente nos lugares onde os humanos vivem de maneira mais primitiva, onde até mesmo genes para condições deletérias podem ser de ajuda, como no caso da talessemia sendo vantajosa contra a malária. Há ainda outros aspectos da evolução também só podem ter sido resolvidos por genes: diferenças de tamanho e proporções do corpo, cor de pele, cor dos olhos, cor do cabelo, tipo de cabelo, quantidade de pelos pelo corpo, fisionomias, tolerância à lactose. Há genes até para determinar diferenças "bobas" como nas pálpebras das pessoas, se o lobo da orelha é "colado" no rosto ou solto, se a pessoa consegue dobrar a língua ou não. Estou dando exemplo de genes que já se conhece, de coisas que já se sabe mesmo terem determinação genética.

Os genes também em última instância possibilitam a existência dos memes, criando o cérebro, e tendo atingido o aparente ápice desse substrato até agora com o cérebro humano. Órgão que já li afirmarem ser o mais conservado da espécie, por toda história e distribuição geográfica. E também não poderia ser diferente, se é a nossa principal característica adaptativa, e também uma espécie de adorno sexual, sendo esses dois mecanismos como duas "linhas de defesa" semi-independnetes de sua conservação. Ao mesmo tempo, a sua complexa arquitetura acaba sendo outro entrave, uma vez que, como (se não me engano) mencionou o Steven Pinker em "como a mente funciona", pequenas alterações genéticas (aqui é bom lembrar de como são pequenas as diferenças genéticas entre seres bem distintos) tendem mais a causar problemas do que pequenos avanços ou pequenas diminuições de eficiência. A complexidade nesse caso (e também em vários outros na biologia) é um pouco como aqueles jogos de castelos de cartas, em que a partir de certo ponto é mais fácil causar um desabamento, talvez total, do que aumentar ou diminuir significativamente de forma gradual.

Isso tudo, mais a necessidade da seleção natural (e talvez também sexual) necessariamente sobre genes teve certamente que atuar, aparentemente tornam os genes bases pouco prováveis para a evolução de minúcias do comportamento humano que poderiam ser simplesmente aprendidas, ou diferenças que simplesmente tendem a ser desenvolvidas e que representariam um diferencial reprodutivo genético pífio, tendo como concorrente o cérebro, com uma forma de transmissão hereditária muito mais prolífica em varição e eficiente em propagação.


  • Se cada cérebro humano só fizesse uma sinapse – correspondente a uma estupidez monumental – seriamos capazes de apenas dois estados mentais. Se tivéssemos duas sinapses, 4 estados, três sinapses, 8 estados, e em geral, para N sinapses, 2 estados. Mas o cérebro humano é caracterizado por umas 10 trilhões de sinapses. Por conseguinte, o numero de diferentes estados de um cérebro humano equivale a 2 elevado à essa potência, ou seja – multiplicado por ele mesmo 10 trilhões de vezes. Esse é um numero inconcebivelmente grande, muito maior, por exemplo, do que o numero total de partículas elementares (elétrons e prótons) em todo o universo, que é muito menor do que 2 elevado à potência de 10 trilhões. É em virtude desse imenso número de configurações funcionalmente diferentes do cérebro humano que dois seres humanos, mesmo que sejam idênticos, jamais poderão ser muito parecidos. Esses números enormes também podem explicar algo da imprevisibilidade do comportamento humano.

    - Carl Sagan, em Os Dragões do Éden


Offline Pregador

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Re: Cérebros e genomas como suportes de informação
« Resposta #1 Online: 26 de Setembro de 2007, 09:40:29 »
Tecnicamente uma pessoa pode portar mais informações que o universo (universo menos o indivíduo paradigma)??
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Offline Buckaroo Banzai

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Re: Cérebros e genomas como suportes de informação
« Resposta #2 Online: 26 de Setembro de 2007, 10:57:53 »
Não... simplesmente o número de partículas elementares do universo que é menor do que o número de estados possíveis de um cérebro... mas o universo também tem muito mais informação "em formato" de estados, não simplesmente do número de partículas, mas nas relações de partículas umas com as outras...

PS.: acho que possivelmente essa afirmação despreza a possibilidade de existência de "matéria escura".

 

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