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Mianmar transforma escola em prisão e joga vírus em blogs
« Online: 28 de Setembro de 2007, 10:12:55 »
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Mianmar transforma escola em prisão e joga vírus em blogs
Junta Militar já deteve mais de mil pessoas, sendo 800 monges budistas.
Governo bloqueou servidores e atacou com vírus blogs de dissidentes.

A Junta Militar de Mianmar buscar (antiga Birmânia) transformou um colégio nos arredores de Yangun em um centro de detenção para os mais de mil detidos, entre elas 800 monges budistas, por terem participado das manifestações antigovernamentais.


Além do reforço da segurança, houve cortes nas conexões com o exterior do serviço telefônico, a suspensão dos serviços de internet para impedir que se informe ao exterior sobre a dura repressão contra as mobilizações antigovernamentais e ainda jogou vírus em blogs locais.



A escola fica na mesma zona que o presídio de alta segurança de Insein, onde o regime militar mantém a maior parte dos mil presos políticos que organizações humanitárias internacionais dizem que existem no país, segundo testemunhas citadas pela rádio birmanesa.


Yangun amanheceu nesta sexta-feira com a segurança reforçada em pontos estratégicos da cidade e com pelo menos cinco mosteiros cercados para impedir que os monges budistas saíssem e voltassem a liderar as manifestações, que há onze dias desafiam a Junta Militar.


Apesar das fortes medidas de segurança, milhares de pessoas, convocadas pela Liga Nacional pela Democracia (LND), o único partido político que resiste à pressão do governo, se reuniram na área do pagode (templo religioso) de Sule e do Hotel Traders.


Os soldados e agentes antidistúrbios não demoraram a enfrentar os manifestantes para dissolver a concentração, mas, segundo algumas fontes, as pessoas voltaram a se reagrupar em ruas mais distantes.


Pelo menos quinze pessoas morreram, segundo a agência de notícias “Efe”, entre elas monges budistas e dois estrangeiros, cerca de cem ficaram feridas e mais de mil foram detidas pelos corpos de segurança desde quarta-feira, quando começou a dura repressão das manifestações após a proibição das reuniões públicas.


O embaixador australiano em Mianmar, Bob Davis, disse nesta sexta que o número de vítimas é "significativamente maior".


As autoridades birmanesas também impuseram na terça-feira passada o toque de recolher das 21h às 5h (11h30 às 19h30 de Brasília) em Yangun e Mandalay, as duas principais do país


Segundo fontes do regime citadas por emissoras de rádio birmanesas da dissidência, o líder da Junta Militar, general Than Shwe, um especialista na guerra psicológica, se colocou à frente das operações contra as manifestações e foram criados novos regimentos com a missão de submeter aos manifestantes.


Mianmar é governada por um regime militar desde 1962 que não realiza eleições parlamentares desde 1990, quando o partido oficial sofreu uma grande derrota frente ao LND, liderado pela vencedora do prêmio Nobel da Paz Aung San Suu Kyi.

   
 Vírus

O Ministério da Defesa birmanês, através de seu departamento de guerra cibernética, reforçou o seu controle na internet, bloqueando servidores, atacando com vírus blogs de dissidentes e usando agentes para buscar na rede internautas opositores ao regime, segundo testemunhas.


As autoridades ordenaram anteriormente o fechamento de todos os cibercafés do país para impedir que sejam divulgadas informações no exterior sobre a repressão das manifestações pacíficas lideradas pelos monges budistas.


O departamento de guerra cibernética está vinculado ao Escritório de Serviços Informáticos do Ministério da Defesa e tem como função, entre outras, de vigiar as conversas telefônicas e os e-mails de membros da oposição.


Segundo Desmond Ball, especialista australiano em inteligência militar, os equipamentos - fornecidos por Cingapura - "são muito avançados e são empregados na supressão de qualquer tipo de dissidência".


Dos seus terminais, os espiões birmaneses se multiplicaram para perseguir os comentários de internautas suspeitos em vários jornais on-line, alguns dos quais foram detidos.


Na lista de mensagens, os usuários alertam uns aos outros para não entrar em sites nos quais agentes dos serviços de inteligência instalam links para desviar os que enviam comentários indesejados com endereços de IP anônimos a páginas onde podem ser localizados.


Outra medida foi atacar com vírus publicações dissidentes, como o jornal digital "The Irawaddy", que em algumas ocasiões pede que se instale um programa - para poder atualizar a página - que pode inutilizar o sistema se for baixado.


As autoridades começaram a fechar os cibercafés na quinta-feira, e as operações continuaram hoje. O acesso à internet através dos servidores oficiais foi interrompido, enquanto as linhas telefônicas foram cortadas a partir do meio-dia, hora habitual do início dos protestos.


Os porta-vozes da oposição temem que a Junta Militar encontre um meio de impedir as transmissões da "Voz Democrática de Mianmar", rádio dissidente que transmite de Oslo (Suécia), assim como dos serviços em birmanês da "BBC" e da "Voice of America".

Antes do início da rebelião dos monges, as ligações telefônicas ao exterior nos hotéis de Yangun e outras grandes cidades já eram interceptadas, e quando uma pessoa navegava na internet tinha que entregar a um oficial militar uma cópia da mensagem.


http://g1.globo.com/Noticias/Mundo/0,,MUL138492-5602,00.html

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Re: Mianmar transforma escola em prisão e joga vírus em blogs
« Resposta #1 Online: 28 de Setembro de 2007, 20:50:01 »
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Entenda os protestos em Mianmar
   
Liderados por monges budistas, dezenas de milhares de manifestantes tomaram as ruas de Mianmar (a antiga Birmânia) pedindo democracia e o fim da repressão militar.

Os protestos, realizados há vários dias consecutivos, já são considerados o maior levante popular dos últimos anos contra a junta militar que governa o país do Sudeste Asiático.

O governo já impôs um toque de recolher nas duas principais cidades do país, Yangun (a antiga capital) e Mandalay, proibiu a reunião de grupos de mais de cinco pessoas e colocou tropas para patrulhar ruas e templos.

Há temores de que se repitam os episódios de 1988, quando as últimas manifestações pró-democracia realizadas em Mianmar foram reprimidas violentamente pela junta militar, em confrontos que deixaram cerca de 3 mil mortos.

Saiba mais sobre o que provocou os protestos, quem são os envolvidos e o que esse levante pode significar para o país do Sudeste Asiático.

O que provocou os protestos?

Em 15 de agosto, o governo de Mianmar decidiu aumentar o preço do combustível. Tanto o preço do petróleo quanto o do óleo diesel dobraram, e o preço gás natural comprimido - usado em ônibus - aumentou cinco vezes.

Esses aumentos de preços tiveram um forte impacto na população de Mianmar. Eles acabaram provocando um aumento nos preços do transporte coletivo e em gêneros de primeira necessidade, como arroz e óleo de cozinha.

As manifestações iniciais foram lideradas por ativistas pró-democracia e ocorreram em Yangun (ex-Rangum), a antiga capital e principal cidade do país.

No dia 29 de agosto, cerca de 400 pessoas marcharam pelas ruas da cidade, no que foi, até aquele momento, a maior manifestação realizada no país em vários anos.

O governo militar de Mianmar agiu rapidamente para sufocar os protestos e prendeu dezenas de ativistas.

No entanto, continuaram a ser realizados protestos em diversas partes do país.

Por que os monges estão envolvidos nos protestos?

Muitos monges começaram a participar dos protestos depois que soldados reprimiram de forma violenta uma manifestação pacífica na cidade de Pakokku, no centro do país, no dia 5 de setembro.

Nesse episódio, pelo menos três monges ficaram feridos. No dia seguinte, membros das forças de segurança de Mianmar foram capturados por monges de Pakokku e mantidos reféns por algum tempo.

Os monges também deram um prazo, até 17 de setembro, para que o governo pedisse desculpas pelo episódio de violência.

No entanto, o governo não se manifestou sobre o caso. Quando o prazo chegou ao fim, os monges começaram a protestar, em número cada vez maior. Eles também se negaram a oferecer seus serviços religiosos a membros da junta militar e seus familiares.

Desde então, têm sido realizados protestos diários, tanto em Yangun quanto em outras cidades. As manifestações ganham a adesão de mais pessoas a cada dia e já envolvem dezenas de milhares de monges.

A participação dos monges nos protestos é muito importante, porque há centenas de milhares deles em Mianmar e porque são venerados no país.

Historicamente, os religiosos têm papel importante em protestos políticos em Mianmar.

Essa influência fez com que membros do governo tentassem cortejar muitos religiosos de alta hierarquia. O fato de esses religiosos terem escolhido silenciar é interpretado por muitas pessoas como um sinal de que eles aceitam os protestos.

Analistas acreditam que qualquer ação violenta contra os monges poderá provocar um levante nacional de grandes proporções.

Os protestos ainda são pelo pedido de desculpas exigido pelos monges?

Para alguns monges, sim. No entanto, para outros, a questão já foi muito além disso.

Um grupo denominado Aliança de Todos os Monges Budistas da Birmânia passou a liderar os protestos. Em 21 de setembro, esse grupo divulgou uma declaração em que descreve a junta militar que governa o país como "o inimigo do povo".

Eles prometeram manter os protestos até que tenham "varrido a ditadura militar da terra da Birmânia". Também fizeram um apelo para que a população de todo o país se una às manifestações.

Em uma das marchas, os manifestantes passaram perto da casa da principal líder da oposição, Aung San Suu Kyi - que está em prisão domiciliar -, ligando claramente o movimento liderado pelos monges ao desejo de mudanças no governo.

Outras pessoas estão aderindo aos protestos?

Nos primeiros dias de protestos, a população não parecia estar envolvida. Segundo analistas, as pessoas estavam com muito medo de sofrer retaliações do governo.

No entanto, isso foi mudando gradualmente, à medida que as manifestações aumentaram.

Imagens de um dos protestos iniciais mostravam pessoas alinhadas ao longo das ruas enquanto os monges marchavam, formando uma corrente para protegê-los de qualquer retaliação dos soldados.

Em 24 de setembro, milhares de pessoas responderam à convocação dos monges e aderiram a um grande protesto em Yangun.

Membros da Liga Nacional pela Democracia, o partido de Aung San Suu Kyi, que no início se distanciaram das manifestações, agora também já aderiram aos protestos.

Já haviam sido realizados protestos como esses em Mianmar?

Os últimos protestos em larga escala no país haviam sido realizados em 1988, durante um levante popular.

Na época, os protestos foram provocados pela decisão do governo militar de desvalorizar a moeda, o que arruinou financeiramente muitas pessoas.

Aqueles protestos foram iniciados por estudantes e, gradualmente, ganharam a adesão de monges e da população.

A tensão culminou com um levante nacional no dia 8 de agosto de 1988, quando centenas de milhares de pessoas marcharam pelas ruas do país para exigir uma mudança no governo.

A junta militar enviou tropas para sufocar o protesto. Acredita-se que pelo menos 3 mil pessoas morreram nos confrontos.

O que diz o governo sobre os protestos?

Depois de manter o silêncio no início, o governo militar disse que está pronto para "agir" e impôs medidas para conter os protestos.

No dia 25 de setembro, foi declarado um toque de recolher em Yangun e Mandalay, com vigência de 60 dias, no período do anoitecer até o amanhecer. Também foi proibida a reunião de grupos de mais de cinco pessoas. Soldados e tropas de elite foram colocados nas ruas e nos templos.

Os líderes militares do país ficam baseados na nova capital, Nay Pyi Taw, o que os mantêm um pouco afastados dos protestos, realizados principalmente em Yangun e outras cidades.

No entanto, muitos temem que se repitam os episódios de violência de 1988.

http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2007/09/070926_mianmarentenda_ac.shtml

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Entenda a influência dos monges em Mianmar
 
Os monges são muito respeitados em Mianmar porque entre 80% e 90% da população do país é budista e mesmo os que não seguem a "carreira" de monge normalmente entram para as ordens durante períodos curtos, o que dá aos mosteiros um papel importante na sociedade.

Existe um mosteiro em cada vilarejo do país, e os monges exercem o papel de líderes espirituais da comunidade, de acordo com o jornalista Myint Swe, do serviço birmanês da BBC.

Eles dão orientação religiosa e desempenham funções importantes em casamentos e funerais. Como recompensa por esses serviços, recebem doações da população.

Os monges são proibidos de lidar com dinheiro, então dependem totalmente das doações. A toda noite de lua cheia, eles também recebem doações de artigos como os hábitos que vestem.

Se um monge recusa uma doação, está negando ao doador a possibilidade de ganhar um "crédito" espiritual: "a mais séria punição que pode ser recebida de um monge budista", segundo Myint Swe.

É por isso que o anúncio, pelos monges que têm participado de protestos em Mianmar, de que vão recusar todas as doações dos militares que governam o país - cuja maioria também é budista - teve um efeito tão poderoso, afirma o jornalista.

"O governo quer a imagem de que é piedoso e ajuda os monges", conta Myint Swe.

'Férias' no mosteiro

Existem entre 400 mil e 500 mil monges em Mianmar, um país com 53 milhões de habitantes, mas muitos birmaneses passam temporadas de algumas semanas nos mosteiros ao longo de suas vidas para ganhar "créditos" espirituais.

Myint Swe disse que ele próprio entrou para mosteiros três vezes em sua vida adulta, permanecendo nas ordens por algumas semanas em cada ocasião.

"O budismo é muito individualista - você tem de trabalhar para a sua própria libertação", diz o historiador birmanês Aung Kin.

Um mosteiro não apenas oferece orientação espiritual, mas também cumpre um papel prático na sociedade birmanesa.

Entrar para um mosteiro quando criança é uma forma barata de se obter uma educação escolar em Mianmar.

Embora as escolas sejam gratuitas no país, gastos adicionais - com uniformes, por exemplo - podem representar um obstáculo para as famílias pobres.

E alguns pais preferem enviar seus filhos aos mosteiros durante as férias escolares enquanto estão trabalhando, diz Myint Swe.

Muitos dos que optam pelo budismo como carreira fazem isso por razões financeiras e dividem as doações com membros da família, diz Aung Kin.

Mas para se tornar monges, os noviços têm de passar por exames religiosos e respeitar mais de 220 restrições.

Existe uma longa tradição de militância política entre os monges birmaneses. Historicamente, eles vêm liderando protestos contra autoridades impopulares, desde os tempos do domínio britânico na década de 1930 até a última campanha democrática em 1988.

Este papel político tem sua origem nos tempos da monarquia birmanesa, que ficou no poder até o final do século 19. Nesse período, os monges atuavam como intermediários entre o monarca e o público, e faziam lobby junto ao monarca contra medidas impopulares, como impostos altos, explica Aung Kin.

Segundo o historiador, os monges assumiram uma postura de confronto durante o período colonial, em protesto contra a recusa dos estrangeiros de retirar os sapatos nos templos.

Aung Kin, no entanto, diz que apenas 10% dos monges birmaneses são politizados, e muitos dos mosteiros podem não estar a par da agitação que toma conta do país no momento.

Se todos se mobilizassem, no entanto, os monges poderiam representar um grande desafio aos militares, e sua influência moral na sociedade pode incentivar muitos a aderir aos protestos.

http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2007/09/070926_monges_importancia_mv.shtml

BUDISMO
O budismo é não-violento, não dogmático e meditativo
Não é centrado em um Deus
Tem como objetivo alcançar uma compreensão profunda da verdadeira essência da vida
Há duas escolas: a Theravada ou Hinayana (sul e sudeste da Ásia) busca a libertação do desejo e do sofrimento)
A Mahayana (nordeste da Ásia) tem como foco ajudar o outro a alcançar essa liberdade
Mianmar segue a escola Theravada

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Re: Mianmar transforma escola em prisão e joga vírus em blogs
« Resposta #2 Online: 28 de Setembro de 2007, 20:58:24 »
Citação de: G1 - Globo
[...]rádio dissidente que transmite de Oslo (Suécia)

Que coisa horrível!


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Offline Rodion

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Re: Mianmar transforma escola em prisão e joga vírus em blogs
« Resposta #3 Online: 29 de Setembro de 2007, 01:51:02 »
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Em 15 de agosto, o governo de Mianmar decidiu aumentar o preço do combustível. Tanto o preço do petróleo quanto o do óleo diesel dobraram, e o preço gás natural comprimido - usado em ônibus - aumentou cinco vezes.
uma ressalva: o petróleo em myanmar é MUITO, MUITO subsidiado. o aumento nos preços se deu através de um corte em subsídios, não em aumento de taxação nem nada. o que levou a junta a fazê-lo ainda é alvo de especulação. há até quem diga que o objetivo era causar certa turbulência pra justificar medidas mais draconianas do governo. mas vai saber...
"Notai, vós homens de ação orgulhosos, não sois senão os instrumentos inconscientes dos homens de pensamento, que na quietude humilde traçaram freqüentemente vossos planos de ação mais definidos." heinrich heine

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Re: Mianmar transforma escola em prisão e joga vírus em blogs
« Resposta #4 Online: 01 de Outubro de 2007, 21:44:56 »
Mais algumas reportagens sobre o tema

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Editorial: a ditadura antes conhecida como Birmânia

Ao enviar tropas para as ruas e impor um toque de recolher, a junta militar de Mianmá criou o cenário ideal para um pesado choque com ativistas pela democracia. Uma firme e unida resposta internacional, seguindo as diretrizes dadas pelo presidente norte-americano George Bush e a União Européia, na Assembléia da ONU, na terça-feira, é a melhor esperança para encorajar uma mudança pacífica em uma nação que suportou 19 anos de um reinado de medo.

A questão é se os países com maior influência sob os generais de Mianmá – China, Rússia e Índia, que vendem armas para o Exército, assim como os integrantes da Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN, sigla em inglês), vizinhos do país – terão o bom senso de condenar a repressão e exercer as pressões que somente eles podem realizar, com qualquer esperança de um efeito positivo.

Os protestos pacíficos, que começaram mês passado por causa dos aumentos absurdos no preço do combustível, se tornaram realmente ameaçadores para a junta quando os reverenciados monges budistas se uniram. A crescente multidão ganhou voz para expressar descontentamentos e a junta respondeu de maneira previsível e completamente errada. Tropas foram enviadas paras as ruas e há informações que Daw Aung San Suu Kyi, a líder democrata ganhadora do prêmio Nobel, foi removida da prisão domiciliar para a cadeia.

Os EUA, que há muito tempo impõem sanções ao governo de Mianmá, incluindo proibição de importações, vão expandir o veto de visto para líderes de regimes e aumentar os bloqueios financeiros, comentou Bush na ONU. Apesar de não ter sido dito claramente, acredita-se que o plano inclui investigar contas bancárias do regime em Cingapura e outros países do sudeste asiático, tática utilizada anteriormente por Washington e que obteve algum efeito contra a Coréia do Norte. A União Européia também avisou a Junta, que ela poderia sofrer sanções mais duras caso usasse a força para acabar com o movimento pró-democracia.

Essas eram medidas boas e necessárias, mas a grande de evitar o desastre está com China, Rússia e Índia, que estão lucrando através da Junta e permitindo que ela continue no poder. A China, principal parceira comercial de Mianmá e sede dos Jogos Olímpicos de 2008, fortaleceu a venda de armas para Yangon, antiga Rangoon, incentivando a Rússia e a Índia a fazerem o mesmo para balancear a influência chinesa.

Moscou discutiu sobre fornecer reatores de pesquisa nuclear para a Junta, e a Índia, a democracia com a qual os EUA esperam ter uma relação econômica e segura no século 21 – tinha um importante ministro em Mianmá para debater energia, mesmo enquanto os protestos pela democracia aconteciam.

Há sinais de que a China tenha pedido um recuo dos generais, porém, muito mais deve ser feito, incluindo apoiar as sanções das Nações Unidas contra Mianmá, as mesmas que Pequim e Moscou bloquearam até agora. O enviado da ONU para lidar com Mianmá, Ibrahmim Gambari, deve conversar agressivamente com esses países e com os da ASEAN, para persuadir os generais a recuarem.

http://ultimosegundo.ig.com.br/new_york_times/2007/09/26/editadorial_a_ditadura_antes_conhecida_como_burma__1021209.html

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Mianmá, um país eficiente na repressão e corrupção

NOVA YORK- O Brasil é corrupto, mas para lá de Marrakesh é pior em todos os sentidos. O porta-voz da Transparência Internacional no Brasil, Bruno Speck, disse que o país anda de lado na percepção pública de combate à corrupção.  No ranking da organização, o Brasil caiu da posição 70 para a de 72, em uma mudanca que reflete a entrada de mais países. Agora são 180. A nota brasileira subiu de 3,3 para 3,5 este ano (na medição que vai de zero a dez), ou seja, dentro da margem de erro da pesquisa.

O consolo brasileiro: lá embaixo mesmo está Mianmá.  O país dos generais no sudeste asiático -que nos últimos dias voltaram a reprimir pesadamente e matar monges budistas e outros manifestantes pró-democracia e contra a carestia- está no último lugar no ranking de corrupção, ao lado da Somália, um outro buraco nacional, este na África, para lá de Marrakesh.

Os generais de Mianmá são eficientes apenas para efetuar esta combinação atroz de truculência, corrupção, incompetência econômica e paranóia. O Mianmá, a antiga Birmânia, já foi um dos países mais ricos da Ásia, abençoado por seus recursos naturais. Até o começo dos anos 60,  Yangun (a antiga Rangum) era uma cidade sofisticada e cosmopolita. O birmanês U Thant foi secretário-geral das Nações Unidas entre 1961 e 1971.  Desde 1962, no entanto, é o jugo militar.

O quadro é de miséria e de opressão. Cerca de 1/3 da poopulação vive abaixo do nível de pobreza (agravada por crescentes sanções impostas pelos EUA e União Européia), enquanto os generais fecham acordos para vender vastas reservas de gás natural para os vizinhos sedentos por energia, como China e Índia, que, por sua vez, fornecem armas para a junta militar. Apesar das entradas de divisas, os cofres públicos estão vazios e no mês passado, as autoridades sem nenhuma advertência cortaram os subsídios para os combustíveis. O preço das tarifas de ônibus dobrou, o que deflagrou a atual onda de protestos.

Os generais, porém, sempre tiveram dinheiro para seus projetos faraônicos Eles decidiram em 2005 inventar uma nova capital, Naypyidaw, nas montanhas, a 320 quilômetros ao norte de Yangun, para se isolarem ainda mais da população. Lá, os generais construíram suas mansões e campos de golfe, enquanto continuam a destruir seu país. Os heróis da resistência nesta temporada são os monges budistas de Mianmá, cada vez menos plácidos.

http://ultimosegundo.ig.com.br/opiniao/caio_blinder/2007/09/27/mianmar_um_pais_eficiente_na_repressao_e_corrupcao_1022164.html

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China é a grande cúmplice dos generais de Mianmá

NOVA YORK- Em nome dos seus interesses estratégicos e econômicos, a China é um país reacionário, avesso a necessárias mudanças de regime e capaz de se aliar com governos abjetos como a junta militar em Mianmá  -que está matando monges budistas e outros manifestantes pró-democracia. Vou repetir: o país reacionário é a China e não os habituais suspeitos habituais ocidentais, a começar os EUA. O governo Bush desta vez está realmente no lado certo da história com suas denúncias e pressões contra um bando de corruptos trogloditas fardados no sudeste asiático.

Mas esta escalada de violência no país vizinho também representa um desafio ao regime chinês, preocupado em forjar uma nova imagem internacional como um "acionista responsável" da ordem mundial, para usar a expressão de Robert Zoellick, hoje presidente do Banco Mundial e que negociou muito com a China quando atuava na diplomacia do governo Bush.

O mundo civilizado espera uma atitude da China. Na quinta-feira, Bush recebeu o ministro das Relações Exteriores chinês, Yang Jiechi, para uma reunião não-programada na Casa Branca para dar um recado: Pequim deve "usar sua influência" para forçar os militares de Mianmá a promover uma transição para a democracia.

Após lavar as mãos no começo da crise dizendo ser contra a interferência em assuntos internos, Pequim agora faz um pouco de média. Pede que "todas as partes" se contenham, ou seja, tanto os brutamontes armados, como os monges pacifistas.

A incompetência dos militares de Mianmá perturba os chineses mais do que sua brutalidade. Para a China, desenvolvimento e estabilidade são mais importantes do que democracia. O fundamental é que o vizinho garanta os suprimentos energéticos para a China superemergente. O problema é que os governantes de Mianmá transformaram um país com ricos recursos naturais no mais miserável do sudeste asiático. Ali na fronteira chinesa, existe uma fonte de instabilidade.

Os chineses começam a entender que precisam carregar uma parte da carga da governança global e não apenas pegar carona, assegurar seu acesso a recursos energéticos e matérias primas e denunciar os vexames da política externa americana. Hoje os chineses cooperam na luta antiterrorista e finalmente concordaram em participar das operações de pacificação na região sudanesa de Darfur, palco de um genocídio, ao invés de se preocuparem apenas em descolar petróleo.

Aliás, a relutância chinesa para apoiar a intervenção na África (contra os interesses do seu aliado, o governo do Sudão) fez com que fossem lançadas campanhas nos EUA e Europa de boicote aos jogos olímpicos de Pequim em 2008. Os chineses não querem que as túnicas cor de alçafrão ensaguentadas dos monges budistas manchem ainda mais sua imagem quando se empenham em ganhar medalha de ouro de responsabilidade com as Olimpíadas do ano que vem. Só falta combinar a tática com os generais de Mianmá.

http://ultimosegundo.ig.com.br/opiniao/caio_blinder/2007/09/28/china_e_a_grande_cumplice_dos_generais_de_mianma_1023047.html

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Mianmá mostra que religião pode ser uma força do bem

NOVA YORK- Barbaridades são praticadas em nome da religião, de qualquer religião. Hoje o islamismo tem um subproduto, que, para evitar polêmicas maiores, podemos qualificar de defeito de qualidade, associado a fanatismo, extremismo, terror suicida e delírio teológico. Mas é também sinal de intolerância considerar toda manifestação religiosa como atraso. A fé nem sempre remove montanhas ou abjetas ditaduras militares, como a de Mianmá. Mas a resistência heróica e trágica dos monges budistas comprova como a religião pode ser uma força para o bem, um impulso para a modernidade ou no mínimo uma mensagem de que existe uma autoridade maior do que um punhado de generais que governam sem legitimidade moral.

O triunfo de um partido de origens islâmicas na Turquia é uma manifestação desta modernidade. Reacionários são os militares seculares que tiveram veleidades golpistas no primeiro semestre em uma tentativa de preservar o status quo. Hoje na Turquia o Partida da Justiça e Desenvolvimento, do presidente Abdullah Gul e do primeiro-ministro Recep Erdogan, representa não apenas modernidade, mas dinamismo econômico e avanço democrático.

Pobre Myanmar. Vai demorar para pelo menos ser uma Turquia. De fato, é preciso placidez budista nesta espera de liberdade e progresso, mas o ponto a ser enfatizado é que a fé religiosa veio em socorro para quem não possui nenhum destes bens. Claro que não podemos ficar deslumbrados. Ian Buruma, o escritor e jornalista conhecedor de tantos culturas e continentes, lembra que o budismo também pode ser uma justificativa para a violência e xenofobia, como no conflito doméstico em Sri Lanka entre os cingaleses budistas e a minoria tâmil, que segue o hinduísmo.

Mas as religiões amargam estas ambiguidades. Basta ficar ali mesmo na Ásia. A Igreja católica nas Filipinas, por muito tempo abençoou oligarquias, mas seu valoroso desafio foi fundamental para o fim da ditadura de Ferdinand Marcos em 1986.. Como os monges budistas em Mianmá, padres e freiras nas Filipinas deram autoridade moral e coragem para as multidões enfrentaram os tanques da ditadura Marcos. Hoje na China, a fé cristã inspira dissidentes que sonham com um país que seja emergente não apenas na economia, mas também na politica.

No Oriente Médio, devemos lamentar o fanatismo violento de alguns grupelhos ou organizações islâmicas, mas é preciso reconhecer que a mesquita, como a Igreja católica em tempos de ditaduras militares na América Latina, pode ser um bastião de resistência a regimes autoritários e corruptos. Vale advertir que da resistência inflexível existe uma trilha para a subjugação. Guerreiros sagrados islâmicos que combateram bravamente o domínio soviético no Afeganistão depois impuseram as trevas.

Em Mianmá, porém, são os monges budistas que estão nas trevas, com o resto da sociedade.

http://ultimosegundo.ig.com.br/opiniao/caio_blinder/2007/10/01/mianma_mostra_que_religiao_pode_ser_uma_forca_do_bem_1025583.html

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Re: Mianmar transforma escola em prisão e joga vírus em blogs
« Resposta #5 Online: 01 de Outubro de 2007, 21:45:49 »
Ainda bem que eu moro no Brasil... (será que esse "ainda bem" durará muito?)
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"Sunrise in Sodoma, people wake with the fear in their eyes.
There's no time to run because the Lord is casting fire in the sky.
When you make sin, hope you realize all the sinners gotta die.
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Re: Mianmar transforma escola em prisão e joga vírus em blogs
« Resposta #6 Online: 02 de Outubro de 2007, 09:14:33 »
O negócio era invadir este país e depor o governo militar à força.
"O crime é contagioso. Se o governo quebra a lei, o povo passa a menosprezar a lei". (Lois D. Brandeis).

Offline Nightstalker

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Re: Mianmar transforma escola em prisão e joga vírus em blogs
« Resposta #7 Online: 02 de Outubro de 2007, 15:14:43 »
O negócio era invadir este país e depor o governo militar à força.

Infelizmente existe uma tal de ONU que impede isso...
Conselheiro do Fórum Realidade.

"Sunrise in Sodoma, people wake with the fear in their eyes.
There's no time to run because the Lord is casting fire in the sky.
When you make sin, hope you realize all the sinners gotta die.
Sunrise in Sodoma, all the people see the Truth and Final Light."

 

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