Existiram e existem diferentes formas de organização da economia em diversas sociedades em diversas épocas. Essas formas de organizar a economia receberam várias denominações: feudalismo, capitalismo, escravismo, comunismo primitivo, socialismo, etc. Entretanto, todos esses diferentes sistemas econômicos podem ser classificados em apenas três tipos, segundo Alfred Marshall:
1- Economia "tradicional";
2- Economia de Mando;
3- Economia de Mercado;
Antes de definir como é cada uma, é necessário separar as desigualdades econômicas entre os indivíduos em dois tipos básicos: o primeiro tipo engloba todas as diferenças de rendimentos entre os indivíduos que se devem as suas diferentes produtividades, que por sua vez se devem às diferenças na: aptidão física, mental, intelectual, disposição para o trabalho, empenho, dedicação, ambição, força de vontade, habilidades, cultura etc; a essas desigualdades daremos o nome genérico de
desigualdades naturais. O segundo tipo se refere a todo a sorte de desigualdades sócioeconômicas que não se devem ou não mantém relação imediata com nenhuma destas características acima listadas e a outras correlatas, mas se devem apenas a circunstâncias extrínsecas aos indivíduos; as chamaremos de
desigualdades institucionais e/ou conjunturais.
Assim, a economia "tradicional" é um sistema econômico onde a distribuição dos bens produzidos não se dá necessariamente de acordo com a produtividade de cada indivíduo, ou seja, indivíduos com alta produtividade acabam cedendo parte do que produzem para indivíduos com produtividade menor. Isso se dá porque na economia "tradicional" há vínculos afetivos entre os indivíduos, geralmente devidos ao parentesco ou outro tipo de proximidade. Esse tipo de economia é o que normalmente vigora nas comunidades tribais primitivas. As relações "econômicas" que normalmente vigoram dentro de uma família em nosso meio é outro exemplo de economia "tradicional". Apesar da distribuição dos bens não necessariamente corresponderem à produtividade de cada indivíduo, isso não significa que os indivíduos podem produzir menos de forma proposital para explorarem os mais produtivos, pois a "avaliação" do quanto cada membro da comunidade em questão é capaz de produzir, levando-se em conta sua idade, sexo, condição física e de saúde, capacidade intelectual, etc é muito mais fácil devido à proximidade, ficando mais difícil a burla. Além disso, o próprio vínculo afetivo normalmente leva os indivíduos menos produtivos a procurarem ser o menor peso possível no ombro dos mais produtivos. Em suma, na economia tradicional,
há uma igualdade institucional que está acima da natural.
Como a economia tradicional só ocorrerá se houver vínculos afetivos, de proximidade ou "contratos de ajuda mútua" entre os indivíduos de uma sociedade,
concluimos então que a economia tradicional só é viável em comunidades bastante pequenas, onde todos conheçam todos. O aumento da população causa um maior distanciamento entre as pessoas, fazendo-as perderem o vínculo ou "obrigação" que antes tinham com todos os membros da sociedade, só os mantendo com os mais próximos. Enfim, o aumento da população acaba com a economia tradicional e faz a sociedade entrar em uma economia
predominantemente de mando ou de mercado. Foi de fato isso o que aconteceu no Egito, Mesopotâmia, China, etc casos em que o aumento da população se deveu ao advento da agricultura aliado à fertilidade proporcionada pelos grandes rios.
A economia de mando ocorre quando, ao invés do vínculo afetivo, passa a haver um vínculo de força e dominação entre os indivíduos. Ela ocorre normalmente quando há a conquista de uma tribo ou sociedade por outra, quando grupos ou famílias dentro de uma sociedade se fortalecem (devido a diversos motivos naturais e conjunturais) e passam a impor uma obrigação tributária ou servil aos demais grupos, ou quando os grupos marginalizados dentro de uma população crescente voluntariamente se submetem aos grupos mais fortalecidos em troca de proteção e/ou emprego (quando a população cresce, não há como garantir que todos os grupos recebam os recursos do meio natural de forma quantitativamente ou qualitativamente igual, de forma que os grupos menos "influentes" acabem ficando com as terras menos produtivas). Normalmente, os indivíduos, famílias,grupos, tribos ou sociedades dominantes impõem obrigações aos demais de modo que estes últimos cedem parte do que produzem para os primeiros. Os grupos dominantes criam leis ou regras que dificultam ou mesmo impedem que indivíduos dos demais grupos consigam "ascender" socialmente para que ao menos adquiram o direito de ficar para si com toda a sua produção, de modo que
passa a vigorar uma desigualdade institucional que é maior do que a natural, e com ela não está correlacionada. Mesmo que a origem desse estado de dominação seja devido a uma desigualdade natural entre os diferentes indivíduos, uma vez estabelecido a dominação, os indivíduos dominantes acabam recebendo para si muito mais recursos do que suas aptidões sozinhas permitiriam,e criam as condições institucionais para que seu grupo ou clã se mantenha nesse estado privilegiado mesmo que nas próximas gerações seus membros tenham aptidões naturais inferiores às dos indivíduos dominados.
Em suma, enquanto a condição necessária para haver economia tradicional é a existência de vínculos afetivos entre os indivíduos, a condição necessária para haver economia de mando é a existência de vínculos de dominação entre os indivíduos. Enquanto na economia tradicional os indivíduos mais produtivos concordam em ceder parte de sua produção para os menos produtivos por questões afetivas, na economia de mando os indivíduos cedem parte do que produzem a outros devido a uma imposição à força, contra a sua vontade, de outros.
Tomemos agora uma sociedade em que não há nenhum tipo de vínculo ou "contrato" afetivo entre todos os seus membros, e ao mesmo tempo não há nenhum tipo de dominação ou obrigação imposto à força por parte de nenhum indivíduo sobre outro: que tipo de economia teremos aí?
Bem, se nenhum indivíduo está disposto a ceder bens ou trabalho "de graça" e ao mesmo tempo não é obrigado a ceder bens ou trabalho de graça, a situação econômica que naturalmente emerge disso é uma em que os indivíduos não recebem nem mais e nem menos do que são capazes de produzir e do que efetivamente produziram; nessa situação, a única relação econômica possível entre os indivíduos é uma relação de simples troca de bens, na qual os indivíduos só aceitam ceder determinado bem ou trabalho se houver uma contrapartida da parte dos outros em bens ou trabalho em quantidade e qualidade que ele julga equivalente ao que ele cedeu; não há mais cessão e recebimento de bens, mas apenas troca entre bens de diferentes tipos. Em suma, o tipo de economia que emerge naturalmente quando não há nenhum vínculo afetivo ou de dominação entre os indivíduos envolvidos é a economia de mercado.
Isso explica a sensação que todos nós temos de que o capitalismo é algo natural e os demais sistemas econômicos são artificiais e arbitrários. Tal sensação existe porque a economia de mercado é de fato a situação que naturalmente emerge quando inexiste vínculos entre os indivíduos, sejam esses vínculos de natureza "positiva" ou "negativa".
Podemos assim classificar o "comunismo primitivo" como economia tradicional"; o feudalismo, o escravismo, o "sistema asiático" e o socialismo como economia de mando; e o capitalismo como economia de mercado.
Logicamente, não há uma separação estanque entre estes tipos de economia:numa mesma sociedade podem coexistir economia tradicional, de mando e de mercado. Um exemplo: No Egito antigo, a economia era principalmente de mando, pois uma boa parcela da produção dos camponeses era apropriada pelo Estado (considerado o dono de todas as terras) e o faraó podia forçar os indivíduos a servir "de graça" em obras públicas, além da escravidão. Entretanto, localmente dentro das famílias havia uma economia "tradicional" (como a que temos hoje na grande maioria das famílias, apesar de ser bem mais restrito)e ao mesmo tempo os comerciantes particavam uma economia de mercado, seja internamente ou externamente.
A economia de mercado existe há bastante tempo, mesmo na época da pré-história. A tese usualmente defendida de qua a economia de mercado (o "capitalismo") é algo recente, do século XVI ou XVIII, é inadequada, há não ser se ela pretende afirmar apenas que foi a partir dessa época que a economia de mercado passou a ser o principal tipo de economia nas sociedades ocidentais devido ao avanço lento e gradual das idéias liberais que lutaram contra todos os vínculos institucionais de dominação existentes à essa época.
Falarei quando sobrar mais tempo sobre que tipo de situação teríamos em uma sociedade onde não há nenhum vínculo afetivo ou de dominação entre os indivíduos (todas as sociedades grandes onde vigora a igualdade perante a lei), submetida a três sistemas econômicos: comunismo ( "de cada um segundo sua capacidade, a cada um segundo sua necessidade"

), socialismo (cada qual recebe conforme seu trabalho, mas não pode comprar meios de produção) e capitalismo (cada um recebe conforme seu trabalho e pode comprar meios de produção). Irei explicar por que:
1- O comunismo impede que as pessoas, nessa sociedade, produzam com toda a sua capacidade e vontade;
2- O socialismo impede que os recursos econômicos, dentro de uma sociedade, produzam com o maior potencial, eficácia e eficiência de que são capazes;
3- O capitalismo permite que tanto as pessoas quanto os recursos dêem o melhor de si, porém a um preço: o ressurgimento de uma desigualdade institucional, conjuntural ou sistêmica que tende a fugir da correlação que havia, no início, com as desigualdades naturais, criando uma situação parecida com a economia de mando (apesar de bem menos intensa)que pode acabar prejudicando inclusive a própria possibilidade de muitos indivíduos darem o melhor de si.